Quando
o funcionalismo não funciona.
Uma
das coisas que realmente não sou adepto, é a exposição de exemplos pessoas nas
aulas da faculdade; não obstante, achei confluente sobremaneira, quando
estudava em casa, as ideias de solidariedade de Durkheim com algumas reflexões
que me atinham no metro de São Paulo.
Verdade
inquestionável é o papel do professor na formação do individuo. Sustento minha
tese no fato de que as palavras proferidas por eles, caminharão conosco ao
longo dos nossos dias. Eu consigo ainda consigo lembrar de coisas tolas como, “lave
as mãos antes de comer”, “escovem os dentes”, “dividam os lanches com os
colegas”; mas, confesso que se tive o cuidado de salvaguardar algumas palavras,
essas foram elucidadas pelo professor Alberto, em uma frase simples, na
primeira ministração da disciplina de Cálculo 1, na universidade. “Não se
insiram no todo”, ele disse.
Confesso
que a frase não me fez efeito imediato ali no espaço presente da aula, e passou
tão despercebida quanto tantas outras coisas dificílimas que também me passavam
despercebidas. Eu era um garoto do interior, que acabara de mudar à São Paulo,
para cursar engenharia, curso este que mais tarde abandonaria para adentrar à
unesp.
Então,
ao findar da aula, quando tomava o metrô pela primeira vez, fui perceber a
dimensão das palavras proferidas pelo docente. Desci na estação da Sé e para o
meu espanto, me percebi envolto ao “mar de gente”; foi assim que eu perdi meu
rosto, minhas vontades, minhas tristezas, minhas alegrias, minha valoração, e
aquele exato momento me fez perceber como eu me tornara somente uma unidade, em
meio a infinitas, na multidão. Ali estavam todos, mas não havia ninguém. Nunca
me sentira tão só, em meio à tantas pessoas.
Com
isso, inicio minha crítica à conceituação de solidariedade orgânica elucidada
por Durkheim. Para o filósofo, a divisão e especialização do trabalho promove a
solidariedade orgânica, que é responsável pela coesão social; tal coesão se da
pela criação de laços indiretos de interdependência, já que uns profissionais
dependeriam de outros, cada qual em sem campo de atuação, o que seria
responsável pela manutenção da unidade, o fator coesivo da sociedade. Não obstante,
tendo à concordar com os socialistas franceses da época, de que tal
especialização do trabalho, na promoção de uma individualidade acentuada tende
ao rompimento do tecido social. Nesse sentido, a ideia de Durkheim, de
solidariedade orgânica na unidade do corpo social, funciona tão só, na
preservação da individualidade, mas é extremamente falaciosa se aplicada como
elemento à manutenção da unidade do corpo social; pelo contrário, a divisão e
especialização do trabalho, característica em sociedades economicamente desenvolvidas,
é fruto de sua fragmentação. Não existe uma real relação de interdependência social.
Ademais,
é necessário perceber que, o funcionalismo Durkheim, à luz da sua conceituação
de solidariedade orgânica, se realmente se efetivasse, no sentido de que cada
qual, no resguardo de sua função, cooperaria para o bem coletivo maior; isso
tornaria a impossibilidade existencial da parcela de miseráveis e excluídos do
sistema econômico neoliberal até então vigente. Com isso, fica evidente que, o
a individualidade advinda da divisão social do trabalho é fator gerador de
egoísmo, e de supressão da complacência, do altruísmo, e do senso de igualdade.
Todos passam a trabalhar tendo em vista o benefício próprio, e isso se reflete,
de um modo geral, em todos os tipos de desigualdade e mazelas até então
existentes.
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