Entre
a compreensão da formação social e a perpetuação do abandono estatal
A Constituição Federal de 1988 assegura, no
artigo 5°, a liberdade e a igualdade como direitos comuns e inalienáveis ao
povo. Tal prerrogativa enaltece reflexões quando analisada a partir de estudos do
sociólogo americano Charles Wright Mills. Para o pensador, a capacidade de
relacionar experiências individuais com estruturas sociais diversas garante a compreensão
do desenvolvimento social. Nesse sentido, observar o coletivo populacional e o
atendimento efetivo de suas necessidades torna-se uma atividade para além da
equidade, sendo necessário, assim, uma revisão, como proposta pelo pensador, entre
"problemas pessoais" e "questões públicas".
Em diálogo com as demandas e as dificuldades
trabalhistas, a aplicação da imaginação sociológica revela como muitos desafios
enfrentados pelos trabalhadores não são problemas isolados, mas parte de um
quadro estrutural mais amplo. Em paráfrase, a obra literária “Quarto de Despejo”,
de Carolina Maria de Jesus, relata as dificuldades experimentadas pela autora enquanto
subsistia em uma precária favela de São Paulo, em especial ao redigir sobre a “fila
dos ossos” enfrentada por ela e por muitos reféns da insegurança alimentar e monetária.
Essa premissa que, por vezes, possa parecer um problema pessoal de quem a
enfrenta, torna-se uma questão pública ao concluir que milhões de trabalhadores
encontram-se na mesma situação, refletindo o abandono estatal vivenciado
diariamente por cidadãos invisíveis.
Em sua obra, Mills argumenta que "nem a
vida do indivíduo nem a história de uma sociedade podem ser compreendidas sem
conhecer ambas". Assim, é possível perceber que a realidade de um
trabalhador, como a falta de emprego e a desigualdade no acesso a meios para
ascensão social, está inserida em um cenário de transformações econômicas e políticas
que afetam uma coletividade. Concomitantemente, as esperanças populares pelo respeito
à Constituição extinguem-se à medida que governantes ignoram a realidade
observada pelo sociólogo.
Portanto, a análise das dificuldades
enfrentadas pelos trabalhadores, sob a ótica da imaginação sociológica de
Charles Wright Mills, compreende que muitos problemas, frequentemente vistos
como pessoais, são, na verdade, manifestações de questões sociais mais amplas. Outrossim,
o pensamento crítico baseado nessa perspectiva pode contribuir para uma
sociedade mais justa e informada, capacitando os indivíduos a questionarem e
desafiarem as estruturas de poder existentes, visando à extinção da marginalização
a partir da igualdade de direitos como objetivado na Constituição Federal de
1988.
Luiz Felipe Hernandes Paschoim – 1°
ano, Direito(Matutino)
Você fez uma análise bastante adequada sobre aquilo que o texto de Mills nos revelou. Parabéns. Espero que estas reflexões contribuam para a sua evolução, que é, no sentido sociológico, a nossa evolução também. Abraço do Alexandre.
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