A teoria positivista de Comte foi desenvolvida e publicada na primeira metade do século XIX, num período em que ocorria a 2° Revolução Industrial e, com isso, a consolidação da burguesia na maior parte dos países hoje considerados centrais. Algumas décadas após sua publicação, houve o início do imperialismo afro-asiático por países europeus; devido a proximidade dos acontecimentos e da grande perpetuação do positivismo entre a classe burguesa, entende-se que a teoria positivista contribuiu com a visão de dominação dos continentes asiático e africano, uma vez que o ideal de “ordem” do Positivismo compreende que apenas o modelo Europeu de política e organização seria correto, caberia aos Estados da Europa implantarem seus sistemas em suas colônias, e assim fazê-las caminharem à “evolução”.
O Estado brasileiro, da forma moderna, mesmo não tendo sido criado no contexto do século XIX, sofreu grande influência dos moldes de Comte, dado que a República brasileira fora “inaugurada” por militares positivistas, dessa forma, a noção de Nação, pátria e funcionamento do Estado Republicano sofreram fortes influências do Positivismo, mesmo anos após a dissolução da República da Espada. A perpetuação do Positivismo no Brasil, no entanto, não ficou concentrada apenas nas áreas burocráticas do País, mas se espalhou pela população brasileira, uma vez que o Estado é o reflexo da Nação e vice-versa; consequentemente, o modo no qual o brasileiro visualizava, e visualiza, o que compõe o Estado brasileiro foi herdado dos moldes positivistas.
Dessa maneira, a demanda por “ordem e progresso” manteve-se na essência das necessidades políticas exigidas pela população brasileira. Contudo, a ordem e o progresso não estava relacionado a melhorias nas condições de vida dos cidadãos e ao funcionamento das instituições estatais, mas ambos significavam aproximação ao modelo europeu, não somente de administração estatal, mas também nos costumes corriqueiros do dia a dia. Diante disso, a essência eurocêntrica do positivismo manteve-se no que foi propagado no Brasil, reforçando a “síndrome de vira-lata” sofrida pelos brasileiros.
Por enxergar como retrógrado tudo aquilo que difere do europeu, a insatisfação do brasileiro positivista se agrava ao interpretar a cultura brasileira por óticas estereotipadas e reproduzir discursos que diminuem tudo ligado ao Brasil e compará-lo à Europa, como se a Europa fosse o apogeu da evolução cultural e política, sem ser capaz de compreender a pluralidade das culturas mundiais.
Em suma, o ideal de evolução, tendo o europeu como correto, dentro da política pela visão positivista foi espalhada pelo Brasil especialmente após a formação do Estado Republicano. Tal discurso se mantém na sociedade brasileira atual, tornando o cidadão incapaz de enxergar a pluralidade das culturas mundiais e ansiando por uma evolução - ordem e progresso- do Estado brasileiro ao demandar um espelhamento da Europa no Brasil.
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