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domingo, 31 de maio de 2015

Apenas um reflexo

       Nós, pessoas, acreditamos ser portadoras de certa individualidade. A maneira como pensamos, as comidas das quais gostamos, as roupas com as quais nos vestimos ou as músicas que ouvimos parecem ser características que, juntas, formam a nossa personalidade. Somos únicos. Somos individuais. Mas, será que somos mesmo?
       Para Durkheim, não. Em sua obra, As Regras do Método Sociológico, expõe sua visão acerca do que chamamos de personalidade. Para ele, ela até existe, porém, manifesta-se somente na identificação de cada indivíduo com um grupo social. Ou seja, a personalidade determina por qual grupo social esse indivíduo passará a ser coagido.
       Essa ideia de falta de individualidade vem do conceito de “fato social”, que, para Durkheim, é “toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior”. Ou seja, “fato social” é algo externo ao indivíduo, que o força a ter certas atitudes que são aceitas por seu grupo social, e do qual ele não pode se livrar. Esse conceito também pode ser entendido como uma dinâmica que molda os indivíduos e fazem-nos de referência a um grupo.
       Tomemos como exemplo os homens que, na cultura islâmica, sacrificam sua vida para matar “infiéis” em nome de seu Deus. Esses homens, fazendo isso, buscam encontrar em seu grupo uma aprovação. E o grupo, por sua vez, espera de seus membros comportamentos como esse. Outro exemplo que pode ser discutido: o congresso brasileiro atualmente está composto por uma maioria conservadora, e, como essa maioria é regida pelo pensamento geral de seu grupo, é de se esperar que as decisões do congresso tenham base conservadora.
       Diante do exposto, paira uma dúvida, seria possível uma rebelião contra o “fato social”, isto é, uma emancipação do indivíduo em relação àquele? Para Durkheim, isso até pode ser possível, todavia, para conseguir tal feito, seria preciso travar uma luta contra as noções implantadas nos indivíduos ao longo de anos. Eis um exemplo para ilustrar como seria difícil uma luta contra o “fato social”: se eu, após entrar em um restaurante e servir-me de comida, resolver, por qualquer motivo que seja, sentar no chão em vez de comer sobre a mesa, todos no recinto lançarão a mim olhares de julgamento, e, pode até acontecer, de algum funcionário do estabelecimento forçar-me a comer sobre uma mesa, sob pena de expulsão.
       Portanto, para Durkheim, existe uma certa individualidade, todavia, ela é insignificante perto da coerção que o “fato social” exerce sobre os indivíduos. Não somos únicos. Não somos individuais. Somos reflexo do grupo social no qual estamos inseridos.

Beatriz Mellin Campos Azevedo
Direito diurno

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