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terça-feira, 19 de junho de 2018

O Direito na análise de Bourdieu


Com o avanço dos movimentos sociais e a necessidade de discussão sobre determinados assuntos – que antes eram deixados de lado nas pautas jurídicas – é que, atualmente, existem casos como o da ADPF 54. Ele aborda a constitucionalidade da interrupção da gravidez quando o feto é anencéfalo, ou seja, não tem nenhuma perspectiva de vida após o nascimento.

Ambas as partes, a favor e contra a legalização desse aborto específico, podem se encaixar no que Pierre Bourdieu chama de “direito de dizer o direito”, já que procuram impor seus ideais ao judiciário. Além disse, ele acredita que o direito é um fruto do equilíbrio entre técnico e decente, logo, é necessário que a decisão leve em consideração a realidade social, para que o jurista consiga ter um julgamento equilibrado entre o Direito em si, a técnica, e a realidade social. Assim, a decisão do STF de descriminalizar o aborto de anencéfalos é, segundo Bourdieu, válida, já que não foca em uma visão positivada da lei e leva em consideração todos os aspectos sociais acerca do assunto. Isso é mostrado na seguinte passagem de seu livro “O Poder Simbólico”: “(...) os magistrados, por meio da sua prática, que os põe diretamente perante a gestão dos conflitos e uma procura jurídica incessantemente renovada, tendem a assegurar a função de adaptação ao real num sistema que, entregue só a professores, correria o risco de se fechar na rigidez de um rigorismo racional.”.

Outro conceito elaborado pelo sociólogo é a violência simbólica, que é caracterizada como uma violência sem coação física, mas causando danos morais e psicológicos. Isso pode ser relacionado com o julgado pelo fato de que, ao impedir que uma mulher exerça seu desejo de abortar o feto anencéfalo – seja por uma lei positivada ou apenas pela pressão social –, está sendo direcionada a ela uma violência psicológica, já que ela tem a consciência de estar carregando um bebê sem perspectiva de vida e isso pode causar sérios problemas na sua mentalidade.

Com isso, podemos perceber que Pierre Bourdieu analisava conceitos que interligavam o Direito e a sociedade, discorrendo sobre os aspectos de dominação que ele exerce em diversos campos da sociedade através de seu “capital simbólico” – seus recursos específicos –, usado para inseri-lo na realidade social e descriminalizar o aborto de fetos anencéfalos.


Marcella Medolago - noturno.

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