Em
1840, T.S. Eliot, poeta modernista e, mais enfaticamente, crítico
literário, introduz em seu ensaio Hamlet
and His Problems
o conceito de correlato
objetivo,
que seria mais tarde associado ao poeta francês Charles Baudelaire.
Tal expressão consiste em, através da percepção do real, chegar
sempre a um correlato objetivo para uma emoção ou sentimento que
queremos exprimir – isto é, valer-se de analogias concretas para
sentimentos abstratos.
O
desejo pela representação da verdade sempre esteve presente na obra
de Baudelaire, afastando-lhe dos romancistas. A dissonância, porém,
toma corpo ao situar nos sentidos a bússola que aponta para a
verdade. Baudelaire, separado por dois séculos de história, remonta
ao método baconiano em suas obras ao valer-se dos sentidos
para explorar a realidade que o cerca.
“A
natureza é um templo augusto, singular,
Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa;
Um bosque simbolista onde a árvore frondosa
Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar.”
Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa;
Um bosque simbolista onde a árvore frondosa
Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar.”
Correspondências
– Charles Baudelaire
A
despeito da falta de rigorosidade científica, por se tratar de uma
obra artística, o poema revela a influência da filosofia baconiana
enquanto meio de se atingir a verdade. Enganam-se, porém, aqueles
que imaginam tal “filosofia dos sentidos” como uma filosofia sem
regras. Ao contrário de Descartes, que invalida o uso dos sentidos
para a experimentação científica, por conta desses serem
extremamente suscetíveis ao embaraço da enganação, Bacon prefere
treiná-los para que se tornem aptos à boa investigação da
verdade.
Partindo
de uma visão realista, porém esperança, do homem, Bacon apresenta
dois projetos de método que o novo homem da ciência pode seguir: a
Antecipação da Mente e a Interpretação da Natureza. No primeiro,
conserva-se tudo que há de bom e louvável da ciência; como um
vinicultor, age com paciência e cuidado ao difundir as sólidas
bases da nova ciência através de conceitos simples. O segundo
caminho, porém, age com a altivez de uma ciência revolucionária,
muitas vezes até parecendo incompreensível para o homem incauto por
conta de sua aspereza e complexidade. Seria tolice esperar dos homens
que todos seguissem o segundo projeto de método, pois esse causa
ruptura com o conhecimento pré-estabelecido, não sendo facilmente
acessível a todos.
Ademais,
Bacon elenca uma série de vícios do homem que devem ser exauridos
para que se possa fazer o uso correto dos sentidos. Chamando-os de
“ídolos”, Bacon critica o uso incorreto da linguagem enquanto
entrave para uma discussão aprofundada, as filosofias e crenças
antigas que se instauram em nosso ser e atordoam os sentidos e a
parcialidade que tira a honestidade do debate. Tudo isso corrobora
para despir de pré-julgamentos o método baconiano, que pode
parecer, a primeira vista, pouco rígido, mas que se revela como um
verdadeiro curso de apuração dos sentidos.
Daniel Orpinelli - 1° ano, noturno.
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