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sábado, 8 de agosto de 2020

Corpo Social Pandêmico


            Pode-se dizer com plena convicção de que a sociedade e o Estado brasileiros fracassaram no combate a pandemia de COVID-19. Um fracasso no mínimo justificável pelas péssimas políticas do presidente da república Jair Bolsonaro que repercutem, de forma extremamente nociva, no restante da sociedade.

            A estratégia das Fake News não é exatamente nova, mas continua sendo extremamente utilizada. Esse recurso foi usado na eleição do presidente estadunidense Donald Trump, e foi uma estratégia da eleição brasileira de 2018, através de noticias como a “mamadeira de piroca” e “ideologia de genêro”. As plataformas usadas, como YouTube, Instagram, Facebook, Whatsapp e Twitter acabaram dando visibilidade para essas mentiras, contribuindo para a eleição de muitas pessoas que compartilhavam essas mentiras, como os membros do Movimento Brasil Livre (MBL) Arthur Moledo do Val, Kim Kataguiri, Fernando Holiday e do próprio presidente da república. Atualmente, ainda se tenta investigar como esses sistemas funcionam através da CPMI das Fake News, investigando o tal Gabinete do Ódio. Ou seja, ainda é um obstáculo extremamente grande evitar que essas informações cheguem ao público. Quando tratamos da pandemia de COVID-19, o problema não muda. Apesar de órgãos mundiais e as universidades estarem avisando dos comportamentos corretos para combater a pandemia, como o constante uso de mascaras e higienização das mãos, da gravidade da situação, como o crescente número de óbitos e de infectados, e da necessidade urgente de aderência ao isolamento social, muitos conservadores, liderados pelo presidente, mostraram-se resistentes a essas informações, classificando-as como falsas. Muitas falas do presidente revelam essa despreocupação com o momento no qual vivemos. Pode-se citar quando classificou a doença como “só uma gripezinha”, ou quando propôs um isolamento vertical, deixando apenas o grupo de risco isolado.

            O problema de um presidente tomar tais atitudes é sua repercussão no corpo social. Quando se tem uma figura messiânica no poder, muitos de seus seguidores seguem suas palavras, independente da falácia que for. Isoladamente, uma pessoa que desrespeita a quarentena não reproduz sérios efeitos na coletividade, mas surge um problema quando um grupo considerável segue essas tendências. Não só porque essas pessoas estarão desrespeitando, mas também estarão compartilhando uma informação falsa para inúmeras pessoas. Usando ideias de Émile Durkheim, estaríamos entrando em um estado de anomia social, visto que estamos em um perigo de pandemia e um grupo extremamente grande de indivíduos não está cumprindo seu papel social par combater essa situação. Pelo contrário, negam esses fatos, deturpando e prejudicando toda a coletividade em que vivem e influenciando, principalmente, as políticas públicas (como observamos na imensa compra de hidroxicloroquina pelo presidente, medicamento que já teve sua ineficiência comprovada diversas vezes).

            O corpo social está em colapso. As “liberdades individuais”, nesse momento de crise, são mais importantes para o setor conservador do que um plano coletivo. Mas quem podemos culpar pelos quase 100 mil mortos por COVID-19? Jair pode até se chamar messias, mas não pode fazer milagres.


Murilo de Oliveira Botaro - 1° Ano de Direito - Noturno

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