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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Postagem extra: Cine-Debate sobre "Madame Satã"


Inspirado em uma personalidade real, o longa Madame Satã, de responsabilidade do diretor Karim Aïnouz (premiado por esse trabalho com a condecoração máxima de “Melhor Diretor” no Festival de Biarritz) se encaixa no gênero conhecido como drama biográfico, retratando a história de João Francisco dos Santos antes de sua transmutação na persona de “Madame Satã”, uma fantasia premiada de Carnaval que trouxe-lhe certo reconhecimento, relativa fama.

João pode ser considerado como um exemplo ainda atual daquilo que é considerado como minoria: é negro, analfabeto e homossexual adepto à arte de travestir-se, que não deve ser confundida como uma identidade de gênero: era um homem gay, não uma travesti. A película de 2002 se mostra como uma espécie de “jornada do herói”, na qual somos apresentados aos fatores que levaram ao nascimento de Madame Satã. João é apresentado como um homem extremamente complexo: era bom, uma vez que acolheu uma prostituta e sua filha recém nascida e passou a agir como um provedor para ambas; mas não deixava de ser mau, sendo hostil e violento para com aqueles que considerava como sua família. Em um dos diálogos, Laurita pergunta para o protagonista por que ele age com tanta violência, recebendo a justificativa de que João sentia uma raiva incontrolável de tudo, uma resposta a todas as opressões que sofria diariamente.

Após sua primeira prisão, o personagem volta determinado a mudar de vida, sendo sua primeira apresentação travestido o primeiro passo para essa metamorfose; ele próprio se diz mais calmo e feliz depois da apresentação, insistindo para que essas se tornassem regulares. João é preso novamente, condenado a dez anos de reclusão em regime fechado devido a um homicídio que cometeu após sofrer um ataque homofóbico. Em 1942, com sua pena cumprida, ele vence uma competição de fantasias de carnaval com a identidade de Madame Satã.

A ADO nº 26/DF de 2019, responsável pela criminalização da homofobia, traz a reflexão do que poderia ter sido a história de João, e de muitos outros Joãos, se essa interpretação extensiva da lei tivesse sido realizada antes, ou se a história fosse atual. O agravo no crime de agressão, homicídio (ou seja, violência de forma geral) contra a população LGBT+ cumpre o papel de legitimar uma luta que data de muitas décadas atrás, além de atribuir um maior significado àqueles que pereceram na luta por direitos dessas minorias.

A criminalização da LGBTfobia, no presente, pode parecer apenas uma medida para pacificar movimentos; mas a longo prazo, além de preservar vidas da maneira mais óbvia (buscando combater homicídios), poderemos observar a melhoria na qualidade de vida e liberdade psicológica, aquela referente ao medo de sofrer preconceitos e à própria homofobia internalizada, que pouparão vidas e garantirão qualidade de existência aos membros dessa comunidade.

Julia Parreira Duarte Garcia - Direito Matutino

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