Algumas perguntas
Para o sociólogo Émile Durkheim, a pena dada a um criminoso, em
sociedades primitivas, não parte de sua ação em si, e sim do sentimento de
revolta que tal ação gera ao grupo social, sendo, portanto, desproporcional.
Tudo o que incomoda o grupo social dominante e seus valores é um crime? Seria,
então, a própria existência fora dessas regras passível de punição? Finalmente,
segundo a definição de pena adotada, qual sociedade atual não é primitiva?
Uma crônica
“Mais um jovem negro foi assassinado por um policial na região metropolitana
do Rio, aumentando o número de casos de violência policial em 2020 para...”
“Agora o policial não pode nem fazer o trabalho dele? E daí que o marginal
era preto, e daí que não era um adulto? Criminoso é criminoso!”
“... o rapaz não possuía registro criminal, estava prestes a
concluir o ensino médio, o qual conciliava com um emprego no centro da cidade
para complementar a renda da família, composta por sua mãe e irmãos, cujo
depoimento emocionante...”
“Isso é coisa da extrema imprensa, esse pessoal gosta de defender
bandido. Que foi, Clarice? A repórter disse que ele era inocente? É bandido
sim, ou você duvida? Menino pobre que cresce assim, cheio de irmão... sem
pai... isso aí era traficante! E também, o que que essa mãe ‘tava pensando,
enchendo o mundo de filho? Esse é o problema dessa gente, coloca criança no mundo
e depois vai pedir ajuda do governo. Por que o meu imposto vai pra eles? Pro moleque
virar bandidinho e todo mundo chorar por ele? Eu não choro não, essa gente não
presta, Clarice, não presta. Se morreu, o que importa?”
“... a brutalidade do caso acende novamente discussões sobre
opressão racial no Brasil. O Movimento Negro, junto a grupos de defesa dos
direitos humanos, organiza um protesto no local da morte do rapaz, e relembra a
memória da ex-vereadora do Rio...”
“Tá vendo, eu falei que era coisa da esquerda, sempre é. Querendo defender
gente ruim, gente que não serve pra nada, não trabalha, não se esforça e quer tudo
de mão beijada. Só se fala disso no jornal, fica vendo, não tem um minuto sobre
o policial, coitado. Ele matou o bandido, ele é o herói. Mas não falam disso,
não interessa, só interessa desmoralizar, Clarice, é isso que eles querem, que
a gente não confie na polícia, mas eu confio sim, cidadão de bem não tem que
ter medo.”
“... José faria dezessete anos no próximo dia 15.”
Sofia Malveis Ricci, Direito - 1º ano (Noturno)
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