Weber analisa a sociedade capitalista nascente como fruto de um contexto permeado por processos de racionalização nos mais diversos âmbitos seja relativamente a bens materiais, a desenvolvimento científico-tecnológico, estruturas juridico-administrativas e até mesmo do homem em si, que talvez inconscientemente, absorveu certas condições de comportamento e padrões de ação conforme a conjuntura lhe demandava. É nesse cenário que se configura, sim, a racionalização da fé. A racionalização, sendo uma tomada de aspectos morais, éticos ou, como nesse caso, religiosos, atribuindo-lhe uma interpretação exclusivamente racional, era considerada por ele, essencial para o avanço do processo civilizatório. Mas será que tratando-se da fé, ela de fato representou um avanço?
Nasce, concomitante à efervescência do protestantismo em face do Catolicismo, uma ética do trabalho. Segundo Weber, os princípios protestantes ajudaram a firmar essa conduta social relativa ao econômico, pois trazia a ideia de produção de riquezas visando sua acumulação e não seu consumo, o que estava fortemente vinculado ao capitalismo moderno, que, por sua vez, tinha uma perspectiva de longo prazo relacionada à possibilidade de investimentos e da dinamização do capital. Um comportamento assim era visto com bons olhos, pois indicava a eficiência da pessoa, suas virtudes e seu comprometimento com o trabalho. A fé entra nesse cenário no papel de legitimadora, a defensora do protagonista - o capitalismo em avanço -, lutando contra o alheamento dos católicos no tocante aos empreendimentos materiais.
Essa análise tão fria desconsidera o papel principal da Reforma Protestante, ou pelo menos, a sua intenção verdadeira. Não duvido que, ainda àquela época, já houvessem capitalistas mais perspicazes que tenham apoiado a Reforma já visando de que forma poderiam dela se aproveitar futuramente para pregar o que era de seus próprios interesses. Mas de semelhante forma acredito que tem se deturpado muito, a partir dessa análise, por exemplo, o papel das religiões na História - seja a protestante, a católica ou quaisquer outras. Weber discordava de Marx quando este dizia que o fator econômico se sobrepunha aos outros, mas ele próprio se basta a discorrer sobre a religião no que concerne às suas implicações relativas justamente a aspecto. Não teríamos aí uma contradição?
Não nego que de alguma forma a Reforma possa ter funcionado como incentivo a princípios implícita ou explicitamente capitalistas. No entanto, a racionalização da fé, acabou por excluir o que nela há de mais importante, que, justamente, independe de explicações lógicas ou comprováveis.
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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