O pensamento racional é objeto de estudo recorrente
nas ciências - exatas e humanas – devido
a sua complexidade e por não ser um conceito hermético. À luz dessa afirmação,
Francis Bacon apresenta sua teoria a partir de um viés inovador, tanto quanto o
fez Descartes. Nesse sentido, o âmago da teoria baconiana, em Novo Organum, consiste na ênfase dada à
investigação científica e – obviamente- à razão.
Na atualidade, tal realce é reiterado no campo
jurídico, pois, vive-se a era em que a jurisprudência não depende somente do
direito normativo. Pela experiência e observação de casos concretos, a lei e a
prática tornam-se interdependentes. Exemplo disso seria a questão do estatuto
da família, na qual, o fundamento legal (razão) está em desacordo com o
contexto real (observação prática), já que, o conceito de família não se
sustenta mais apenas nos moldes tradicionais, mas é hoje também protagonizado
pelas relações homo afetivas não previstas em leis.
Conseguinte à perscrutação científica, Bacon aponta
a importância da clareza e instrumentalidade na razão, colocando-as em oposição
com a fantasia e a contemplação (herdada do mundo grego); julga assim, o método
indutivo aplicável enquanto refuta o dedutivo. Desse objeto rejeitado é que
provêm os ídolos, ou seja, as noções de mundo distorcidas. Tomando como
referência um deles – ídolo da caverna – pode-se relacioná-lo ao cotidiano.
Muitas das tradições em diversas culturas não se originam do método científico,
mas meramente do empirismo. Dessa forma, a tradição pode ser motivação para a
cegueira racional, para a alienação, devido à dificuldade de desprendimento de
uma ideologia e aceitação de outra. Ocorre, assim, em estados teocráticos, como
os islâmicos, nos quais, a predominância da religião tradicional, fomenta a
repetição de axiomas tidos como verdades incontestáveis.
Em suma, no organismo social ocorre, desde tempos
mais remotos, uma releitura do conceito de racionalidade. O cineasta Ingmar
Bergman, em O Sétimo Selo, nos coloca frente a esse impasse razão x tradição, visto
que, o filme aborda a relação de um indivíduo com a morte em uma época ladeada
pela concepção cristã, cujo poder era irrefutável. Pela metáfora do jogo de
xadrez entre a morte e um cavaleiro, expõe a ideia da razão em função da
dúvida. Portanto, aí encontra-se a prova de tal releitura: um filme produzido
em meados de 1950, retratando uma era medieval e lembrado até os dias atuais
como um marco sobre o estudo da razão x a tradição, o empirismo e, no caso da
teoria de Bacon, os ídolos.
Ana Flávia Toller - 1º ano direito diurno - Aula 3.
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