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segunda-feira, 24 de março de 2025

O Custo Humano da Precarização

 

O Custo Humano da Precarização

Nas últimas décadas, a crise de saúde mental tem se intensificado de maneira alarmante, especialmente entre trabalhadores submetidos a condições cada vez mais extenuantes. Longe de se tratar de um problema meramente individual, essa problemática encontra raízes profundas nas transformações estruturais promovidas pelo neoliberalismo e seus mecanismos. Sob a ótica da imaginação sociológica de C. Wright Mills, torna-se evidente que os altos índices de ansiedade, depressão e esgotamento não podem ser dissociados das dinâmicas econômicas e sociais que regem o mundo contemporâneo.

Em primeiro lugar, é imprescindível destacar que o neoliberalismo, ao preconizar a desregulamentação do mercado, a flexibilização das relações laborais e a redução do papel do Estado, engendrou um cenário no qual a estabilidade empregatícia foi substituída por um modelo extremamente precarizado. Como consequência desse processo, observa-se a ascensão da uberização, fenômeno que, ao transformar trabalhadores em prestadores de serviço sem vínculo formal, os priva de direitos fundamentais, como previdência, descanso remunerado e jornada regulamentada. Dessa forma, o indivíduo se vê compelido a submeter-se a jornadas exaustivas e instabilidade financeira constantes, o que, por sua vez, compromete significativamente sua saúde mental.

Ademais, é inegável que essa lógica é reforçada pela ideologia do hustle culture, que glorifica a hiperprodutividade e atribui ao indivíduo total responsabilidade pelo próprio sucesso ou fracasso. Esse discurso, ao mesmo tempo em que invisibiliza as desigualdades estruturais, transfere a culpa das dificuldades enfrentadas pelo trabalhador exclusivamente para sua conduta pessoal. Dessa maneira, em vez de reconhecer o impacto sistêmico da precarização, impõe-se a crença de que a solução reside no esforço individual, ignorando deliberadamente os determinantes sociais que perpetuam essa realidade.

Diante desse contexto, torna-se imperativo que a sociedade como um todo repense os impactos desse modelo e reivindique medidas que mitiguem seus efeitos nocivos. Assim, resgatando a perspectiva de Mills, é fundamental que os indivíduos desenvolvam a imaginação sociológica, enxergando que seus sofrimentos não são meras falhas pessoais, mas sim sintomas de um sistema econômico que precisa ser questionado e reformulado. Somente ao compreender essa interconexão entre biografia e estrutura social será possível romper com a lógica da alienação e construir uma sociedade mais justa, onde o bem-estar não seja continuamente sacrificado em nome da produtividade irrestrita.

Felipe Bechelli Caldas 

Direito matutino 1 ano

RA:251221482

Um comentário:

  1. Texto muito bem escrito, Felipe. Parabéns. De todo modo, ainda que eu concorde com sua abordagem, acredito também que não podemos apenas compreender que tudo é uma derivação de estruturas impostas. Há a responsabilidade do todo e de cada parte que o compõe. Noção de corresponsabilidade poderia nos ajudar. Concorda? Um abraço, Alexandre.

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