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segunda-feira, 20 de abril de 2015

O método e o preconceito


Escrito em uma época em que a superstição e a autoridade eclesiástica exerciam demasiada força no consciente coletivo e na qual a burguesia ainda se erguia, formando uma nova classe social, O Discurso do Método, de René Descartes, revolucionou a filosofia com um pensamento inovador que implicava no uso da razão como principal meio para encontrar a verdade. Com isso, a base da ciência atual se formou, transformando o que antes derivava de práticas de “alicerces pouco firmes” – a magia, a alquimia, a astrologia, entre outras – em algo que resultava de métodos mais objetivos e práticos, sempre partindo do princípio da dúvida. Contudo, mesmo sendo um pensamento originado no século XVII, sua prática ainda é estranha à maioria das pessoas, que insistem em usar antigos preceitos e ideias derivados do preconceito.
Como Santo Agostinho em A Cidade de Deus - que argumenta em sua obra ter certeza da sua própria existência, pois se estivesse errado, seria necessário existir para tal – Descartes afirma sua própria existência ao propor que para poder duvidar dela, é necessário existir. Dessa forma, o filósofo encontra o primeiro princípio para o método que iria desenvolver. O que chamamos hoje de método cartesiano se trata de quatro práticas que têm como fim encontrar a verdade absoluta, partindo sempre da dúvida e do questionamento completo de algo, dividi-lo em tantas partes quanto possível, para então partir de ideias simples às mais complexas, e por fim revisá-las, de modo a se chegar a um pensamento livre de ideias concebidas anteriormente.
Contudo, por mais que o método proposto pelo filósofo seja amplamente utilizado nas ciências, sua prática no cotidiano ainda não é realizada com frequência. No Brasil, o deputado Jair Bolsonaro é a prova da falta de qualquer questionamento por parte da população. Eleito com o maior número de votos no Rio de Janeiro, o deputado é conhecido por seus discursos homofóbicos e que incitam a violência contra minorias; o preconceito enraizado que jamais é sujeito de questionamento propaga esse tipo de ideal.
           Em uma sociedade repleta de preconceito, seja de gênero, religião ou étnico, na qual as mesmas atrocidades entre seus integrantes voltam a se repetir, seja por meio de crimes, crueldade ou negligência, pode-se notar como o método cartesiano ainda apresenta uma discussão atual; a quebra de preconceitos que insistem em prejudicar o progresso da sociedade em si. Afinal, se depois de quase quatro séculos, os homens entendessem o que Descartes sugeriu, a realidade seria, enfim, mais harmoniosa e melhor compreendida.

Victor Suzumura
Direito Noturno

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