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sábado, 25 de abril de 2015

Método baconiano na poesia de Baudelaire.

Em 1840, T.S. Eliot, poeta modernista e, mais enfaticamente, crítico literário, introduz em seu ensaio Hamlet and His Problems o conceito de correlato objetivo, que seria mais tarde associado ao poeta francês Charles Baudelaire. Tal expressão consiste em, através da percepção do real, chegar sempre a um correlato objetivo para uma emoção ou sentimento que queremos exprimir – isto é, valer-se de analogias concretas para sentimentos abstratos.
O desejo pela representação da verdade sempre esteve presente na obra de Baudelaire, afastando-lhe dos romancistas. A dissonância, porém, toma corpo ao situar nos sentidos a bússola que aponta para a verdade. Baudelaire, separado por dois séculos de história, remonta ao método baconiano em suas obras ao valer-se dos sentidos para explorar a realidade que o cerca.

A natureza é um templo augusto, singular,
Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa;
Um bosque simbolista onde a árvore frondosa
Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar.”

Correspondências – Charles Baudelaire

A despeito da falta de rigorosidade científica, por se tratar de uma obra artística, o poema revela a influência da filosofia baconiana enquanto meio de se atingir a verdade. Enganam-se, porém, aqueles que imaginam tal “filosofia dos sentidos” como uma filosofia sem regras. Ao contrário de Descartes, que invalida o uso dos sentidos para a experimentação científica, por conta desses serem extremamente suscetíveis ao embaraço da enganação, Bacon prefere treiná-los para que se tornem aptos à boa investigação da verdade.
Partindo de uma visão realista, porém esperança, do homem, Bacon apresenta dois projetos de método que o novo homem da ciência pode seguir: a Antecipação da Mente e a Interpretação da Natureza. No primeiro, conserva-se tudo que há de bom e louvável da ciência; como um vinicultor, age com paciência e cuidado ao difundir as sólidas bases da nova ciência através de conceitos simples. O segundo caminho, porém, age com a altivez de uma ciência revolucionária, muitas vezes até parecendo incompreensível para o homem incauto por conta de sua aspereza e complexidade. Seria tolice esperar dos homens que todos seguissem o segundo projeto de método, pois esse causa ruptura com o conhecimento pré-estabelecido, não sendo facilmente acessível a todos.


Ademais, Bacon elenca uma série de vícios do homem que devem ser exauridos para que se possa fazer o uso correto dos sentidos. Chamando-os de “ídolos”, Bacon critica o uso incorreto da linguagem enquanto entrave para uma discussão aprofundada, as filosofias e crenças antigas que se instauram em nosso ser e atordoam os sentidos e a parcialidade que tira a honestidade do debate. Tudo isso corrobora para despir de pré-julgamentos o método baconiano, que pode parecer, a primeira vista, pouco rígido, mas que se revela como um verdadeiro curso de apuração dos sentidos.

Daniel Orpinelli - 1° ano, noturno.

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