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segunda-feira, 24 de março de 2025

Entre a compreensão da formação social e a perpetuação do abandono estatal

 

 A Constituição Federal de 1988 assegura, no artigo 5°, a liberdade e a igualdade como direitos comuns e inalienáveis ao povo. Tal prerrogativa enaltece reflexões quando analisada a partir de estudos do sociólogo americano Charles Wright Mills. Para o pensador, a capacidade de relacionar experiências individuais com estruturas sociais diversas garante a compreensão do desenvolvimento social. Nesse sentido, observar o coletivo populacional e o atendimento efetivo de suas necessidades torna-se uma atividade para além da equidade, sendo necessário, assim, uma revisão, como proposta pelo pensador, entre "problemas pessoais" e "questões públicas".

 Em diálogo com as demandas e as dificuldades trabalhistas, a aplicação da imaginação sociológica revela como muitos desafios enfrentados pelos trabalhadores não são problemas isolados, mas parte de um quadro estrutural mais amplo. Em paráfrase, a obra literária “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, relata as dificuldades experimentadas pela autora enquanto subsistia em uma precária favela de São Paulo, em especial ao redigir sobre a “fila dos ossos” enfrentada por ela e por muitos reféns da insegurança alimentar e monetária. Essa premissa que, por vezes, possa parecer um problema pessoal de quem a enfrenta, torna-se uma questão pública ao concluir que milhões de trabalhadores encontram-se na mesma situação, refletindo o abandono estatal vivenciado diariamente por cidadãos invisíveis.

 Em sua obra, Mills argumenta que "nem a vida do indivíduo nem a história de uma sociedade podem ser compreendidas sem conhecer ambas". Assim, é possível perceber que a realidade de um trabalhador, como a falta de emprego e a desigualdade no acesso a meios para ascensão social, está inserida em um cenário de transformações econômicas e políticas que afetam uma coletividade. Concomitantemente, as esperanças populares pelo respeito à Constituição extinguem-se à medida que governantes ignoram a realidade observada pelo sociólogo.

 Portanto, a análise das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, sob a ótica da imaginação sociológica de Charles Wright Mills, compreende que muitos problemas, frequentemente vistos como pessoais, são, na verdade, manifestações de questões sociais mais amplas. Outrossim, o pensamento crítico baseado nessa perspectiva pode contribuir para uma sociedade mais justa e informada, capacitando os indivíduos a questionarem e desafiarem as estruturas de poder existentes, visando à extinção da marginalização a partir da igualdade de direitos como objetivado na Constituição Federal de 1988.

 

 

Luiz Felipe Hernandes Paschoim – 1° ano, Direito(Matutino)

Um comentário:

  1. Você fez uma análise bastante adequada sobre aquilo que o texto de Mills nos revelou. Parabéns. Espero que estas reflexões contribuam para a sua evolução, que é, no sentido sociológico, a nossa evolução também. Abraço do Alexandre.

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