"Do socialismo utópico ao socialismo científico" é o título da obra escrita por Fredrich Engels em 1877 na qual este propõe o materialismo dialético como método científico e, consequentemente, o rompimento total com a metafísica do passado.
Engels discorre a respeito da supremacia de um socialismo científico, no qual deve-se observar o fenômeno em seu processo de nascimento e no de caducidade; priorizar a análise dos "meios" e não apenas dos "fins" (negação do enfoque na "morte" e não na "vida" dos objetos); ter uma visão do todo, não fragmentar objetos a fim de obter clareza ("obcecado pelas árvores, não consegue ver o bosque").
Tal concepção se contrapõe ao socialismo primitivo, ou socialismo utópico, elaborado por pensadores como Henri de Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen, de cujas ideias Engels discordava, sobretudo, por partirem da imaginação, visando apenas o que será e não o que é e o que foi, além de não serem fruto de uma análise científica do contexto social no que concerne ao pensamento e ao real.
Esse território de igualdade imaginado e não analisado cientificamente, no que consistia o socialismo utópico, primava pela destruição das diferenças de classe, provocando a libertação de "toda" a humanidade e não só de uma única classe. Para Engels, esta teoria são se aplicaria à prática, uma vez que a burguesia não renunciaria aos seus privilégios e poderes a favor pelo bem comum proposto por tal utopia. Sendo assim, os homens "iluminados", como eram chamados os primeiros pensadores socialistas, falharam ao idealizar que a burguesia iria igualar todos os membros da sociedade dividindo, para isso, seus bens e dando a cada um o mínimo necessário à sobrevivência. Ao contrário, os mais abastados queriam forjar em todos a mesma perspectiva política, incutindo em cada um o ideal de propriedade e de tornar-se parte da burguesia.
Por isso, a ideia de Fourier, que se refere a uma cultura social que se opusesse ao capitalismo, promovendo trabalho e cooperação entre os indivíduos, e a de Owen, que consiste na junção entre cooperação e educação a fim de ampliar os horizontes das crianças e de educá-las para o futuro acostumadas à igualdade, segundo Engels, não são nada além de formas utópicas do socialismo.
Nesse sentido, o idealismo hegeliano também é criticado, principalmente, porque Hegel libertara a concepção histórica da metafísica, tornando-a dialética, mas sua interpretação da história continuou idealista, o que é negado pelo materialismo científico de Engels.
O percurso incontornável da história, como o socialismo era considerado, não era obra do gênio humano, mas das leis históricas (das quais a principal era a luta de classes) e das contradições inerentes ao capitalismo. Modo de produção este, que utilizava-se da exploração da classe trabalhadora para aumentar a produção e obter mais lucros.
Sabe-se que essa apropriação de trabalho não pago é chamada mais-valia e, se analizarmos, não é concernente apenas ao passado. Levando-se em conta a mais-valia relativa, sem, contudo, esquecer-se da absoluta, pode-se perceber que isto ainda é aplicado aos dias atuais e, tentando supor o que Engels diria se tivesse vivido a realidade atual, provavelmente, seria que o capitalismo aproxima-se, cada vez mais, do seu fim e que o socialismo substituiria esse modo de produção iminente.
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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