As paixões superam a racionalidade, prevalecem sobre a razão; e algo que foi tão criticado na literatura no período realista, que pregava que o sentimentalismo do romantismo era passado, permanece perene até os dias de hoje. Já naquela época, os escritores se preocupavam em colocar em seus livros os males que norteavam a sociedade, a animalização do ser humano, as denúncias das mazelas que afligiam o mundo.
Hoje em dia, vemos o recrudescimento da sociedade, onde os sentimentos que contagiam o ser humano clamam muito mais alto que as injustiças que acometem a sociedade. Como exemplo, posso citar que é muito mais fácil torcedores se enfrentarem em um pós-clássico paulista do que essas mesmas pessoas irem em um protesto por uma causa social. Em termos de riscos à vida, é muito mais danoso ir em um clássico em final de campeonato do que em um protesto.
A função do cientista social, portanto, é descobrir porque a sociedade se comporta desta ou daquela forma; é olhar um determinado grupo de indivíduos com olhos de quem analisa uma placa de Petri e não como ser humano, ocidental, carregado de valores, seja eles quais forem e como lidar com essa sociedade em que a consciência coletiva, em pleno século XXI, faz retrocessos.
Se, por exemplo, fizéssemos uma pesquisa nas ruas, demonstrando o código de Hamurabi, sem dúvida alguma que muitas pessoas achariam melhor substituir todo o nosso Código Penal pelo "olho-por-olho e dente-por-dente".
O ser humano contemporâneo é sim, individualista e egoísta, mas parece-nos que basta uma retórica mais inflamada para fazer com que forme-se um coletivo clamando pelo mesmo fim comum, algo que incomode o indivíduo no seu íntimo mas que precisa de uma válvula de escape para transparecer, é como muita palha seca esperando por uma faísca que a inflame, como se todo esse individualismo necessitasse de um momento de libertação; e quando encontra tal, fazem-se os tumultos, apedrejamentos, linchamentos, etc. Cada um se sente impulsionado a fazer justiça com as próprias mãos, o que é incentivado até mesmo pela mídia, no exemplo dos super-heróis, que são a força paralela ao poder do Estado.
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