A luz da obra Crítica da
Razão Negra de Achille Mbembe, o professor Jonas Rafael dos Santos discorre
sobre a importância de se ensinar a cultura africana em suas diferentes
convergências e divergências na educação basilar no Brasil. Essa linha de
pensamento é sustentada pela importância de se dissolver a visão estritamente
eurocêntrica que já foi cultivada por muitos anos, assim, desenvolvendo novas
gerações miscigenadas capazes de se identificarem e adorem uma visão de maneira
mais multidimensional.
Diante dessa perspectiva,
evidencia-se a relevância dos processos seletivos dos vestibulares incorporarem
literários de cultura africana em suas listas de leituras obrigatórias. A
exemplo disso, enfatiza-se a célebre obra Mayombe de Pepetela quem esteve
inserido num contexto de liberdade dos movimentos modernistas de 1970 pautados
pelo movimento de Negritude e pelo processo de Independência de Angola. Por
isso, essa obra inclusive reflete o processo árduo discorrido por Mbembe a
respeito da construção das identidades nacionais soberanas africanas essenciais
para a consolidação do processo do direito à cidadania, contudo, sem silenciar
a diversidade tribal enraizada e tendo como plano de fundo histórico a
exploração colonial de subjugação dos países dominadores europeus.
Ademais, mesmo
diante da complexidade que representa se desfazer da visão colonial pautada no
racismo, é imprescindível discorrer sobre o conceito de Mbembe a respeito da
Necropolítica. Essa ideia representa o poder de ditar quem deve ou não morrer.
Em outras palavras, legitima-se que o Estado utilize sua autoridade e discurso
para criar zonas de morte com o objetivo de descartar os indivíduos mais
vulneráveis da sociedade como os negros.
Esse conceito pode ser nitidamente
observável por meio da violência policial contra a população de origem
afrodescendente tanto em âmbito internacional (caso do sufocamento de George
Floyd) quanto nacional (assassinato de João Pedro). Na música Capítulo 4,
versículo 3, escrita pelo grupo Racionais há a ilustração clara desse
cenário: “A cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negras/ Nas universidades brasileiras,
apenas 2% dos alunos são negros/ A cada
quatro horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo”.
Além
disso, no que tange a esfera jurídica, nota-se o quanto que o racismo atrelado
ao crime permeia a mentalidade de inúmeros funcionários do direito, como por
exemplo a juíza Lissandra Reis Ceccon quem proferiu uma sentença em 2018 com a
seguinte afirmativa: "Vale anotar que o réu não possui o estereótipo
padrão de bandido, possui pele, olhos e cabelos claros, não estando sujeito a
ser facilmente confundido”.
Portanto,
verifica-se a pertinência e relevância de muitas ideias desenvolvidas pelo
camaronês Achille Mbembe e transmitidas na aula do professor Jonas Rafael,
principalmente no que se refere aos pilares fundamentais da educação brasileira
que posteriormente também formará agentes do governo como policiais e juristas.
Soma-se a isso como o conceito contemporâneo de necropolítica e a violência
policial permitem compreender alguns dos percalços que os negros enfrentam de
assegurar sua identidade que ultrapassa a mera dominação europeia.
Referências
bibliográficas:
https://www.letras.mus.br/racionais-mcs/66643/
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