E pressionou firmemente
seu polegar no chão, existindo, contudo, entre esse minúsculo lapso de espaço
um inseto, daqueles de serem vislumbrados por Kafka, que tremulava suas ínfimas
patinhas, enquanto o último sopro de vida traqueava-se pela sua massa corpórea.
Muitas foram as sensações sentidas pelo sentimento do garoto no ato da
maltratação maltratada pelo maltratamento da criança. Faça, elucidava a criança
que era interrompida pelas palavras agonizantes do garoto. Não se atreva. Você
pode, faça. Isso é um erro. Era a manifestação do agudo opondo-se ao grave e
este o contrapondo.
E continuou seu
entediante almoço, um pouco de feijão aguado de um lado do prato, um punhado de
arroz de ontem e aquela massa dura com cor de bife configura-se como o próprio.
Picava, mastigava, engulia, ruminava, deglutia. No momento sua mãe postava-se á
sua frente, em pé, lavando a louça e fumando um cigarro. Jovem velha,
cicatrizada pelas mazelas de uma vida árdua, daquelas de desfigurar a mão, ao
invés de só calejá-la, pouco se atentou à atitude da criança, não interrompendo
sua função. O pai se ausentara para comprar cigarro, não deu mais as caras.
E
tirar a vida lhe apeteceu, ou pelo menos o agradou mais do que seu esmiuçado
prato de refeição. Estando o dia propício, adiantou-se para ir matar mais
alguma coisa. Caçar, sim, caçar, bela ideia. Pegou seu estilingue e saiu em sua
empreitada. A conjuntura do dia propício e o estilingue apenas mostravam-se
como elementos acessórios que em hipótese alguma retiraria o desejo do infante.
Avistou
uma maritaca no fio de energia apoiada, tencionou o elástico enquanto apertava
a pedra apoiada na malha de couro entre seu pequeno polegar e seu indicador, em
um movimento de pinça. Acerta ela. Para. Vai logo. Ela é um ser inofensivo. Ela
não tem alma, é só um ser qualquer. Ela faz parte da natureza. Ninguém vai dar
falta.
A
sua massa encefálica produzia uma gama de contradições das quais não se decidir
objetava-se como sua latente situação momentânea. Tentava entender o que era
vida e o que não o era, mas sua limitação material nessa matéria parecia colossal.
Seu infantil cérebro nem suas condições talvez permitissem um dia ter contato
com exposições de Aristóteles, Descartes, Hume, Kant, nem de cientificistas
renomados.
A
pergunta, todavia, estava formulada de modo equivocado. O que o infante deveria
de fato perguntar ao garoto e à criança era menos relacionado a praticar ou não
o ato, do que a verdadeira finalidade de sua ação.
Túlio Boso F. dos Santos - Direito Diurno
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