As badaladas do relógio, encontrado
numa grande torre no centro das cidades, regem a vida das pessoas e são, há séculos,
instrumento indireto de coerção da sociedade. Cada badalada do sino define toda
a trajetória do dia: hora de acordar, almoçar e, principalmente, a hora de
trabalhar, sendo definida pela sociedade capitalista, assim, a mentira secular
de trabalhar para viver e a rotina angustiante de viver para trabalhar.
David Émile Durkheim (1858-1917),
considerado por muitos o pai da sociologia, estudava a sociedade a partir do
recurso metodológico de ver como “coisas” os fatos sociais, que são aqueles que
independem do indivíduo e tem como substrato o agir do homem em sociedade de
acordo com as regras sociais. Durkheim acreditava que ideias pré-existentes em
nossas mentes afetam a análise dos fenômenos da sociedade, por isso estes devem
ser tratados como coisas.
Um aspecto de grande importância no
estudo de Durkheim é a análise dos fatores coercitivos que levam as pessoas a
se enquadrarem em determinados moldes da sociedade: devem seguir a moda,
respeitar as leis e agir de determinada forma. É da natureza humana a busca por
fazer parte de um grupo, mas essa coerção social ultrapassa os limites sendo
que cria um imenso deserto criativo de ações e de ideias. Durkheim defende que
a maioria de nossas ideias não são criadas por nós, mas são abstraídas do
exterior, da sociedade e dos padrões já definidos.
Durkheim defende que “a escola é
o aparelho ideológico do Estado”. Pode-se compreender esta afirmação analisando
o funcionamento das escolas atualmente: são impostas às crianças maneiras de
ver, de agir e pensar que não são naturais, sendo, assim, muitos talentos e
grandes ideias oprimidas. As instituições são manipuladas para manter o status
quo e perpetuar o poder de quem governa.
Um exemplo mais visível de coerção
da sociedade pelo Estado é seu monopólio da violência com o uso de força
policial. Atualmente, pode-se notar dois aspectos das ideias de Durkheim analisando
a manifestação de professores neste ano no Paraná, os quais foram agredidos por
força policial com balas de borracha e bombas: a força policial representa a
força de coerção que rege os comportamentos da sociedade, mas a manifestação em
si representa um fato social e um problema que existe há muito tempo no Brasil.
A reivindicação por melhores salários e condições de trabalho refletem a
realidade vergonhosa da educação brasileira, a qual desvaloriza seus
professores e usa métodos de ensino que não visam um desenvolvimento da mente e
das ideias de seus alunos.
Não há criação, tudo está pré-estabelecido
pela sociedade e quem foge de seus padrões pode ser considerado louco. O potencial
racional é condicionado pela coerção, a mesma que impõe a verdade absoluta que
não pode ser refutada. Durkheim falava, em sua época, na coerção social, mas
provavelmente não imaginava que atingiria patamares tão altos sem nem ser
notada pelas pessoas. É possível fugir dos padrões?
Alexandre Bastos
1º ano - Direito Diurno
Introdução à Sociologia - Aula 5
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