Na terceira parte do Curso de Filosofia Positiva, que aborda as condições do estabelecimento do regime positivo, Augusto Comte inicia seu ensaio dando a entender que as condições para o estabelecimento do regime por ele defendido já existem e são atendidas dentro da sociedade de sua época. No entanto, sua "tendência direta a desacreditar radicalmente as diversas escolas atuais" nos infere que há dois impecilhos no caminho do desenvolvimento da Filosofia Positiva: a escola teológica e a escola metafísica. Essas por Comte consideradas em diversos aspectos inferiores à positivista.Segundo o autor, a escola Positivista tende principalmente a impor aos detentores do poder o atendimento às reais necessidades do povo e isso, para ele, é um argumento ressaltando sua escola filosófica.
Comte, dentro dessa obra, configura-se como um grande crítico das especializações dentro das ciências. Para ele, a ideia de especificação corresponde à de limitação das ciências, e, por tal razão, o autor é um ferrenho defensor do que podemos chamar de universalização científica ("Assim a nova filosofia, que exige diretamente o espírito de conjunto").
Ao defender suas teses, o filósofo apela diretamente para o que nomeia como "bom senso universal" (tendo-se em vista que a filosofia positiva visa sobretudo atender ao povo, por isso a "universalidade das inteligências, que compreende todos os estratos sociais), e uma delas, de suma relevância diga-se aqui, é a da educação universal. Tal conceito, segundo o autor, é de uma educação que melhoraria consideravelmente as "noções essenciais" dos estudantes, proporcionando-lhes "clareza de tudo".
Em conformidade com o que Comte dá a entender, a educação universal tem como público alvo o proletariado. O autor, ressalta que a instrução universal facilita todo o processo de aprendizagem e previne um mal que assombra a humanidade há séculos: a ascendência da metafísica em decorrência da ignorância de um povo, e diz ainda, lembrando Descartes e Bacon, que o bom senso do povo decorre do fato de o mesmo não ter tido contato com a cultura escolástica. Em suma, neste trecho da obra Comte diz indiretamente que a filosofia positiva "salvará" o proletariado da alienação teológica e religiosa.
Essa afinidade entre proletariado e filosofia positiva decorre, entre outros fatores, do fato de que, segundo o filósofo, os operadores diretos, ou seja o proletariado, serem mais acessíveis ao positivismo. Isso porque vivem realmente a realidade das classes desprivilegiadas, e a escola positiva pressupõe que a felicidade pode ser encontrada em qualquer condição econômica desde que o cidadão tenha sua dignidade e honra asseguradas.
Ainda tratando do proletariado, pode-se dizer que a filosofia de Comte caiu como uma luva para essa porção da sociedade. Isso é dito tendo-se em vista que há o reconhecimento de que não há de fato uma luta essencialmente popular, e considera-se a desilusão popular, seu potencial de ação e reinvindicação, seu desejo pelo estabelecimento de regras de conduta e, também, seu inalienável poder moral. A filosofia positiva tem afinidade com o proletário porque estabelece um verdadeiro "programa social dos proletários".
Mencionando novamente o programa social dos proletários, pode-se dizer que ele vem acompanhado não só da ascensão da escola positiva mas também de reformas sociais. Pressupõe-se com auxílio da lógica que nesse cenário o positivismo ganhará espaço e substituirá outras filosofias.
Comte também classifica as ciências e estabelece entre elas uma hierarquia. Entretanto, ele ressalta que apesar das ciências possuirem suas diversidades, seu objeto final permanece o mesmo, é o homem. Não obstante, estabelece que a filosofia natural precede a filosofia humana e ressalta de forma enfática que o método nas ciências sobrepõem-se às doutrinas.
Tais considerações acerca dessa obra de Augusto Comte nos permitem concluir que o filósofo era, além de exímio pensador, um indivíduo que reconhecia o potencial do proletariado e, apesar de algumas de suas considerações de cunho científico serem talvez contestáveis, que preocupava-se com os rumos da educação tanto em seu país como em outros. Isso nos mostra não somente a imagem de um filósofo, mas sim a de um visionário.
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