Em seu
discurso logo após a vitória contra a Proposta 6, que ia à contramão aos
direitos dos homossexuais, Harvey Milk explana o cerne das lutas sociais
presentes no ideário de Alex Honneth: a existência coletiva tomando forma como
relações ampliadas de reconhecimento.
O filme “Milk:
A Voz da Igualdade” explana e coloca em xeque aquilo que se distingue entre os
sentimentos morais e as intempéries das condições econômicas ou sociais. O
filme conta a trajetória de Harvey Milk, que desde o início de seu ativismo
político, ao abrir uma loja no distrito de Castro em São Francisco, deixava
escrachado que ali o movimento ditava as investidas econômicas que nele
resvalariam e a organização de homossexuais e apoiadores como um movimento
político, e não o contrário. Numa progressiva construção, fica evidente que o
reduto ativista dentro de Castro torna-se um centro propulsor de ideias e, ao
mesmo tempo, atrai para si um contingente maior de pessoas que se veem, na
medida de suas especificidades, desrespeitadas em relação ao ultraje feito
contra os direitos que os indivíduos homossexuais possuíam ou almejavam possuir.
O que o
movimento e seus atores mostram, então, é que o autorrespeito e a autorrealização
quando coletivizados são potencializados a condições experienciadas pela massa componente
dessa coletividade. E, não só restrito ao âmbito pessoal, a esfera respeitosa
começa a tangenciar as decisões políticas. Por isso que o caminho que levou à
vitória contra a Proposta 6 é encontrado também quando se tem uma ação
judicializadora para reconhecer direitos na união homoafetiva dentro do aparato
estatal brasileiro.
As
experiências compartilhadas, mesmo que por indivíduos diferentes, são agentes
aglutinadores dentro de um círculo de sujeitos onde busca-se a reciprocidade
como fator ligante à igualdade. Desde Milk até as investidas do Supremo
Tribunal Federal brasileiro, o espectro que ronda é aquele que, finalmente, a
possibilidade de se reconhecer como igual tende a não ser mais obstaculizada
por agentes internos de movimentação psicológica, e, aos poucos, as feridas
abertas pelas diversas lesões provocadas em virtude do preconceito aos
homossexuais serão estancadas pelo engajamento na luta pelo respeito de
parte-integrantes heterogêneas da sociedade que compartilham de um mesmo
entendimento de injustiça.
Leonardo Henrique de Oliveira Castigioni
1º Ano Direito - Noturno
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