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domingo, 17 de abril de 2016



O Positivismo ainda resiste

Apesar de Alfredo Bosi, no texto O Positivismo no Brasil: Uma ideologia de longa duração (disponível em http://www.machadodeassis.org.br/abl/media/prosa43c.pdf), afirmar que, há várias gerações, a cotação do Positivismo tem sido baixa entre os estudiosos das Ciências Humanas, pode-se constatar que o discurso positivista ainda subsiste na sociedade brasileira, em especial no senso comum, radicalizado nas redes sociais; na política, imprensa, educação e também no Judiciário.
O ideal positivista de manutenção da ordem e vinculação da dignidade ao trabalho permanece arraigado nas famílias brasileiras e exacerba-se em manifestações nas redes virtuais contra movimentos sociais e grevistas, os quais ameaçariam a estabilidade do país, bem como contra os programas sociais, que seriam destinados a indivíduos supostamente incompetentes e acomodados.
Na política, o Positivismo prevalece em práticas meramente assistencialistas, que não fomentam a emancipação do cidadão, tampouco mudanças estruturais efetivas. O governo Lula, marcado, sim, por políticas públicas emancipatórias, principalmente aquelas vinculadas à ampliação do acesso à educação superior, também se valeu de programas assistencialistas como o Bolsa Família, que apenas oferece um paliativo financeiro a famílias consideradas de baixa renda. Ademais, o próprio ex-presidente Lula admitiu ter feito “revolução social sem dar um único tiro, só dando o tratamento adequado ao andar de baixo” (disponível em http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2016/04/08/so-o-pt-vai-no-cofre-podre-ironiza-lula-em-ato-em-sp.htm), ou seja, assim como ditava o pensamento positivista, não se fez, durante o governo Lula, uma revolução, com assunção direta do poder político pelo povo, mas se contiveram os ânimos dos desfavorecidos e manteve-se a ordem, a partir do desenvolvimento de programas sociais.
A imprensa brasileira, especialmente durante o período atual de crise econômica, política e social, tem se notabilizado por análises conservadoras, reducionistas e cientificistas, calcadas no Positivismo. Para exemplificar tal situação, apresenta-se excerto do texto A festa acabou, Dilma!, do jornalista Reinaldo Azevedo: “Aquele país que prendeu uma militante de uma organização terrorista e a submeteu a sevícias não existe mais. Os procuradores daquele estado de coisas estão todos mortos. Mas, infelizmente, ainda resiste, como uma doença da alma, os que rejeitam os fundamentos da democracia e os tomam como um golpe” (disponível em http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-festa-acabou-dilma/). No trecho em comento, ao considerar, como doentes, aqueles que são contrários ao processo de impedimento presidencial e ao qualificar, como terrorista, o movimento de resistência à ditadura militar do qual participava a presidente Dilma, o autor assume um discurso positivista, tentando reduzir a uma perspectiva científica a discussão acerca de uma questão deveras complexa como a do impeachment e adotando uma postura conservadora, de manutenção da ordem na descrição do movimento de enfrentamento da ditadura no Brasil.
Para enriquecer a reflexão sobre a influência positivista na educação, recomenda-se a leitura do artigo Sobre Positivismo e Educação, de Jamil Ibrahim Iskandar e Maria Rute Leal, o qual se encontra disponível no seguinte endereço eletrônico: http://www2.pucpr.br/reol/index.php/DIALOGO?dd1=654&dd99=pdf. Em tal texto, os autores comentam a influência do Positivismo na fragmentação do currículo; na atribuição de superioridade às Ciências Exatas sobre as Ciências Humanas; na valorização das tecnologias educacionais, relegando alunos e professores a plano secundário.
Por fim, não menos importante, há que se salientar a influência do Positivismo no Poder Judiciário, o qual ainda pode ser considerado extremamente conservador, em virtude de não serem incomuns decisões judiciais cientificistas, principalmente aquelas que denegam direitos aos homoafetivos, considerando a orientação deles como não natural, anormal. 

Marcos Paulo Freire - 1º ano/noturno

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