Nós,
pessoas, acreditamos ser portadoras de certa individualidade. A
maneira como pensamos, as comidas das quais gostamos, as roupas com
as quais nos vestimos ou as músicas que ouvimos parecem ser
características que, juntas, formam a nossa personalidade. Somos
únicos. Somos individuais. Mas, será que somos mesmo?
Para
Durkheim, não. Em sua obra, As Regras do Método Sociológico, expõe
sua visão acerca do que chamamos de personalidade. Para ele, ela até
existe, porém, manifesta-se somente na identificação de cada
indivíduo com um grupo social. Ou seja, a personalidade determina
por qual grupo social esse indivíduo passará a ser coagido.
Essa
ideia de falta de individualidade vem do conceito de “fato social”,
que, para Durkheim, é “toda maneira de fazer, fixada ou não,
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”.
Ou seja, “fato social” é algo externo ao indivíduo, que o força
a ter certas atitudes que são aceitas por seu grupo social, e do
qual ele não pode se livrar. Esse conceito também pode ser
entendido como uma dinâmica que molda os indivíduos e fazem-nos de
referência a um grupo.
Tomemos
como exemplo os homens que, na cultura islâmica, sacrificam sua vida
para matar “infiéis” em nome de seu Deus. Esses homens, fazendo
isso, buscam encontrar em seu grupo uma aprovação. E o grupo, por
sua vez, espera de seus membros comportamentos como esse. Outro
exemplo que pode ser discutido: o congresso brasileiro atualmente
está composto por uma maioria conservadora, e, como essa maioria é
regida pelo pensamento geral de seu grupo, é de se esperar que as
decisões do congresso tenham base conservadora.
Diante
do exposto, paira uma dúvida, seria possível uma rebelião contra o
“fato social”, isto é, uma emancipação do indivíduo em
relação àquele? Para Durkheim, isso até pode ser possível,
todavia, para conseguir tal feito, seria preciso travar uma luta
contra as noções implantadas nos indivíduos ao longo de anos. Eis
um exemplo para ilustrar como seria difícil uma luta contra o “fato
social”: se eu, após entrar em um restaurante e servir-me
de comida,
resolver, por qualquer motivo que seja, sentar no chão em vez de
comer sobre a mesa, todos no recinto lançarão a mim olhares de
julgamento, e, pode até acontecer, de algum funcionário do
estabelecimento forçar-me a comer sobre
uma mesa, sob pena de expulsão.
Portanto,
para Durkheim, existe uma certa individualidade, todavia, ela é
insignificante perto da coerção que o “fato social” exerce
sobre os indivíduos. Não somos únicos. Não somos individuais.
Somos reflexo do grupo social no qual estamos inseridos.
Beatriz Mellin Campos Azevedo
Direito diurno
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