A arrogância humana, a retórica e as disputas desnecessárias, a hermenêutica e a função social do Direito são temas nos quais Francis Bacon, com sua obra "Novum Organum", nos faz refletir. Apesar de publicado em 1620, ainda nos remete a noções inerentes ao mundo contemporâneo e à imperfeição humana como uma das causas de tantas asserções falsas em relação ao mundo.
"Nenhum saber é absolutamente seguro", ja dizia Bacon, condenando a visão exageradamente egocêntrica daquele que se considera detentor das verdades. O homem, muitas vezes ludibriado por títulos e aparências, torna-se tão certo de sua "superioridade" que se fecha às oportunidades de aprimoramento. Quantas vezes, nós mesmos, nos deparamos defendendo férrea e cegamente nossas convicções? Passando por cima de qualquer tipo de negação? Arranjando maneiras de adequar casos novos a nossas crenças para assim, não sermos submetidos à constatação do erro? O orgulho é malefício obstruidor do caminho para as verdades absolutas.
Além dessa natureza humana e das imperfeições individuais, na obra, as relações sociais também são consideradas "falsas percepções do mundo" (ídolos) por serem baseadas nas palavras. Pela sua enorme variedade interpretativa, a palavra, muitas vezes, fomenta discussões sofistas as quais valorizam a retórica e a força argumentativa recheada de palavras belas e difíceis porém vazias de significado ou de algum fim prático e útil.
Dissertar a respeito da arrogância do homem e muitas vezes da pobreza temática de debates rebuscados, ditos "cultos", infelizmente me remete ao curso de Direito do qual participo. A gama de conhecimentos adquiridos e o poder advindo dela cria um ambiente propício para o surgimento de pessoas prepotentes e orgulhosas. A altivez as faz se sentir tão "melhores" e "acima de tudo" que acabam se esquecendo do verdadeiro objetivo do Direito. Passam a viver em seus mundos abstratos, da fantasia, e menosprezam a utilização das leis e o bem-estar social. Desperdiçam assim, a grande oportunidade que o Direito proporciona, o que é lamentável. Essas "excelências" certamente seriam criticadas por Francis Bacon. Pertinente.
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