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domingo, 6 de outubro de 2019

A expressão artística como instrumento de resistência

O filme "Madame Satã" é protagonizado pelo importante ator brasileiro Lázaro Ramos, que nesse longa representou João Francisco dos Santos, um conhecido artista que enfeitou os palcos da Lapa e região na primeira metade do século XX.  
João Francisco era homossexual, negro e pobre, marginalizado em todos os âmbitos da sua vida viu na expressão artística um lugar de refúgio onde poderia alcançar seu êxito existencial e ainda superar os limites impostos por suas condições de vida. 
Um dos momentos mais impactantes do filme é quando, em suas últimas cenas, João resolve depois de anos ocupando os bastidores, enfrentar o palco e viver seu sonho. É nesse contexto que, após um espetáculo, o artista é confrontado por um homem que frequentava o local, cujo qual direcionou a ele um discurso homofóbico e agressivo. Dono de uma personalidade forte, João Francisco se revolta e bate de frente com o autor dessas frases preconceituosas, afirmando com tom de orgulho sua sexualidade e alegando que isso não o desqualifica como homem, pois o mesmo apesar de em noites de apresentações se vestir com roupas femininas, continua sendo homem cis. 
O debate acerca dessa filme realizado no Campus da unesp teve como convidadas duas transsexuais que discorreram sobre a importância do filme como símbolo da luta lgbt em lugares suburbanos e principalmente como objeto de representatividade. Analisando a obra cinematográfica é possível perceber que apesar de passados quase 90 anos o discurso direcionado a população LGBT e os preconceitos por eles sofridos continuam praticamente a mesma coisa, caminho esse de discussão utilizada pelas palestrantes quando afirmam sobre a constante onda de violência que atinge as pessoas trans. 
Outro caminho seguido no debate foi a importância da expressão artística na vida de muitos LGBTs, pois a mesma permite que através da expressão corporal e outros meios artifícios esses indivíduos encontrem conforto ao mesmo tempo que confrontam a sociedade preconceituosa a qual estão inseridos. Ainda sobre o mesmo assunto, encerra-se o debate com uma oficina sobre o vogue, uma importante dança utilizada majoritariamente pelo movimento lgbt como instrumento de empoderamento e resistência. 
Unindo a experiência proporcionada pelo filme com a reflexão do mesmo oferecida pelo debate fica evidente o como a vida daqueles que questionam e violam os comportamentos hétero normativos é vulnerável a todo tipo de agressão e preconceito, sendo de suma importância materiais cinematográficos, literários e afins, que tenham como intuito divulgar a causa além de dar força e empoderar aqueles que se sentem reprimidos pelo sistema. 
Barbara Medeiros (Direito noturno)

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