Se outrora vimos na dúvida hiperbólica de Descartes uma
possibilidade para pensar o mundo guiada e nutrida por um método bem alicerçado
no racionalismo e na fragmentação do conhecimento, Bacon trás a tona como
sedimentar tal conhecimento, como pô-lo á prova e fundamentalmente dar-lhe
vida.
“Dar vida” talvez fosse o intuito maior do modo de existir e
pensar baconiano, no sentido de que o filósofo debruça-se na trincheira de
fazer da filosofia e dos questionamentos forças motriz para transformar o
mundo. Para Bacon o advento do novum
organum (modo pelo qual nomeia sua proposição filosófica) seria o
instrumento filosófico para produzir obras que incidissem sobre a vida
concreta.
Desde sua crítica ferrenha ao ócio contemplativo da
filosofia grega até sua busca por descobertas e experimentos, Bacon postulou
para a filosofia moderna, talvez de uma forma até mais incisiva que Descartes,
que tudo que fosse passível de um experimento deveria ser experimentado.
Rompe-se, portanto com a idéia de que a Metafísica e a Lógica (enquanto práticas
filosóficas) pudessem construir qualquer tipo de conhecimento.
Ironicamente, Bacon ao refutar a lógica em detrimento da
experiência vai de encontro com o antigo Aristóteles que ao proclamar seu
método analítico igualmente rompe com a lógica. Para ambos a lógica não
contribui para a construção do conhecimento, pois, produz ambigüidades de fácil
confronto tanto diante das experiências quanto diante da dialética aristotélica.
Se todos os homens e mulheres que morreram até hoje respiravam oxigênio, isso é
um indicativo de que oxigênio é nocivo ao corpo humano. Uma construção lógica
razoável, uma aberração sob o ponto de vista da realidade.
Bacon, entretanto vai realizar um rompimento total com a
lógica, diferentemente de Aristóteles que ainda vai utilizá-la para a argüição
do conhecimento construído. Já o filósofo moderno, levantará mais uma vez para
a avaliação do conhecimento a bandeira do experimento.
Vindo do plano das idéias para a discussão real do mundo
atual, como Bacon bem nos aconselharia, há hoje na comunidade científica uma
grande discussão que envolve a sustentação da teoria einsteiniana da
relatividade. Um dos postulados da teoria, em linhas gerais, é de que a
velocidade da luz é o valor máximo possível por uma partícula; no entanto um
experimento recente no laboratório do CERNE aponta para uma partícula que
supostamente teria alcançado uma velocidade maior que a da velocidade da luz.
Se isso fosse verdade, como aponta a análise dos dados feita pelos físicos
responsáveis, a teoria da relatividade estaria superada. O paradoxo da situação
é que os instrumentos de medição da velocidade são todos guiados e pautados sob
concepções e programações da teoria da relatividade, e sendo assim se a teoria
estivesse equivocada, estes não estariam aptos a representar a velocidade real
da partícula como haviam feito, podendo inclusive relativizar o resultado do
experimento. Portanto se o experimento estiver correto; a teoria de Einstein
está errada; os instrumentos de medição de velocidade estão errados; a
velocidade do experimento é desconhecida; e o próprio experimento está errado.
Sintetizando, se o experimento estiver certo, o próprio experimento está errado
A situação é de fato peculiar e um tanto confusa, mas nos
faz refletir criticamente acerca da confiabilidade dos experimentos. Ainda mais
na teoria baconiana e nos dias atuais, cujos experimentos são praticamente os
únicos meios de construção científica do conhecimento e de prova deste
construído, o que dificulta uma análise mais distanciada e sensata das
produções científicas.
Nos cabe pensar o quão o experimento é um bom método
científico.
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