Embora haja quem acredite ser o
raciocínio humano uma forma certeira de se construir conhecimento, para muitos
ocorre justamente o contrário: Francis Bacon, em Novum Organum, alerta-nos para
os incontáveis equívocos que cercam o saber construído apenas pela razão.
Todavia, para ele, enveredamos pelo caminho correto quando a amparamos na
experiência.
O vocábulo latino
"sapor", que dá origem a "sabor", relaciona-se ao verbo
"sapere", do qual se obtém a palavra "saber". Dessa forma,
essas palavras da nossa língua - "saber" e "sabor" - têm a
mesma raiz etimológica, evidenciando-se a íntima relação entre o experimentar e
o verdadeiro conhecer. Para Bacon, o método que se orienta pela experimentação
científica é tratado como a cura para uma mente que se norteava puramente pela
instável razão.
Incontáveis são os exemplos de
"cura científica" que a experimentação proporcionou: era pela razão
que se orientava Aristóteles quando falava sobre diferentes intervalos de tempo
para a queda de diferentes corpos, mas pela experiência de os lançarem da Torre
de Pisa, Galileu o desmistificou.
Se para Bacon a verdadeira ciência
atua como representação das reais intenções divinas, por que não enxergar sua
filosofia aplicada também a episódios da experimentação com o transcendente?
Também se orientava pela razão Saulo de Tarso, quando perseguia os cristãos.
Quando teve, na estrada para Damasco, a experiência com Jesus - segundo é
relatado pelas Escrituras Bíblicas - converteu-se ao cristianismo.
Mais tarde, o então Apóstolo
Paulo vem, novamente, entrar de acordo com as teorias baconianas com relação à
limitação do conhecimento humano. Bacon, humildemente admite que nossa
compreensão seja restrita, e que muito provavelmente jamais chegaremos à
verdade. São Paulo afirma: "com efeito, o nosso conhecimento é limitado,
como também é limitado nosso profetizar. (...) Agora nós vemos num espelho,
confusamente; mas, então, veremos face a face. Agora, conheço apenas em parte,
mas, então, conhecerei completamente, como sou conhecido". (ICor 13,
9.12).
Bacon e São Paulo também
concordam quando o Apóstolo elucida a respeito da fé cristã. O cristianismo
está para Paulo assim como o conhecimento está para Bacon: não devem ser meros
exercícios da mente, mas lograr bens à humanidade. Paulo afirma: "se eu
tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência,
(...) mas não tivesse amor, eu nada seria". (ICor 13, 2). Sobre a
inutilidade de possuir instrumentos sem que os utilize para algum bem, pode-se
encaixar também a afirmação da escritora mineira Adélia Prado, quando alude ao
famigerado ditado popular: "não quero faca nem queijo. Quero a fome".
Incontáveis seriam, em todas as
eras, os exemplos de reiteração da filosofia baconiana. Bacon preocupou-se,
sobretudo, com os alertas dos perigos a que a razão, desamparada, está sujeita.
A ciência que propõe pode, evidentemente, também conter equívocos decorrentes
de diversos fatores, internos e externos, mas com certeza é um passo seguinte
em direção ao horizonte da Verdade.
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