A ciência é um dos importantes guias da humanidade. Descobertas e inovações sempre acompanharam o homem, e é justamente isso, a racionalidade, o que começou a distingui-lo dos outros seres. A partir de um momento histórico, porém, as descobertas passam a obter um caráter formal e quase institucional, elevando a ciência a um patamar de alta influencia, já que nos tornamos muito dependentes da mesma. A partir desse momento, as metodologias científicas passaram a orientar não só as próprias pesquisas mas também todo o pensamento dos grupos que mais a detinham e, consequentemente, influenciavam o modo de vida de todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, se integravam a esse sistema.
Essa visão cientificista levou as nações capitalistas (ou seja, quase todas) a um grande culto ao progresso que justificaria atrocidades cometidas por lideranças das mesmas nações. Como dito pela personagem Sonia em Ponto de Mutação, de Bernt Capra, cidadãos do Terceiro Mundo pagam a dívida externa dos seus países com a sua fome, e os governantes destroem suas riquezas naturais buscando sempre o capital necessário para comprar produtos que o mantém no círculo da globalização.
A sociedade do capital tenta nos compensar com o prazer: esse modelo preza pela satisfação individual para nos compensar pelo que não temos (sempre buscamos o que não temos, independente do quando dinheiro se tem). E é na falta de alguma coisa que se deseja, em uma escala nacional, que nasce o sentimento fascista: as pessoas que são cooptadas por essa doutrina abrem mão de parte de seu egoísmo natural para idolatrar o seu líder, que normalmente representa um amor pelo progresso e um nacionalismo extremado. E, com esse líder, se assume o sentimento de hostilidade com todos os que não o idolatram. Outro exemplo do caráter destrutivo desse sentimento é o filme A Onda, de Denis Gansel, que mostra como um experimento que tenta simular um grupo fascista toma proporções enormes, chegando ao suicídio de um garoto.
A culpa da ciência no surgimento do fascismo é a valorização do sentimento individual em detrimento do comum. Na nossa sociedade, a maioria das descobertas privilegiam a pessoa que a adquire ou algum grupo ou nação que a detém. Uma ciência que nos ajudaria a deter comportamentos fascistas seria uma ciência emancipatória, que reduziria a preocupação com a auto-imagem e valorizaria a nossa relação como parte de um todo, que não seria apenas representado por nossas nações, mas sim por algo global. Essa ciência auxiliaria não só às pessoas mas também na nossa relação com a natureza. Sabe-se, porém, que a ciência é submissa às lideranças e ao capital, tornando muito difícil que vozes que vão contra a ciência padrão, como a da pesquisadora Sonia Hoffman, de Ponto de Mutação, sejam ouvidas.
Gustavo Carneiro Pinto
1º Ano de Direito - Noturno
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