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domingo, 24 de abril de 2022

Como o positivismo é capaz resumir todo o espírito de uma era

 

O positivismo de Comte, nascido em meados do século XIX não podia melhor sintetizar a era que se iniciara algumas décadas antes e da qual ainda não demos conta de sair. A Europa do final do século XVIII era revolucionária; a das próximas décadas do século seguinte já possuía uma estrutura mais ou menos fixa, tendo atingido ao menos em parte os anseios dos revolucionários franceses e ingleses do século anterior, que derrubaram reis e entregaram o poder ao povo (ao menos à burguesia), o velho mundo já se estabelecia de um modo mais conservador, com pouco interesse de mudança. O mundo já estava em certa ordem.

É nesse momento que as ciências, em especial as naturais se desenvolvem de maneira impressionante, físicos, químicos, biólogos, astrônomos, todos eles descobrem fórmulas e leis gerais capazes de desvendar os segredos do universo, dominar a natureza e compreender racionalmente o mundo. As ciências humanas, por outro lado permaneciam no campo do que não era considerado propriamente científico, até que um filósofo francês propusesse uma ciência que estudasse, com o rigor do método científico de Descartes e Bacon, a sociedade. Assim nascia a filosofia positiva, um embrião da sociologia que mais tarde seria desenvolvida.

Comte sintetizou em sua filosofia todo o espírito de uma era – que ecoa até os dias de hoje e parece impregnada na consciência coletiva – racionalista, antropocentrista e, principalmente pragmática. As classes dominantes de meados do século XIX não eram apenas a aristocracia e a realeza, que, sempre tendo estado em posições favorecidas podiam se dar ao luxo de filosofar, de pensar nas coisas belas e nos problemas sem a menor intenção de propor soluções viáveis, muito menos de resolvê-los. Entrava agora em campo uma nova classe, que saída das camadas populares vinha ganhando poder econômico e consequentemente político. A burguesia não se importava como os nobres com coisas etéreas, imateriais e que não tinham uma finalidade prática que pudesse lhes gerar lucro, o que interessava aos burgueses eram soluções para seus problemas cotidianos. Ou seja, precisavam de uma filosofia pragmática e a de Auguste Comte serviu perfeitamente para isso.

O positivismo, como física social não se interessa em entender o “porquê” das coisas, basta saber como funciona e para o que serve e se não servir para nada, então não precisa existir. Assim surge um pensamento altamente pragmático e cercado de métodos (influências de Bacon e Descartes) para compreender tudo o que importasse na sociedade.

    Além disso, agora que a burguesia já tinha em suas mãos uma importante fatia do poder na Europa, ela devia tentar mantê-lo de todas as formas, ou seja, a classe que algumas décadas antes tinha decapitado reis e criado novas formas de governo era agora conservadora e precisava manter a ordem em que o velho mundo estava. Comte mais uma vez traz a base teórica para os novos poderosos: a ordem é fundamental para o progresso e essas são as características de sociedades modernas e civilizadas. Era exatamente disso que precisavam: manter a ordem em que as coisas estavam e conseguir mais e mais progresso para suas fábricas.

Assim, fica evidente que o positivismo não só descreve a Idade Contemporânea, abarcando todo o seu período, da Revolução Francesa aos dias de hoje, como também foi de suma importância para que essa ordem se estabelecesse globalmente até a atualidade.


Maria Júlia Magalhães Leonel, 1º ano direito matutino 

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