Em 2022, o
artista nacional Emicida inaugura, juntamente aos cantores Céu e Criolo, uma
nova turnê chamada: Amor, Ordem e Progresso, em uma retomada do lema da
bandeira nacional (Ordem e Progresso) e da teoria positivista que a inspirou: “amor
por princípio, ordem por base e progresso por fim”. Para entender os
questionamentos e motivações por trás dos shows, é preciso antes questionar a
consolidação do Brasil com base no positivismo Comteano, e, mais do que isso, o
que levou os militares brasileiros a suprimir o princípio amor da
bandeira do país.
Sendo o
positivismo uma corrente ideológica que prevê ordenar um mundo em desordem,
trazendo ciência e literalidade, pouco aberto a abstrações, foi
convenientemente absorvido por militares federalistas brasileiros, no contexto
de caos social que antecedeu a proclamação da República. Munidos de
nacionalismo (muitas vezes exacerbado), pregando conservadorismo e resgate de
valores tradicionais (como a família), visa o progresso para combater a crise
vigente. Se o positivismo levanta a primazia da sociedade perante o indivíduo,
o patriota concorda, relacionando a felicidade ao bem comum e à reorganização
social sob moldes conservadores.
Assim, ao
proclamarem a República, decidem que suas máximas seriam a Ordem (como
conservação do bom e harmônico já existente) e o Progresso (como uma
consequência natural de uma sociedade fundamentada na ordem). Já o princípio
básico do Amor (como manifestação da soliedariedade humana e companheirismo),
foi negligenciado, considerado não tão importante quanto a Ordem e o Progresso.
Um século
depois, os artistas Emicida, Céu e Criolo estreiaram um show manifesto batizado
de “Amor, Ordem e Progresso”, retomando algumas teorias de Comte, em um momento
em que o país passava por um cenário de destruição, com o ódio em ascensão e a
miséria (muitas vezes emocional) proliferando-se, tentando reforçar a
importância do afeto e do respeito ao próximo, lembrando que tais princípios
são tão ou mais importantes do que a Ordem e o Progresso.
“Amor precisa
entrar na bandeira do Brasil para que, lá no futuro, nos lembremos que essa
palavra está ali por um motivo: a ausência do amor como política pública custou
a vida de mais de 650 mil pessoas. Qual é a magnitude dessa destruição.” -Disse
o rapper Emicida, em entrevistas sobre seus shows-manifestos.
Por Maria Clara Costa Rocci- 1 ano- Matutino
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