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segunda-feira, 24 de março de 2025

O uso da imaginação sociológica no combate a transfobia

 Durante uma audiência do subcomitê de Relações Exteriores da Câmara dos Estados Unidos, ocorreu um episódio de transfobia no qual o deputado republicano Keith Self, ao apresentar a deputada transgênero Sarah Mcbride, referiu-se a ela no masculino -“Senhor Mcbride”- desrespeitando sua identidade de gênero. O caso pode ser analisado sob a perspectiva da “imaginação sociológica” de C. Wright Mills, que discute a distinção entre perturbações pessoais e questões públicas. 

No episódio em questão, a agressão verbal sofrida por Sarah Mcbride, em uma primeira análise, pode parecer uma perturbação pessoal, ou seja, um problema que ocorre em nível individual, sendo entendido então como um desrespeito por parte de Keith Self para com a deputada. No entanto, essa é uma visão completamente limitada da situação, pois leva em conta apenas o episódio isoladamente. 

Ao analisar a situação de forma mais ampla, vemos que o caso não é um evento isolado. Podemos citar o exemplo da atriz transgênero Hunter Schafer, que veio às redes sociais dizer que teve seu gênero alterado no passaporte devido às medidas preconceituosas adotadas pelo presidente Donald Trump. Temos também os frequentes episódios de transfobia no legislativo brasileiro, como o da deputada Érika Hilton, e muitos outros exemplos que comprovam a marginalização sistemática de pessoas trans. Dessa forma, é possível caracterizar esses casos como uma questão pública, pois ocorrem devido a um sistema estrutural de opressão. 

 Com isso, a distinção entre perturbações pessoais e questões públicas discutida por Mills na “imaginação sociológica” nos ajuda a entender que a transfobia não é um problema de nível individual, mas um fenômeno social. Assim, a imaginação sociológica nos permite enxergar além do evento isolado, compreendendo que as mudanças devem ocorrer de forma estrutural e coletiva. Sendo esse o primeiro passo para acabar com o preconceito contra pessoas transgêneras.

Letícia Z. Morandi - 1° semestre Direito diurno.

Um comentário:

  1. Tudo o que diz, Letícia, tem respaldo objetivo e corresponde à verdade. De todo modo, temos que ter cuidado para não substituirmos ditadura por ditadura, discriminação por discriminação. Somos, enquanto corpo social, uma unidade. Se um sofre, todos sofrem. Com respeito, Alexandre.

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