Émile Durkheim, filósofo,
sociólogo e psicólogo francês, foi um dos primeiros pensadores a tentar
estabelecer preceitos para o método sociológico. Suas teorias ainda hoje são
aplicáveis e estudadas ao redor do mundo, já que o francês contribui muito para
o desenvolvimento da sociologia. No primeiro capítulo de sua obra “As Regras do
Método Sociológico”, Durkheim analisa o que ele chama de “fato social”,
conceito que se baseia no agir do homem dentro da sociedade de acordo com
normas pré-estabelecidas dentro do convívio social e que independe do indivíduo.
De acordo com o pensador, os fatos sociais devem ser avaliados como coisas para
que assim, a observação da sociedade se dê livre de uma determinada ideologia.
Segundo Durkheim, noções
pré-estabelecidas podem comprometer a busca pela verdade científica e,
portanto, ele propõe uma análise que vá “das coisas para as ideias” e não “das
ideias para as coisas”. Na prática, ele critica as teorias sociológicas que se
baseiam em ideologias, como o positivismo de Auguste Comte. Tal concepção crítica adotada por Durkheim se assemelha, por exemplo, à ideia de “ídolos da mente”,
abordada por Bacon.
Podemos identificar essa influência
que o pensamento ideológico exerce nas análises científicas, por exemplo, em
diversas falas dos ministros do atual governo brasileiro. Por diversas vezes, a
ministra da Mulher, Família, e Direitos Humanos, Damares Alves, transpareceu
sua ideologia influenciada pelo pensamento cristão em falas oficiais, gerando
polêmicas declarações que muitas vezes vão contra a ideia que deveria ser
pregada por uma figura de tamanha importância para a construção de um país
menos desigual. Em uma dessas falas, Damares diz que a igreja evangélica perdeu
espaço nas escolas para a ciência e lamenta que tenham “deixado a teoria da
evolução entrar nos espaços educativos”. [1]
Além disso, a ministra também
gerou polêmicas ao defender que a construção de uma fábrica de calcinhas na
Ilha de Marajó seria uma boa solução para acabar com os abusos sexuais contra
meninas nessa região[2]. Esses são apenas dois
exemplos dentro de uma preocupante série de posicionamentos adotados por figuras
importantes do governo Bolsonaro que devem ser problematizados. Diferentemente
do que prega Durkheim, as análises adotadas por tais figuras são completamente
influenciadas por ideias pré-concebidas.
No entanto, essa análise
preenchida pela reprodução de um modelo coletivo não acontece apenas dentro do
governo, mas sim em todas as esferas de convivência social. Recentemente, uma marca
brasileira de cosméticos foi alvo de várias críticas de internautas por
convidar um homem trans para participar de uma campanha de dia dos pais. Além
dos internautas, o pastor Silas Malafaia também se manifestou contra a campanha,
que tinha como objetivo homenagear os pais e também incluir famílias diversas
na comemoração do ano de 2020, segundo ele, a empresa: “Coloca uma mulher para
fazer papel de homem no Dia dos Pais. Uma afronta aos valores cristãos. ” [3]
Portanto, a sociedade
brasileira está longe de alcançar essa avaliação dos fatos sociais “das coisas
para as ideias” proposta pelo sociólogo francês Émile Durkheim. A ideologia se
mostra muito prevalente no pensamento e nas análises desenvolvidas no Brasil,
já que tanto a população quanto as figuras mais importantes do governo, como os
ministros e o próprio presidente da República, utilizam discursos influenciados
por valores que privilegiam determinado grupo social em detrimento do coletivo.
Júlia Scarpinati- 1° ano Direito - Matutino
[1] Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/01/09/em-video-ministra-dos-direitos-humanos-critica-adocao-da-teoria-da-evolucao-nas-escolas.ghtml.
Acesso em 08 ago. 2020.
[2] Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/damares-justifica-abuso-de-meninas-por-falta-de-calcinhas/.
Acesso em 08 ago. 2020
[3] Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/acoes-da-natura-disparam-enquanto-comercial-com-tammy-causa-polemica.shtml.
Acesso em 08 ago. 2020.
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