Em sua obra ''Die Entwicklung Des Sozialismus Von Der Utopie Zur Wissenschaft''(''Do Socialismo Utópico Ao Socialismo Científico''),publicada em 1887,Friedich Engels discorre acerca do marxismo que ele intitula ''socialismo científico''.Começa com um roteiro histórico no qual caracteriza o Iluminismo como ''aurora da humanidade''.Caracteriza a ascensão da burguesia, classe que, para ele, fez da filosofia iluminista um instrumento para consolidar seu domínio.Com o advento do Estado Liberal Clássico, os valores burgueses de mercado amalgamaram-se até mesmo a valores como a liberdade.Desde sua origem, o sistema capitalista, para Engels está atrelado às contradições: enquanto aumenta a acumulação burguesa, deterioram-se as condições de vida do proletariado.Surge, então, o socialismo primitivo, chamado pelo autor de ''socialismo utópico''.Destacam-se nesta primeira forma do pensamento socialista Henri de Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen.É comum a todos eles a utilização da razão e não do conhecimento histórico para teorização da exploração do regime capitalista.O primeiro se faz lembrar pela oposição que fez entre os ''ociosos'' e os ''trabalhadores'', considerada como a geratriz dos conflitos sociais.Ele concebe um governo presidido pela ciência e pela indústria, já que para ele estas eram as únicas aptas para tal tarefa.Acreditava que a política seria absorvida pela economia.O segundo, por sua vez, empreende uma mordaz e engenhosa crítica às condições sociais geradas pela acumulação burguesa.Para ele,'' na civilização, a pobreza brota da própria abundância''.É sua a proposta dos falanstérios, comunidades auto-suficientes, marcadas pela socialização da produção.Já o último, caracterizado pelo autor como ''um homem cuja pureza quase infantil tocava às raias do sublime e que era, ao lado disso, um condutor de homens como poucos'', propunha melhores condições de trabalho e questionava apropriação burguesa da riqueza produzida pelo operário.Fundou a empresa de New Lanark, da qual era sócio e gerente, onde socializava os frutos da produção com os operários e criou jardins-de-infância.Além disso, ''Todos os movimentos sociais, todos os progressos reais registrados na Inglaterra em interesse da classe trabalhadora, estão ligados ao nome de Owen''.Este primeiro socialismo não solucionou os problemas sociais da primeira metade do século XIX; aliás não foi aplicado em larga escala.Engels não o considera científico, uma vez que, para ele, suas propostas não pertenciam ao terreno da realidade; era preciso um socialismo no terreno material, não utópico.O autor passa a dissertar sobre a filosofia hegeliana: ele a considera o ponto culminante da filosofia alemã.Hegel ''concebe todo o mundo da natureza, da história e do espírito como um processo, isto é, em constante movimento, mudança, transformação e desenvolvimento, tentando, além disso, ressaltar a íntima conexão que preside esse processo de movimento e desenvolvimento''.A forma de pensamento superior, para este filósofo, era a dialética, posteriormente retomada de maneira decisiva no pensamento marxista.Todavia, contrariando o idealismo hegeliano, Engels defende o materialismo histórico, como a única maneira de se interpretar a História coerentemente.Recorre novamente à História e constata ''Os novos fatos obrigaram à revisão de toda a história anterior, e então se viu que, com exceção do Estado primitivo, toda a história anterior era a história das lutas de classes e que essas classes sociais em luta entre si eram em todas as épocas fruto das relações de produção e de troca, isto é, das relações econômicas de sua época; que a estrutura econômica da sociedade em cada época da história constitui, portanto, a base real cujas propriedades explicam, em ultima análise, toda a superestrutura integrada pelas Instituições jurídicas e políticas''.O socialismo é, para o autor, consequência natural das lutas de classes e não um produto da mente humana; é a solução do conflito instalado entre operários e burgueses.A idéia de mais-valia está presente na obra: ''Descoberta que veio revelar que o regime capitalista de produção e a exploração do operário, que dele se deriva, tinham por forma fundamental a apropriação de trabalho não pago; que o capitalista, mesmo quando compra a força de trabalho de seu operário por todo o seu valor, por todo o valor que representa como mercadoria no mercado, dela retira sempre mais valor do que lhe custa e que essa mais-valia é, em última análise, a soma de valor de onde provém a massa cada vez maior do capital acumulado em mãos das classes possuidoras''.Engels acredita que a superação do regime capitalista deve ser buscada na estrutura econômico-material da sociedade.Analizando o modo de produção capitalista, Friedich Engels o caracteriza como o promovedor de um divórcio entre os meios de produção e os produtores, como monopolizador da economia, como gerador de superabundância e, ao mesmo tempo, como gerador de miséria.O manancial do qual bebe o capitalismo é a concorrência do mercado.Como modo de superação do capitalismo, o autor propõe a apropriação, por parte do proletariado, da máquina estatal, via uma revolução.Em seguida,''Quando o Estado se converter, finalmente, em representante efetivo de toda sociedade, tornar-se-á por si mesmo supérfluo.Quando já não existir nenhuma classe social que precise ser submetida; quando desaparecerem, juntamente com a dominação de classe, juntamente com a luta pela existência individual, engendrada pela atual anarquia da produção, os choques e os excessos resultantes dessa luta, nada mais haverá para reprimir, nem haverá necessidade, portanto, dessa força de repressão que é o Estado''.Com o fim do Estado, instaurar-se-á, para Engels, o comunismo.Para ele,'' Ao apossar-se a sociedade dos meios de produção cessa a produção de mercadorias e , com ela, o domínio do produto sobre os produtores.A anarquia reinante no seio da produção social cede lugar a uma organização planejada e consciente''.
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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