Por muito tempo, a ciência nos serviu como instrumento essencial nos avanços presenciados por toda a humanidade. Contudo, funções inimagináveis da ciência a serviço de condutas humanas relacionadas a guerras, destruição em massa que põem em risco a própria humanidade também tomaram conta da realidade. Tal contradição põe em cheque hoje a questão sobre qual a função da ciência e análises sobre o poder que ela pode exercer até mesmo sobre a política são essenciais no contexto atual.
Iniciamos a segunda década do século XXI com diversas incertezas, instabilidades democráticas e (re)ascensão de discursos autoritários e extremistas. Interpretações do mundo globalizado e altamente tecnológico retornam a visões de pensadores como Descartes e Bacon ilustradas e questionadas no filme "Ponto de mutação", de Bernt Capra, a realidade é descontruída e remontada diariamente e o papel da ciência é ainda limitado, inexpressivo sobre tal realidade.
Bacon e Descartes propuseram que a ciência nos deveria servir como objeto para compreensão do mundo, sendo ela consistente na generalização, universalização a partir de detalhes, individualidades "componentes de um todo". Tal aplicação da ciência é intensamente criticada e condenada pela cientista no filme Ponto de mutação em sua discussão com os outros dois personagens e a defesa de mudança na maneira de interpretarmos o mundo é feita de forma consistente e elencada pela personagem. De modo perfeitamente análogo à realidade atual, nós também, diante da constância de tais pensamentos de generalização, nos encontramos sedentos por uma ciência que forneça novas formas de interpretarmos o mundo e promovermos mudanças urgentes.
Diante de discursos fascistas, autoritários- cujo "teor" unificador, engrandecedor e nacionalista promove a sensação de que não existe desigualdade, que somos todos fortes unidos e iguais e que devemos abandonar as individualidades em prol da conquista de uma sociedade sólida, a ciência não deve ser utilizada como forma de apoio e justificação a tais discursos. A ciência deve ser emancipatória.
Os anos de reinado da ciência usada como justificativa devem ser tomados como experiência para a resistência exigida de nós contra manifestações antidemocráticas, devemos utilizar o conhecimento sempre a nosso favor, à nossa vida, à nossa existência, à nossa humanidade. É dever, portanto, lutarmos por uma ciência que rompa com velhos paradigmas, alimente ideais de igualdade, manutenção de direitos e que seja nosso esteio para a divulgação e disseminação de ideias de valorização de individualidades, manutenção das liberdades individuais e que proporcione a todos a conscientização de que conquistas democráticas não devem ser abandonadas diante de discursos fascistas engrandecedores de uma falsa realidade.
Lorena Yumi Pistori Ynomoto- Direito noturno
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