Escrito em uma
época em que a superstição e a autoridade eclesiástica exerciam demasiada força
no consciente coletivo e na qual a burguesia ainda se erguia, formando uma nova
classe social, O Discurso do Método,
de René Descartes, revolucionou a filosofia com um pensamento inovador que
implicava no uso da razão como principal meio para encontrar a verdade. Com
isso, a base da ciência atual se formou, transformando o que antes derivava de
práticas de “alicerces pouco firmes” – a magia, a alquimia, a astrologia, entre
outras – em algo que resultava de métodos mais objetivos e práticos, sempre
partindo do princípio da dúvida. Contudo, mesmo sendo um pensamento originado
no século XVII, sua prática ainda é estranha à maioria das pessoas, que
insistem em usar antigos preceitos e ideias derivados do preconceito.
Como Santo
Agostinho em A Cidade de Deus - que argumenta
em sua obra ter certeza da sua própria existência, pois se estivesse errado,
seria necessário existir para tal – Descartes afirma sua própria existência ao
propor que para poder duvidar dela, é necessário existir. Dessa forma, o
filósofo encontra o primeiro princípio para o método que iria desenvolver. O
que chamamos hoje de método cartesiano se trata de quatro práticas que têm como
fim encontrar a verdade absoluta, partindo sempre da dúvida e do questionamento
completo de algo, dividi-lo em tantas partes quanto possível, para então partir
de ideias simples às mais complexas, e por fim revisá-las, de modo a
se chegar a um pensamento livre de ideias concebidas anteriormente.
Contudo, por
mais que o método proposto pelo filósofo seja amplamente utilizado nas
ciências, sua prática no cotidiano ainda não é realizada com frequência. No
Brasil, o deputado Jair Bolsonaro é a prova da falta de qualquer questionamento
por parte da população. Eleito com o maior número de votos no Rio de Janeiro, o
deputado é conhecido por seus discursos homofóbicos e que incitam a violência
contra minorias; o preconceito enraizado que jamais é sujeito de questionamento
propaga esse tipo de ideal.
Em
uma sociedade repleta de preconceito, seja de gênero, religião ou étnico, na
qual as mesmas atrocidades entre seus integrantes voltam a se repetir, seja por
meio de crimes, crueldade ou negligência, pode-se notar como o método
cartesiano ainda apresenta uma discussão atual; a quebra de preconceitos que
insistem em prejudicar o progresso da sociedade em si. Afinal, se depois de
quase quatro séculos, os homens entendessem o que Descartes sugeriu, a
realidade seria, enfim, mais harmoniosa e melhor compreendida.
Victor Suzumura
Direito Noturno
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