O poema
“Operário no mar” de Drummond deixa claro um afastamento entre o narrador e o
operário por ele descrito. Um homem misterioso, cansado pelo seu trabalho, com
marcas sob o corpo, caminha em direção ao mar, deixa a fábrica para trás, e ao
se molhar exprime um sorriso, o sorriso que chega a trazer esperança de
compreensão ao narrador. As passagens do poema podem ser interpretadas de
diferentes maneiras. Algumas delas demonstram a nítida separação de classes, a
separação entre o operário e o burguês, como na passagem: “Para onde vai o
operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi
meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza.... Ou talvez seja eu
próprio que me despreze a seus olhos. ” O poema vai além da descrição
do narrador, se referindo a um movimento histórico no Brasil, a Era Vargas e a
consolidação dos operários no Brasil. A literatura da época traz consigo uma
função social de criticar a realidade e conduzir uma consciência da mudança.
Esse
operário que sofre pela exploração capitalista, que é marginalizado pela
sociedade, descrito no poema de Drummond, dialoga com as teorias marxistas do
modo de produção, abordando um dos temas centrais de sua obra: a luta de
classes. Marx e Engels acreditam no real para a análise científica, um olhar
para o homem e sua história, trazendo assim o materialismo dialético que
difere do idealismo hegeliano. Os autores trazem então a história humana como a
história da luta de classes, sendo que o modo de produção capitalista nos leva a uma nova luta de classes , entre burgueses e operários. A marcha da
história conduz a revolução que gerará então uma nova ordem social.
Assim,
esse operário que caminha ao mar e que representa a figura de tantos outros
operários possui a força para uma emancipação social, subvertendo a
ordem e o distanciamento mostrado com o narrador. Drummond descreve: “Único
e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio
atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as
fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto,
trazer-me uma esperança de compreensão.” Ao caminhar deixando a fábrica para
trás e sorrir quando está no mar, o operário traz essa esperança da distância
entre as classes se minimizar.
Gabriela Guesso Pereira
1º ano Direito diurno
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