João era o indesejável filho de António, um menino
humilde e tímido que sabia ser grato ao pai, porque afinal, apesar da ausência,
ele o sustentava. Quem tem comida na mesa não reclama e é grato, assim seu pai
havia lhe ensinado e ele, apesar de no fundo se indagar sobre a afirmativa,
obedecia.
Acontece que João não era assim tão sustentado e também
não tinha motivos de ser tão grato. Com 12 anos ele ouviu do “pai”: Já esta na hora
de trabalhar, já tem idade! Dito e feito, o menino atendia o dia inteiro na
vendinha do pai e cansado do dia de labor ia para escola à noite. No começo ele
ajudava com a limpeza e repondo o estoque, depois foi adquirindo mais
responsabilidades, até que já ficava o dia inteiro no comércio enquanto seu pai
ia resolver coisas importantes. Pelo menos era o que ele dizia.
E assim João foi tocando sua vida. Em um sábado de sol, depois
de ter trabalhado religiosamente todos os dias durante um ano, um amigo o
convidou para ir a jogar bola: Vai lá, só hoje seu pai deve deixar, você pode
negociar com ele! Que nada, o pai mandou o moleque deixar de ser vagabundo e ir
trabalhar. Aproveitou logo em seguida para avisar que a partir de agora ia
almoçar trabalhando, afinal não dava para a venda ficar fechada enquanto o
pivete dormia. João começou a responder e logo foi interrompido: As coisas estão
difíceis, agradeça por ter comida.
As coisas estão difíceis. O menino, que via o pai chegar bêbado
todo dia, já quando se preparava para dormir depois da aula , começou a se
questionar se devia ser grato, se as coisas realmente estavam difíceis para não
ter mistura no prato já há seis meses.
Mas depois do pico de raiva, agradeceu. Afinal João já
tava com 18, ele sem estudo e estrutura era livre para sair de casa, e seu pai
era muito bondoso em lhe continuar sustentando.
Graças à liberdade, era só trabalhar um pouquinho mais que poderia
negociar. Toninho não devia ter dinheiro mesmo, afinal era importante e mais
que justo ele dar o mínimo a dívida publ...Há, desculpe-me que essa é outra história, ao bar.
Eduardo Augusto de Moura Souza
Direito Noturno
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