A persistência positiva
No século XIX, influenciado pelos avanços científico-tecnológicos e pelas movimentações sociais da época, o francês Auguste Comte elaborou o Positivismo, a "filosofia positiva", que fundamentava seu estudo na sociedade. Para ele, tal filosofia, também chamada de física social, seria a etapa final da construção do conhecimento, que deveria ser fundamentado por estudos empíricos, tal qual as ciências naturais. Assim, essa corrente não procura a origem ou o destino das coisas, mas somente como seus fenômenos se relacionam, o que faz com que ela valorize a ordem e as normas sociais, que tornam lógicos as relações dos fenômenos sociais.
Dessa forma, o positivismo encara a ordem, a norma social, como caminho para o progresso e o que vai não faz parte da ordem, como subversivo. Logo, na física social, é essencial que a moral racional, em que a sociedade se sobrepõe ao indivíduo, seja cumprida para garantir o avanço harmônico social dentro da ordem positivista. Nesse sentido, a filosofia positiva incentiva a apreciação dos deveres essenciais, já parte da ordem e de acordo com a moral, e despreza a discussão de direitos que ainda não foram garantidos às pessoas, vista como uma subversão das normas existentes.
Mesmo dois séculos após o desenvolvimento do positivismo e a ocorrência de avanços estrondosos no campo sociológico e jurídico desde então, o discurso e a valorização excessiva da ordem para a garantia do progresso, características positivistas, ainda são presentes no plano político atual. Como exemplo, tem-se o posicionamento da extrema direita brasileira, representada pela figura do presidente Jair Bolsonaro, que tem como máxima "Brasil acima de todos, Deus acima de tudo". Tal frase reforça a ideia da moral positiva, que sobrepõe a ideia coletiva da nação sobre os brasileiros em si, de modo a reforçar que o país seria mais importante que sua população, ou seja, que a manutenção da ordem nacional está acima das necessidades particulares do povo. Além disso, é apelativa para com a moral religiosa, sem abandonar o positivismo, ao colocar Deus acima de todas as coisas, pois tenta colocar todas as pessoas como impotentes em relação à ordem vigente, desprezando o que diverge dela como inferior.
Assim, é possível ver efeitos da física social de Comte na contemporaneidade para além da exemplificação feita, os quais se manifestam de formas diferentes em cada contexto que são reconhecidos, mas preservam as características fundamentais positivistas. Porém, essa perduração dos ideais positivos na atualidade é preocupante pois inviabiliza necessidades, lutas e pautas de minorias, consideradas como subversivas por quem os têm por não serem englobadas pelas normas sociais tradicionais. No entanto, ao contrário da visão positiva, não há progresso sem a garantia de condições dignas e equivalentes para todas as pessoas.
Luiza Polo Rosario - 1º ano Matutino
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