Marx Weber, sociólogo alemão e considerado um dos autores
mais influentes no campo de estudo da sociologia, pontuou que o papel da
ciência sociológica é analisar as “ações sociais” dos indivíduos dentro do meio
cultural a qual estão inseridos. Nesse contexto, a “ação social”, dentro da
teoria weberiana, pode ser caracterizada como um comportamento humano, que está
sempre atrelado a outros indivíduos, sendo que a escolha de uma determinada
ação está ligada a valores culturais da pessoa. Weber tipifica tais ações em
quatro; a “ação racional com relação a um valor”, que está pautada no valor,
seja ele religioso, político ou ético, a “ação racional com relação a um
objetivo”, que é a ação que pretende alcançar um fim específico, “a ação
afetiva”, que é aquela a qual é motivada pelos sentimentos e por fim, a “ação
tradicional” que é movida pelos costumes enraizados.
Tomando como exemplo o atual caso, ocorrido em agosto de 2020, da menina
de 10 anos que foi estuprada pelo tio e engravidou, e fazendo um paralelo com a
teoria weberiana, pode-se tentar compreender as ações dos cidadãos brasileiros
perante o caso. A decisão judicial do Espírito Santo autorizou o aborto, o que
já era o esperado pelo fato do aborto ser legal em casos de estupro pela
constituição, entretanto o que se contatou, não foi uma reação empática por
parte das pessoas em relação a menina que sofria os abusos, mas sim uma reação
midiática de ódio e de repressão, não apenas pela decisão judicial do aborto
como também perante a menina, pois dentro dessas reações sociais, muitas
opiniões viam a vítima do estupro como uma assassina. Para Weber, a compreensão
dos sentidos das ações sociais são a chave da sociologia, portanto, para
entender o porquê dessa reação midiática é necessária uma análise afundo dos
indivíduos brasileiros. Estima-se, segundo dados o IBGE, que 73,7% da população
é católica e 10,4% é evangélica pentecostal/neopentecostal, esses são os dois maiores
grupos religiosos brasileiros e abrangem a maior parte dos cidadãos do país. Dentro
dessas religiões existem valores como a “sacralidade da vida”, a “prioridade da
vida” e dentre outros que olham para a vida como uma propriedade de uma
entidade e não dos seres humanos. Tendo em vista os dados, pode-se construir um
“tipo ideal” de um religioso que não aceita o aborto pois dentro de seus
valores morais, isso é inaceitável. Logo, é possível tipificar a reação social
contrária ao aborto como uma “ação racional com relação a um valor” já que está
pautada em valores morais de uma determinada crença. No entanto, é perceptível
que dentre os inúmeros comentários nas redes sociais, existia um sentimento de
ódio, por parte daqueles que enxergavam a menina como uma assassina por ter
abortado um feto fruto de um estupro, em vista disso, esses comentários estão
ligados a uma “ação social afetiva”, já que existia uma motivação emocional de
ódio, qual a crença de seus valores morais e o sentimentalismo se sobrepôs a uma racionalidade,
momento esse que os cidadãos deixaram de lado o impacto social de um estupro e passaram
apenas a enxergar o que o aborto simbolizava dentro de suas religiões, agindo
com uma carga de sentimento muito grande.
Ainda sobre o viés dos indivíduos que rechaçaram o aborto,
pode-se constatar uma tentativa de exercício do poder, isso porque para Weber,
o poder é a possibilidade dos indivíduos
imporem suas vontades sobre outras pessoas, sendo que essa relação de poder
implica em uma dominação, onde o grupo/individuo que exerce o poder, detém o
“comando de um conteúdo especifico, obedecido por um determinado grupo de
pessoas”. Logo, ao as pessoas tentarem impor sua posição contrária ao aborto
para a menina de 10 anos que havia sido vítima de um estupro, demostra uma
tentativa de dominação pautada nos valores religiosos individuais dos cidadãos.
Portanto, é evidente que as ações sociais expostas na teoria de Weber estão correlacionadas nos casos da contemporaneidade. No caso da menina vítima de um abuso, pode-se constatar que as ações de grande parte dos brasileiros não visavam o impacto social do estupro, e nem as consequências que isso causou na vida da menina, configurando em uma ação racional com relação a um valor, pautado em condutas religiosas, além de uma ação emocional estimulada pelo ódio, sendo que essas ações levaram a uma tentativa de exercício do poder, não apenas pelos comentários nas redes sociais, como também pelos protestos e as tentativas de invasão que ocorram no hospital onde a menina passaria pelo procedimento do aborto. Cabe a sociedade civil, se questionar, quais são as consequências sociais dessas ações pautadas nos valores e nas emoções, se essas ações realmente conduzem o país ao bem estar coletivo ou se apenas estão suprindo desejos religiosos individuais e tendo uma posição egoísta perante os outros seres humanos.
Referencias:
Maria Clara Ramos Okasaki-1ºano Direito-Diurno
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