O Avanço da Mídia e a
Regressão da Criticidade
Durkheim analisava a
transformação da sociedade em duas principais etapas: a solidariedade mecânica,
pré-moderna e a orgânica, moderna. Contudo vemos exemplos diários de como esses
conceitos se confundem na contemporaneidade. Tudo isso devido a uma visão
maniqueísta levada pela mídia de forma a polarizar as opiniões.
A
solidariedade mecânica se daria em comunidades atrasadas, arcaicas. Os laços
familiares, as crenças, os valores seriam predominantes na formação ideológica
do indivíduo. Como seriam sociedades menores e familiares, as opiniões seriam
homogêneas, empregadas com a carga ideológica do grupo. Este fator seria determinante
até na estrutura de subsistência, na economia. Uma manifestação da
solidariedade mecânica seriam os códigos penais baseados na religião, como ocorria
na Antiguidade.
Já nas solidariedades orgânicas,
ocorreria o contrário: uma estrutura grande e complexa, necessária para sua
manutenção e desenvolvimento. Isso geraria uma multiplicidade de opiniões,
derivada das interações dos diversos grupos com os outros nesse processo de
engenharia social. Cada um teria sua própria opinião, contudo a lei imperaria
frente aos costumes, tão diferentes para cada pessoa. Ter-se-ia por objetivo
uma legislação reparativa e não vingativa, isenta de julgamento de valor ou
moralizada.
Após a leitura dos dados da
pesquisa Datafolha, chega-se à conclusão de que um dos elementos mais marcantes
da solidariedade mecânica ainda está fortemente presente em nossa sociedade: a coerção
exercida de forma imediata, violenta e punitiva – uma vingança social.
Outro fator interessante que se
observa após mais dados é a influência que a religião e os valores ainda têm na
formação de opinião: entre evangélicos, 77% desaprovam a união, e entre os
católicos, metade. Durkheim previa que nas sociedades industriais as opiniões
seriam múltiplas e divergentes, não homogeneizadas como constatado. O senso
crítico seria maior nas sociedades complexas pelo fato de integrarem pessoas de
diversas origens e opiniões para a construção do grupo.
Muito já foi feito: o acesso à
educação, à informação aumentou e as mídias sociais espalham notícias com a
opinião dos blogueiros, criando multiplicidade de opiniões. Mas quando estes
meios são controlados por pequenos grupos, a teoria de Émile cai por terra pelo
poder de influência que esta tem nas massas.
Faz-se, então, necessária uma
mídia realista, não monopolista, que tente da mesma forma que as leis, não
criar julgamento de valor, dessa forma estimulando a população a tomar sua
própria decisão como previsto pelo sociólogo.
Raul da Silva Carmo - Aluno do Primeiro Ano do Curso de Direito da FCHS da UNESP - Franca
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