Deitados e olhando pro teto
Pensam na vida e dividem as experiências do dia.
Juntos fazem o jantar.
Dividem as contas.
Sonham em filhos e quarto colorido.
Dormem num lar
E ali se sentem seguros dos olhares,
Da violência, do asco.
Não foi fácil chegar ali.
Histórias de inadequação.
Medo e angústia.
“Prefiro um filho morto do que veado”
“Prefiro um filho morto”
“Veado não meu é filho”
“Morto eu prefiro”
“VEADO”
(ecoa renitente a fala em ambas as memórias)
Vivem uma vida própria.
Querem ser felizes.
Querem direitos.
Compõem uma instituição
que não foi feita para eles.
Mas embutido na mente está o desejo.
Está o “casar” e serem plenos.
Diante da vida pra levar.
Diante das armas pra se lutar.
A superestrutura e a manutenção.
Gritaram para os homens brancos,
para os cultuados cultos do poder,
que eles existiam,
que dignidade não é privilégio.
Reuniram-se os homens do poder.
O tribunal, a constituição e poltronas mostardas.
“Igualdade” palavra latente e observada.
Interpretar a carta a maior e dizer o direito.
Efetivos? Representativos?
Talvez um remedinho para estancar a sangria.
Pó de café, açúcar, curativo para estancar a crise.
No Congresso nacional o pus da conservação escorre pelas
paredes.
Na casa verde e na azul uma morosidade de espantar Macunaíma.
Bancada que vomita crença e que tapa os ouvidos para quem
grita.
A representação glosada, a aclamada Democracia
Representativa,
caminha pelo sucumbir da estrutura e a reformulação é
precisa.
Política e justiça.
Mescla nos poderes.
O distanciamento do modelo e da forma.
O tribunal enfaixou a ferida
Mas a superação ainda cambaleia.
A cura ainda há de vir.
Há de vir?
Mas deve-se dizer,
Aos moços de que sonham olhando pro teto.
As outras moças que sonham olhando pro teto.
Que o casar é direito. Efeito e união.
A estável união imposta pelos homens.
A monogamia instituída.
Mas uma vida pra se levar, lavar e construir.
- O noivo já pode beijar
o noivo...
Dentro de casa. (sussurra o juiz de paz)
José Eduardo Adami de Jesus, 1º ano Direito (noturno)
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