É fácil olhar para as imagens de famílias atravessando fronteiras, carregando o pouco que sobrou de suas vidas em mochilas surradas, e pensar: "Isso não tem nada a ver comigo." Afinal, temos nossos próprios problemas—contas para pagar, filhos para criar, empregos que nos consomem. Mas e se eu te dissesse que a história dessas pessoas não é só deles? Que a mesma teia de decisões políticas, conflitos e desigualdades que os obrigou a fugir também nos afeta, mesmo que de formas menos visíveis?
1. O que acontece quando fechamos os olhos?
Vivemos tão mergulhados em nossas rotinas que esquecemos: não existimos em bolhas. Quando alguém vira as costas para um refugiado, não está apenas ignorando um estranho—está ignorando como guerras financiadas por interesses globais, terras arrasadas pela ganância de grandes potências e climas alterados por um desenvolvimento sem limites criam ondas que, cedo ou tarde, chegam até nós. Nenhum muro é alto o suficiente para separar totalmente "nós" de "eles".
2. "Incomodou meu bairro" vs. "O mundo inteiro está doente"
Pensamento estreito: "Um refugiado chegou aqui e trouxe problemas."
→ Como se ele tivesse escolhido deixar sua casa, sua língua, seus mortos para trás só para "atrapalhar" alguém.
Pensamento aberto: "O que fizemos—ou deixamos de fazer—para que famílias inteiras precisem fugir assim?"
→ Por trás de cada barco lotado, há décadas de exploração, acordos políticos fracassados e um sistema que trata vidas como números.
3. Enxergar além do próprio umbigo
Para entender de verdade o desespero de quem foge, precisamos:
Olhar para trás: Quem vendeu as armas? Quem explorou essa terra até secá-la? Quem decidiu que algumas vidas valem menos?
Olhar ao redor: Aquele homem sírio no metrô não é um "invasor"—é um professor, um pai, alguém que perdeu tudo porque o mundo permitiu que sua cidade virasse pó.
Olhar para frente: Se não agirmos juntos, seremos a próxima geração a assistir, impotente, enquanto mais gente é empurrada para o abismo.
Conclusão: Ninguém é só espectador
Dizer "não é minha culpa" não resolve nada. Enquanto tratarmos o sofrimento alheio como um incômodo distante—e não como um sinal de que todo o sistema está falhando—estaremos cavando um buraco que, um dia, pode nos engolir também. A questão não é "por que eles estão aqui?", mas "o que nós, como sociedade, vamos fazer sobre isso?". Porque no fim das contas, ou aprendemos a ver o mundo como uma teia em que todos estamos ligados, ou seremos lembrados como a geração que preferiu fechar os olhos
Excelente, Theo. Estamos todos na mesma teia, interligados. Precisamos de mais corresponsabilidades. Um abraço, Alexandre.
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