Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 1 de abril de 2019

A Reformulação da Razão


     O século XXI está imbuído de contradições que se manifestam nos âmbitos científico, informacional e racional. O desenvolvimento da metodologia científica moderna, visando libertar a humanidade de suas amarras, propiciou – colateralmente – a formatação da racionalidade, os novos grilhões das civilizações que abarcam a era industrial hodierna.
     Essa sistematização do próprio pensar, aliado a positivação dos Estados e da própria economia, gerou, consigo, uma realidade que orbita em torno do pragmatismo. Nesse ínterim, a população, de modo geral, é condicionada a supervalorizar questões que se prontifiquem de modo imediatista, seja na esfera emocional ou informacional. A partir disso, os indivíduos se inserem numa bolha interpretativa da realidade, participando de um processo contínuo de autoafirmação de suas próprias crenças, ideologias e verdades, sem a reflexão do contraditório. Esse processo provocou a criação de um fenômeno denominado “Cognição Preguiçosa”, proposto por Daniel Kahneman, em que os processos mentais negligenciam toda e qualquer fonte de estudo que necessite do esforço dos processos reflexivos e críticos.
     Isto posto, a manutenção do pensamento reacionário é iminente e inevitável, visto que o seio familiar é a célula primordial de sociabilização do indivíduo, sendo responsável pela propagação de valores que, aliados a Cognição Preguiçosa, tornam-se inquestionáveis. Assim, mantém-se uma radicalização perante movimentos que reivindicam a promoção de medidas sociais, progressistas, ao mesmo passo que se incita o discurso de ódio, aflorando o preconceito já existente. Com base nesses fatores, constata-se que a atual conjuntura política é extremamente propícia para a ascensão de movimentos fascistas e neofascistas. Embora divergentes em alguns quesitos – fruto de um diferente contexto histórico, a sua atuação contra minorias políticas e movimentos progressistas e a exacerbação da violência, ainda são fatores presentes no neofascismo.
     Destarte, ressalta-se a contradição da era moderna, em que, mesmo com o turbilhão informacional presente em todos os campos de estudo, torna-se extremamente difícil promover a conscientização populacional em relação às variadas pautas, pois as inovações e pesquisas que se contrapõem aos conceitos já enraizados socialmente são refutados – mesmo sem fundamentação, em virtude da baixa credibilidade atribuída popularmente às fontes científicas. Ademais, as descobertas tecnológicas frequentemente mantêm-se restritas a um seleto quadrante da humanidade, seja em virtude do fator econômico, seja pela escassez de sua disseminação.
     A partir dessa perspectiva, evidencia-se a importância do filme “Ponto de Mutação” e do tema abordado. O título, por si só, representa – simbolicamente – a imensurável necessidade da dialética na convivência humana, que posteriormente se manifesta na figura dos 3 personagens, sendo eles a materialização empírica da Hipótese, Antítese e Síntese. Nisto, a obra aborda a “crise de percepção” presente na sociedade, em que a praticidade excessiva promove uma forma de mecanicismo social, onde a vida se torna descartável, desumanizada e presa aos moldes da modernidade. A ciência não mais é produzida sob o intuito de promover a dignidade humana e manter a salubridade ambiental, passando a atender a interesses de cunho mercadológico e sendo implementada como utensílio de repressão e subjugação. Outrossim, a formatação da racionalidade esvaziou a relevância do ensino dos valores éticos e morais. Por fim, o longa enfatiza a essencialidade da reformulação do próprio pensamento crítico humano, com a finalidade de reverter o quadro de insustentabilidade, desumanidade e pragmatismo instaurado.
     Caio Laprano – Direito Noturno 1º Ano

Nenhum comentário:

Postar um comentário