O Positivismo ainda resiste
Apesar
de Alfredo Bosi, no texto O Positivismo
no Brasil: Uma ideologia de longa duração (disponível em http://www.machadodeassis.org.br/abl/media/prosa43c.pdf),
afirmar que, há várias gerações, a cotação do Positivismo tem sido baixa entre
os estudiosos das Ciências Humanas, pode-se constatar que o discurso positivista
ainda subsiste na sociedade brasileira, em especial no senso comum, radicalizado
nas redes sociais; na política, imprensa, educação e também no Judiciário.
O
ideal positivista de manutenção da ordem e vinculação da dignidade ao trabalho
permanece arraigado nas famílias brasileiras e exacerba-se em manifestações nas
redes virtuais contra movimentos sociais e grevistas, os quais ameaçariam a
estabilidade do país, bem como contra os programas sociais, que seriam destinados
a indivíduos supostamente incompetentes e acomodados.
Na
política, o Positivismo prevalece em práticas meramente assistencialistas, que
não fomentam a emancipação do cidadão, tampouco mudanças estruturais efetivas.
O governo Lula, marcado, sim, por políticas públicas emancipatórias,
principalmente aquelas vinculadas à ampliação do acesso à educação superior,
também se valeu de programas assistencialistas como o Bolsa Família, que apenas
oferece um paliativo financeiro a famílias consideradas de baixa renda.
Ademais, o próprio ex-presidente Lula admitiu ter feito “revolução social sem
dar um único tiro, só dando o tratamento adequado ao andar de baixo”
(disponível em http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/04/08/so-o-pt-vai-no-cofre-podre-ironiza-lula-em-ato-em-sp.htm),
ou seja, assim como ditava o pensamento positivista, não se fez, durante o
governo Lula, uma revolução, com assunção direta do poder político pelo povo,
mas se contiveram os ânimos dos desfavorecidos e manteve-se a ordem, a partir do
desenvolvimento de programas sociais.
A
imprensa brasileira, especialmente durante o período atual de crise econômica,
política e social, tem se notabilizado por análises conservadoras,
reducionistas e cientificistas, calcadas no Positivismo. Para exemplificar tal
situação, apresenta-se excerto do texto A
festa acabou, Dilma!, do jornalista Reinaldo Azevedo: “Aquele país que
prendeu uma militante de uma organização terrorista e a submeteu a sevícias não
existe mais. Os procuradores daquele estado de coisas estão todos mortos. Mas,
infelizmente, ainda resiste, como uma doença da alma, os que rejeitam os
fundamentos da democracia e os tomam como um golpe” (disponível em http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-festa-acabou-dilma/).
No trecho em comento, ao considerar, como doentes, aqueles que são contrários
ao processo de impedimento presidencial e ao qualificar, como terrorista, o
movimento de resistência à ditadura militar do qual participava a presidente
Dilma, o autor assume um discurso positivista, tentando reduzir a uma perspectiva
científica a discussão acerca de uma questão deveras complexa como a do impeachment e adotando uma postura
conservadora, de manutenção da ordem na descrição do movimento de enfrentamento
da ditadura no Brasil.
Para
enriquecer a reflexão sobre a influência positivista na educação, recomenda-se
a leitura do artigo Sobre Positivismo e
Educação, de Jamil Ibrahim Iskandar e Maria Rute Leal, o qual se encontra
disponível no seguinte endereço eletrônico: http://www2.pucpr.br/reol/index.php/DIALOGO?dd1=654&dd99=pdf.
Em tal texto, os autores comentam a influência do Positivismo na fragmentação
do currículo; na atribuição de superioridade às Ciências Exatas sobre as
Ciências Humanas; na valorização das tecnologias educacionais, relegando alunos
e professores a plano secundário.
Por
fim, não menos importante, há que se salientar a influência do Positivismo no Poder
Judiciário, o qual ainda pode ser considerado extremamente conservador, em
virtude de não serem incomuns decisões judiciais cientificistas, principalmente
aquelas que denegam direitos aos homoafetivos, considerando a orientação deles
como não natural, anormal.
Marcos Paulo Freire - 1º ano/noturno
Nenhum comentário:
Postar um comentário