O Custo Humano da Precarização
Nas
últimas décadas, a crise de saúde mental tem se intensificado de maneira
alarmante, especialmente entre trabalhadores submetidos a condições cada vez
mais extenuantes. Longe de se tratar de um problema meramente individual, essa
problemática encontra raízes profundas nas transformações estruturais
promovidas pelo neoliberalismo e seus mecanismos. Sob a
ótica da imaginação sociológica de C. Wright Mills, torna-se evidente que os
altos índices de ansiedade, depressão e esgotamento não podem ser dissociados
das dinâmicas econômicas e sociais que regem o mundo contemporâneo.
Em
primeiro lugar, é imprescindível destacar que o neoliberalismo, ao preconizar a
desregulamentação do mercado, a flexibilização das relações laborais e a
redução do papel do Estado, engendrou um cenário no qual a estabilidade
empregatícia foi substituída por um modelo extremamente precarizado. Como
consequência desse processo, observa-se a ascensão da uberização, fenômeno que,
ao transformar trabalhadores em prestadores de serviço sem vínculo formal, os
priva de direitos fundamentais, como previdência, descanso remunerado e jornada
regulamentada. Dessa forma, o indivíduo se vê compelido a submeter-se a
jornadas exaustivas e instabilidade financeira constantes, o que, por sua vez,
compromete significativamente sua saúde mental.
Ademais,
é inegável que essa lógica é reforçada pela ideologia do hustle culture, que
glorifica a hiperprodutividade e atribui ao indivíduo total responsabilidade
pelo próprio sucesso ou fracasso. Esse discurso, ao mesmo tempo em que
invisibiliza as desigualdades estruturais, transfere a culpa das dificuldades
enfrentadas pelo trabalhador exclusivamente para sua conduta pessoal. Dessa
maneira, em vez de reconhecer o impacto sistêmico da precarização, impõe-se a
crença de que a solução reside no esforço individual, ignorando deliberadamente
os determinantes sociais que perpetuam essa realidade.
Diante
desse contexto, torna-se imperativo que a sociedade como um todo repense os
impactos desse modelo e reivindique medidas que mitiguem seus efeitos nocivos. Assim,
resgatando a perspectiva de Mills, é fundamental que os indivíduos desenvolvam
a imaginação sociológica, enxergando que seus sofrimentos não são meras falhas
pessoais, mas sim sintomas de um sistema econômico que precisa ser questionado
e reformulado. Somente ao compreender essa interconexão entre biografia e
estrutura social será possível romper com a lógica da alienação e construir uma
sociedade mais justa, onde o bem-estar não seja continuamente sacrificado em
nome da produtividade irrestrita.
Felipe Bechelli Caldas
Direito matutino 1 ano
RA:251221482
Texto muito bem escrito, Felipe. Parabéns. De todo modo, ainda que eu concorde com sua abordagem, acredito também que não podemos apenas compreender que tudo é uma derivação de estruturas impostas. Há a responsabilidade do todo e de cada parte que o compõe. Noção de corresponsabilidade poderia nos ajudar. Concorda? Um abraço, Alexandre.
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