Ao iniciar seu artigo, "Zum Abschluss des Marxschens Systems", que viria apontar uma das mais conhecidas contradições existentes na obra O Capital
(a contradição entre a teoria do valor de Marx e sua mais-valia com a taxa
média de lucro e a igualização de ganhos de capital), Eugen von Böhm-Bawerk
constata que “como autor Marx era invejavelmente sortudo” e que “manterá um
lugar permanente na história das ciências sociais”. Após mais de um século
decorrido dessa afirmação, vemos que de fato o economista austríaco tinha razão:
mesmo após a falência das experiências do sistema socialista (com a queda da URSS
e progressiva abertura de mercado chinesa), Marx e suas ideias ainda são amplo
alvo de debates, e destes podem sair os discursos mais apaixonados. Porém, o
foco deste texto não será o resultado de suas ideias, mas elas em si, e como
elas podem ajudar-nos a compreender o movimento histórico.
Marx em conjunto com Friedrich Engels desenvolve a
concepção de materialismo dialético que, na contramão da dialética hegeliana (idealista),
nos apresenta um sistema onde o meio (matéria) exerce influência sobre o
indivíduo (mente) e vice-versa. Essa noção melhor se expressa na célebre frase
de que “a história da humanidade é a história da luta de classes” presente no
Manifesto Comunista. Em resumo, as relações antagônicas entre tese e antítese
irão produzir uma síntese ou, em um exemplo ilustrativo, o sistema feudal e a classe
da nobreza geraram contradições devido à imobilidade de seus estamentos e a
baixa liberdade comercial, sendo superados pelo sistema capitalista e a classe
burguesa, que na visão marxista hão de ser superados pela classe proletária e a
chegada do socialismo.
Mesmo se suas previsões estiverem erradas (como
aparentam estar na atual conjectura), é inegável que Marx nos deixou um método
consistente que podemos usar até para uma análise dos acontecimentos de sua
morte até aqui: se consideramos os Estados capitalistas do século XIX como a “tese”
e o Estado socialista como a “antítese” podemos dizer que o chamado Estado de
bem-estar social é a “síntese” (não busca abolir o mercado ou o sistema
capitalista, mas visa combater certas desigualdades), as contradições do último
modelo favoreceram o surgimento do Estado neoliberal e assim por diante. Esse
movimento também pode ser percebido no Direito, na luta por igualdade realizada
pelas minorias (mulheres, população LGBT, negros, etc.).
Na contramão do que pensava Francis Fukuyama ao
defender que o triunfo do sistema capitalista e da democracia liberal são o ápice
da humanidade e o “fim da história”, percebemos que na realidade estamos longe
disso: o enfraquecimento e a desconfiança que atordoam os governos atuais, a
volta do nacionalismo ao ocidente e o ressurgimento do conservadorismo, nos
mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido e que as mudanças são
constantes.
Felipe Bucioli - Turma XXXV - Noturno
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