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sábado, 25 de abril de 2015

A castidade de Francis Bacon

Em entrevista ao programa Abertura, da extinta TV Tupi, no ano de 1979, o antropólogo e escritor mineiro Darcy Ribeiro faz duras críticas à geração acadêmica então existente no Brasil, alegando e denunciando a falta de atuação por parte dos intelectuais e estudiosos das universidades na época. Darcy caracteriza aquela classe de cientistas sociais como infecunda, por estar mais interessada em reproduzir as falas de consagrados pensadores para formular discursos tidos por inteligentes do que observar a realidade social brasileira e assim poder intervir de maneira positiva e construtiva no contexto político de então.
O apontamento de Ribeiro evidencia a contemporaneidade do pensamento de Francis Bacon, visto que a crítica do escritor brasileiro ao referir-se à geração setentista de intelectuais pode ser posta em paralelo com as restrições feitas pelo pensador inglês em relação ao procedimento dos gregos antigos na elaboração de sua filosofia. Em ambos os julgamentos a condenação é direcionada à fartura em palavras em detrimento da efetiva realização de obras, ou, nas palavras do próprio Darcy, à masturbação teórica - a qual, além de prover tanto prazer quanto a física, ainda resulta na exaltação dos indivíduos que a proferem.
Transpondo reflexões dessa ordem para um contexto ainda mais atual, é possível verificar nas tão frequentes andanças pelas redes sociais um surto pandêmico de 'lascívia teórica', tendo em vista a necessidade de autoafirmação presente no ambiente virtual. Acometidos por tal ímpeto luxurioso, os usuários, em sua maioria, tendem a aliviá-lo utilizando - não pela primeira vez - o infrutífero recurso da masturbação teórica e esbanjam, assim, uma suposta bagagem cultural e seletos raciocínios especulativos a fim de causar impressões no próximo. E mesmo sabendo da diminuta dimensão prática e efetiva de tais abstrações, persistem no erro de elaborá-las, seguindo assim a tradição milenar da humanidade de ceder aos impulsos que a mente tem de deixar-se guiar por si mesma.
Não é difícil, pois, entender por que Bacon concebia que seus princípios para um conhecimento válido e pragmático somente seriam seguidos por alguns espíritos idôneos e capazes, castos o suficiente para não serem seduzidos pelo onanismo da teorização vazia e infrutífera.

André Rodrigues Pádua
1º ano - Direito diurno
Introdução à Sociologia - Aula 03




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