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segunda-feira, 26 de março de 2012

Entre os modernos, um Bacon.


Se outrora vimos na dúvida hiperbólica de Descartes uma possibilidade para pensar o mundo guiada e nutrida por um método bem alicerçado no racionalismo e na fragmentação do conhecimento, Bacon trás a tona como sedimentar tal conhecimento, como pô-lo á prova e fundamentalmente dar-lhe vida.
“Dar vida” talvez fosse o intuito maior do modo de existir e pensar baconiano, no sentido de que o filósofo debruça-se na trincheira de fazer da filosofia e dos questionamentos forças motriz para transformar o mundo. Para Bacon o advento do novum organum (modo pelo qual nomeia sua proposição filosófica) seria o instrumento filosófico para produzir obras que incidissem sobre a vida concreta.
Desde sua crítica ferrenha ao ócio contemplativo da filosofia grega até sua busca por descobertas e experimentos, Bacon postulou para a filosofia moderna, talvez de uma forma até mais incisiva que Descartes, que tudo que fosse passível de um experimento deveria ser experimentado. Rompe-se, portanto com a idéia de que a Metafísica e a Lógica (enquanto práticas filosóficas) pudessem construir qualquer tipo de conhecimento.
Ironicamente, Bacon ao refutar a lógica em detrimento da experiência vai de encontro com o antigo Aristóteles que ao proclamar seu método analítico igualmente rompe com a lógica. Para ambos a lógica não contribui para a construção do conhecimento, pois, produz ambigüidades de fácil confronto tanto diante das experiências quanto diante da dialética aristotélica. Se todos os homens e mulheres que morreram até hoje respiravam oxigênio, isso é um indicativo de que oxigênio é nocivo ao corpo humano. Uma construção lógica razoável, uma aberração sob o ponto de vista da realidade.
Bacon, entretanto vai realizar um rompimento total com a lógica, diferentemente de Aristóteles que ainda vai utilizá-la para a argüição do conhecimento construído. Já o filósofo moderno, levantará mais uma vez para a avaliação do conhecimento a bandeira do experimento.
Vindo do plano das idéias para a discussão real do mundo atual, como Bacon bem nos aconselharia, há hoje na comunidade científica uma grande discussão que envolve a sustentação da teoria einsteiniana da relatividade. Um dos postulados da teoria, em linhas gerais, é de que a velocidade da luz é o valor máximo possível por uma partícula; no entanto um experimento recente no laboratório do CERNE aponta para uma partícula que supostamente teria alcançado uma velocidade maior que a da velocidade da luz. Se isso fosse verdade, como aponta a análise dos dados feita pelos físicos responsáveis, a teoria da relatividade estaria superada. O paradoxo da situação é que os instrumentos de medição da velocidade são todos guiados e pautados sob concepções e programações da teoria da relatividade, e sendo assim se a teoria estivesse equivocada, estes não estariam aptos a representar a velocidade real da partícula como haviam feito, podendo inclusive relativizar o resultado do experimento. Portanto se o experimento estiver correto; a teoria de Einstein está errada; os instrumentos de medição de velocidade estão errados; a velocidade do experimento é desconhecida; e o próprio experimento está errado. Sintetizando, se o experimento estiver certo, o próprio experimento está errado
A situação é de fato peculiar e um tanto confusa, mas nos faz refletir criticamente acerca da confiabilidade dos experimentos. Ainda mais na teoria baconiana e nos dias atuais, cujos experimentos são praticamente os únicos meios de construção científica do conhecimento e de prova deste construído, o que dificulta uma análise mais distanciada e sensata das produções científicas.
Nos cabe pensar o quão o experimento é um bom método científico. 

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