A primeira corrente sociológica da história, o positivismo, apresentava como maneira de pensar a sociedade as leis naturais, ou seja, inspirava-se nas ciências naturais. Auguste Comte, o fundador dessa corrente, trazia em sua teoria a ideia de leis invariáveis da sociedade, cujas valeriam para qualquer época e qualquer sociedade, sendo uma forma fixa de analisar através da sociologia proposta.
Mas, para compreender a teoria positivista e ser capaz de trazê-la para a contemporaneidade, o contexto histórico é
de suma importância. Isso, porque o autor dizia que a sociologia (ou
física social) era a ciência da crise que era vivida na época, de tal modo que seria capaz de, ao
analisar a sociedade, propor maneiras de leva-la do caos (ou estado de
desorganização) para a reorganização.
Cabe aqui questionar, portanto, o que ou quem define o estado de organização? E, como forma de resposta indireta, é válido citar Grada Kilomba, mulher, escritora e pesquisadora preta, esta diz
“Qualquer forma de saber que não se enquadre na ordem eurocêntrica de conhecimento tem sido continuamente rejeitada, sob o argumento de não constituir ciência credível”.
Em resumo, a ordem que Comte traz é a ordem sob a ótica europeia da sociedade, sob a ótica do capitalismo – pois, inclusive, toda a crise da época possuía relações intrínsecas com o fantasma que rondava a Europa, o fantasma do comunismo -, de modo que as instituições deveriam se manter constantemente as mesmas, gerando como característica da corrente, a aversão a mudança.
Após tal contexto e explicações feitos, a questão que surge é: essa corrente do século XIX ainda possui efeitos na atualidade?
O positivismo é uma ciência considerada útil, tendo em vista sua necessidade de, para além de analisar a sociedade, propor maneiras de reorganizá-la a fim da manutenção de determinadas instituições que constituem a “normalidade”. Além disso, uma preocupação que não existia nessa teoria é a de buscar a raiz dos problemas sociológicos.
Por essa razão, um exemplo palpável do positivismo na atualidade seria os argumentos contrários ao sistema de cotas raciais, são eles: “a cota gera mais preconceito”, “os próprios negros escravizavam outros negros”, “não existe racismo estrutural”. Tais argumentos são análises do porquê as cotas deveriam ou não existir a partir de uma ótica rasa, de uma análise fugaz, a fim de não alterar o curso da sociedade, não dar voz a aqueles que nunca tiveram – e que, portanto, não devem ter. Cabe novamente citar Grada Kilomba, que diz:
“É impossível a subalterna falar ou recuperar sua voz e, mesmo que ela tivesse tentado com toda sua força e violência, sua voz ainda não seria escutada ou compreendida pelos que estão no poder”.
Outro exemplo de análises positivistas na sociedade contemporânea é a questão da miscigenação. Na contemporaneidade, a miscigenação ainda é vista e tratada como algo romantizado, "bonito", que deu origem aos brasileiros para além de indígenas, africanos e europeus, porém a história é contada da ótica da “organização”, por quem tem poder de contar a história. Sabe-se que a história não é essa, mas de maneira útil faz-se essa análise a fim de não gerar mudanças e não discutir a pauta de maneira aprofundada.
E, acerca dessa temática, Grada Kilomba diz:
“ela (a subalterna) está sempre confinada à posição de marginalidade e silêncio que o pós-colonialismo prescreve”.
Isso, porque essa marginalidade e silêncio são herdados do achamento e ocupação do Brasil por europeus, o qual foi definido por estupros e violências para com mulheres indígenas, pretas – e, portanto, subalternas.
Por fim, pode-se concluir dizendo que o positivismo está presente na sociedade de maneira vívida e muito mais frequente do que deveria, considerando que se trata de uma ideologia de dois séculos atrás. Porém, como apresentado ao longo do texto, se faz tão atual nas “pequenas” análises do dia a dia, que se torna corriqueiro e faz com que a sociedade esqueça de se aprofundar e compreender determinadas temáticas, tendo em vista a posição de poder que tais pessoas se encontram: a zona de conforto de ser parte inerente da "organização".
Isadora Mendonça Brasil – 1º ano – Direito/noturno
RA: 231220715
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