Madame Satã e a luta contra a LGBTIfobia
Entre os dias 16 e 18 de setembro de 2019 ocorreu
a VI Semana de Sexualidade e Gênero (SSG) no campus Unesp-Franca sob organização
do Centro Acadêmico de Direito "André Franco Montoro". Dentre as
atividades desenvolvidas, ocorreu um “Cine Debate” acerca do filme "Madame
Satã" com mesa composta por integrantes do Coletivo Casixtranha de
Araraquara. Após a conversa sobre o filme ocorreu uma oficina de Dança Vogue.
O filme de 2002 conta uma parte da história de
Madame Satã, alcunha de João Francisco dos Santos, e sua paixão pela vida
artística como transformista. Por ser negro, pobre e homossexual, Madame Satã
enfrentou (quase sempre com capoeira) os preconceitos (ainda vigentes) da
sociedade brasileira referente aos três adjetivos que o descrevem. Morador e
frequentador da Lapa, bairro carioca até hoje marcado pelo estigma da boêmia e da
vadiagem, Madame Satã figura como um dos personagens mais representativos da
luta contra a homofobia e a transfobia.
Infelizmente, não havia ficado claro para os
ouvintes da SSG que o filme não seria exibido, que apenas ocorreria o debate, o
que prejudicou a discussão. Por isso, não houve um debate em si, apenas uma roda de conversa em que a palestrante Vita Pereira discorreu sobre como a LGBTIfobia é ainda presente em nosso país tanto quanto na época de Madame Satã. Os travestis sempre
foram perseguidos, seja por dispositivos legais como a Lei da Vadiagem de 1941,
que era uma forma de violência sobre as populações mais vulneráveis e sem
recursos, ou operações especiais como a Operação Tarântula, que foi uma onda de
caça às travestis que passaram a ser brutalmente assassinadas durante os anos
1970 e 80. Com a sociedade brasileira apoiando esse processo de gentrificação
de espaços urbanos LGBTI, as travestis acabam por recorrer a meios pouco
convencionais para se defender, como se cortar com navalhas para evitar serem
tocadas pela polícia. Na contramão do preconceito e buscando se sentir
incluídos socialmente, surgiu, no final dos anos de 1980 em Nova York, o estilo
de dança Vogue, que representa uma forma de empoderamento das travestis e drag
queens que dançavam com muita pose e “carão” a fim de se consolidar e
enfrentar a marginalização.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988,
seguindo princípios fundamentais dos direitos humanos, prevê a igualdade e a
não discriminação em qualquer sentido - artigo 5º, inciso XLI. Entretanto, ainda
vemos na sociedade brasileira o mesmo preconceito LGBTIfóbico que marcou a vida
de Madame Satã com violência e discriminação. Em uma tentativa de reverter essa
situação social de exclusão e preconceito, já que nenhum avanço ocorreu por
meio legislativo, foi ajuizada a Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão (ADO 26), na qual se demanda a criminalização específica de todas as
formas de homofobia e transfobia. Na tese final da ADO 26, o colegiado entendeu
que a homofobia e a transfobia se enquadram no artigo 20 da Lei 7.716/1989, que
criminaliza o racismo.
A busca dos LGBTIs por meios legais de efetiva
proteção física e emocional (ADO 26) e de representação (figuras reais como
Madame Satã) é um grito em direção à inserção desses grupos e pessoas à sociedade.
Um clamor pelo fim do preconceito e marginalização. Algo que o Coletivo Casixtranha
realiza através da busca por diálogo e difusão da cultura Vogue.
Raquel Rinaldi Russo – 1º ano
Direito Matutino
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