O positivismo
de Comte, nascido em meados do século XIX não podia melhor sintetizar a era que
se iniciara algumas décadas antes e da qual ainda não demos conta de sair. A Europa
do final do século XVIII era revolucionária; a das próximas décadas do século
seguinte já possuía uma estrutura mais ou menos fixa, tendo atingido ao menos
em parte os anseios dos revolucionários franceses e ingleses do século
anterior, que derrubaram reis e entregaram o poder ao povo (ao menos à burguesia),
o velho mundo já se estabelecia de um modo mais conservador, com pouco
interesse de mudança. O mundo já estava em certa ordem.
É nesse momento
que as ciências, em especial as naturais se desenvolvem de maneira
impressionante, físicos, químicos, biólogos, astrônomos, todos eles descobrem fórmulas
e leis gerais capazes de desvendar os segredos do universo, dominar a natureza
e compreender racionalmente o mundo. As ciências humanas, por outro lado permaneciam
no campo do que não era considerado propriamente científico, até que um filósofo
francês propusesse uma ciência que estudasse, com o rigor do método científico
de Descartes e Bacon, a sociedade. Assim nascia a filosofia positiva, um embrião
da sociologia que mais tarde seria desenvolvida.
Comte
sintetizou em sua filosofia todo o espírito de uma era – que ecoa até os dias de
hoje e parece impregnada na consciência coletiva – racionalista,
antropocentrista e, principalmente pragmática. As classes dominantes de meados
do século XIX não eram apenas a aristocracia e a realeza, que, sempre tendo
estado em posições favorecidas podiam se dar ao luxo de filosofar, de pensar
nas coisas belas e nos problemas sem a menor intenção de propor soluções
viáveis, muito menos de resolvê-los. Entrava agora em campo uma nova classe, que
saída das camadas populares vinha ganhando poder econômico e consequentemente
político. A burguesia não se importava como os nobres com coisas etéreas,
imateriais e que não tinham uma finalidade prática que pudesse lhes gerar lucro,
o que interessava aos burgueses eram soluções para seus problemas cotidianos. Ou
seja, precisavam de uma filosofia pragmática e a de Auguste Comte serviu
perfeitamente para isso.
O positivismo,
como física social não se interessa em entender o “porquê” das coisas, basta
saber como funciona e para o que serve e se não servir para nada, então não precisa
existir. Assim surge um pensamento altamente pragmático e cercado de métodos
(influências de Bacon e Descartes) para compreender tudo o que importasse na
sociedade.
Além disso, agora que a burguesia
já tinha em suas mãos uma importante fatia do poder na Europa, ela devia tentar
mantê-lo de todas as formas, ou seja, a classe que algumas décadas antes tinha
decapitado reis e criado novas formas de governo era agora conservadora e precisava
manter a ordem em que o velho mundo estava. Comte mais uma vez traz a base
teórica para os novos poderosos: a ordem é fundamental para o progresso e essas
são as características de sociedades modernas e civilizadas. Era exatamente
disso que precisavam: manter a ordem em que as coisas estavam e conseguir mais
e mais progresso para suas fábricas.
Assim, fica evidente que o positivismo
não só descreve a Idade Contemporânea, abarcando todo o seu período, da
Revolução Francesa aos dias de hoje, como também foi de suma importância para
que essa ordem se estabelecesse globalmente até a atualidade.
Maria Júlia Magalhães Leonel, 1º ano direito matutino
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