Os pensamentos mecanicistas da sociedade sempre contribuíram
para que as decisões fossem destinadas a um contingente de pessoas específicas
e, dessa forma, o Direito foi fascistilizado, pois selecionou aqueles pelos quais
foram atribuídos dignidade por razões específicas de soberania social. Ou seja,
a sistematização, iniciada por Renè Descartes como norma para que as
engrenagens do mundo continuassem funcionando escolheu a quem favorecer.
No longa metragem “O Ponto de Mutação”, do diretor Bernt
Capra, ocorre a crítica quanto a essa sistematização e mecanicidade, e tal crítica
surge de um complexo raciocínio, quando os personagens comparam as formas de
organização sociais e políticas às engrenagens de um relógio antigo. A personagem
feminina expressa sua opinião contrapondo o pensamento cartesiano, e ressalta a
importância da compreensão humana paralelamente com a evolução do mundo, e nos
atenta para a reflexão de que as políticas estatais referidas a sociedade são moldadas
com o tempo e, por conseguinte, caminhando ao passo que a humanidade evolui. Portanto,
seria imensamente prejudicial acalentar a sociedade com normas e direitos
iniciadas em um período onde tudo ainda era não descoberto.
O Direito foi fundamentado ao decorrer do tempo para ser
aplicado automaticamente a determinados casos, portanto, ocorre a subsunção da
lei, ou seja, observamos o acontecimento vigente e aplicamos uma norma geral a
ele. Desse modo, especifiquemos que casos são relativos e diversos e que a
norma sistemática não pode ser atribuída de forma que não pense o humano. O equilíbrio
nas relações precisam prevalecer, o pensar coletivo precisa estabelecer o
contato humano e , assim, realocar as leis de forma igualitária. Nesse sentido,
o fascismo se introduz no âmbito do Direito, pois nega direitos e liberdades fundamentais
a uma parcela específica da sociedade. A opinião da personagem retrata o mau das diretrizes
cartesianas que generaliza todo o pensar normativo sem observar as questões evolutivas,
as descobertas do mundo e o caminhar da humanidade.
Parafraseando o professor
da Universidade de São Paulo (USP) Alysson Leandro Mascaro, em sua palestra
ministrada na Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (UNESP), “ não
somos Sujeitos de Direito, somos sujeitos pelo Direito”, ou seja, realocamos
nossas percepções de justiça pra seguir normas e diretrizes que não favorecem a
todos. Somos, de certa forma, fascistas pelo Direito excludente, organizado no
intuito de manter a sociedade sujeitada a uma soberania que sempre existiu. Por
isso, a necessidade de mudar as engrenagens do mundo são de extrema importância,
é preciso estudar os casos de forma minuciosa e questionar o Direito seletivo,
a fim de nos auto policiarmos para não sermos ditatoriais com a esfera jurídica que
tem como finalidade, no final das contas, estabelecer a justiça de forma igualitária
e equilibrada.
Beatriz Dias de Sousa - Direito, Noturno
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