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sábado, 8 de agosto de 2020

A solidariedade formada na nova classe social


Segundo Hobsbawn, uma classe social surge quando ela própria e os indivíduos externos a ela a  identificam assim. Essa proposta mostra-se indubitavelmente contemporânea quando relacionada a promissora classe de entregadores de aplicativo. Devido ao isolamento social, pessoas do grupo de risco, com medo de exporem-se à COVID-19 indo a mercados ou restaurantes, tornaram-se dependentes dos entregadores, uma parcela que até antes nunca havia recebido tamanha valorização e agora constitui-se como classe. Após serem admitidos como parte do serviço essencial na sociedade, o grupo construiu uma fisiologia própria nesta nova divisão do trabalho, de modo que, mesmo sem orientação sindical específica, organizaram greves e buscam melhorias em suas condições de trabalho e direitos. Portanto, a pandemia destacou grupos que necessitam materialmente deste incipiente órgão social, que como consequência, aprimorou sua organização como classe e desenvolveu uma coesão fisiológica interna.

Devido ao fato de, atualmente, haver uma impossibilidade material dos indivíduos do chamado "grupo de risco" garantirem a obtenção de seus insumos de forma autônoma, há uma expansão da solidariedade orgânica relacionada à classe dos entregadores de aplicativo. Para Durkheim, a medida que a interdependência entre indivíduos, tanto em termos econômicos quanto tecnológicos, aumenta, a solidariedade orgânica expande-se. Isso ocorre, pois tal solidariedade é alcançada quando a divisão de tarefas e funções foram tão especializadas, que a coesão social nasce da dependência extrema das relações humanas. Assim, a interdependência material entre o grupo de risco e os entregadores por aplicativo leva à expansão da solidariedade orgânica.

Como consequência disso, há uma organização de caráter fisiológico entre esses entregadores na contemporaneidade, que fertiliza as relações internas organizacionais da classe. Atualmente, os entregadores por aplicativo constituem um órgão social que além de apresentarem função e trabalho específico, também possuem fisiologia e coesão próprias. Como prova disso, a greve geral dos entregadores realizada dia 1° de julho mostrou a toda população a força que esta nova classe traz por meio das reivindicações organizadas de seus direitos. Por isso, fica evidente que a interdependência material entre as classes e a divisão do trabalho proporcionam não só a coesão entre essas classes, mas também uma coesão interna a elas derivada de sua fisiologia.

Portanto, a partir da breve análise acerca da formação da nova classe de trabalhadores é possível dizer que tal qual Durkheim idealizou, há o estabelecimento de uma solidariedade orgânica genuína dentro da classe dos entregadores de aplicativo.

Beatriz Adas Olacyr- 1° ano- matutino


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