Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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sábado, 14 de maio de 2011
Vamos?
É interessante enxergarmos o quão atual Durkheim é no mundo empresarial. Nos dois vídeos que vimos acima, podemos notar um discurso positivista, mostrando que o bem da empresa vem a partir do bem individual, sendo o bem individual uma derivação do bem coletivo. Durkheim afirmava que a Divisão do Trabalho levaria a uma solidariedade entre os seres, e está muitíssimo superior ao progresso obtido: “Neste caso, os serviços econômicos que ela pode prestar são pouca coisa ao lado do efeito moral que produz, e a sua verdadeira função é criar, entre duas ou várias pessoas, um sentimento de solidariedade” (Émile Durkheim, “A Função da Divisão do Trabalho”).
Mas não seria este um discurso para justificar uma exploração autoritária de empresários interesseiros que não estão dispostos a trabalhar nas esteiras e sujarem suas mãos? Comte já tratou da função de cada elemento para o bem-estar do corpo. Durkheim re-afirma o que foi dito e aprofunda seu pensamento. Se avaliarmos o primeiro vídeo aqui apresentado, comprovaremos que não se trata de um simples interesse autoritário. Um funcionário que trabalha em uma empresa, ganhando menos do que gostaria, faz o mesmo serviço, de maneira superior, sem receber nada, em uma Escola de Samba. Seu desejo é sentir a emoção da avenida, ver sua obra desfilar ao som da bateria. É a realização pessoal que ele não sente na fábrica. Enquanto este serralheiro pouco se importa com o projeto de seu patrão; na Escola de Samba, ele se completa ao ver seu carro alegórico. O diferencial está no envolvimento, no “sonhar junto”. Poderia reclamar das más condições de trabalho do barracão da Escola, mas nem se dá conta disso, estando ele ocupado demais TRABALHANDO, empenhando-se, pondo seu máximo para atingir a perfeição. Não é o salário que faz a diferença para o trabalhador, e, sim, a satisfação trazida pelo produto final, o orgulho de ter feito parte daquilo.
Empresários fazem palestras sobre “Qual o seu sonho?”; “Vamos fazer juntos”; “Responsabilidade social”. No segundo vídeo vemos frases como: “Queremos trabalhar por algo maior que nós mesmos, maior que um produto”, “Você tem de se entusiasmar ao ver o crescimento dos outros”, “Vislumbre algo melhor”. A maior de todas, eu diria, é a do presidente norte-americano John F. Kennedy, que genialmente afirmou: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país.” Tudo parece novo, ideias fantásticas de empreendedores visionários. Mas a proposta já fora anunciada em 1891. Após mais de um século, lemos as palavras deste francês sem conseguir entender, pois nossos olhos estão manchados de um tom vermelho revolucionário. Não percebemos que aquilo que ele disse é o que as empresas hoje chamam de cooperativismo.
Como foi dito por Waldez Ludwig, a empresa não tem por objetivo promover o individuo, mas um projeto que o ajudará a se desenvolver. Cada um é responsável por administrar sua própria carreira, mas este só conseguirá crescer se desempenhar sua função com excelência, demonstrando comprometimento e disposição. Ludwig chama de escravo o trabalhador que odeia seu emprego. Afirma que cada um deve viver o “Sonho do Artista”, realizar-se profissionalmente. Não se contentar com o medíocre, mas correr em busca do melhor. Esse melhor não é apenas para si, mas para o projeto, e dessa forma, para o todo. Não é passando por cima de outros, nem tomando o que não nos pertence, mas trabalhando que alcançaremos nossos objetivos. E também não olhar só para si, mas se alegrar quando seus companheiros são vitoriosos em suas empreitadas. Doar-se pelo bem comum é favorecer o progresso de outros, sabendo que é para seu próprio bem também.
Certa pessoa, que eu admiro muito, uma vez me disse: “Sozinho, anda-se mais rápido; junto, vai-se mais longe”. Nunca me esquecerei disto. Autoritário é aquele que diz “uni-vos”. Imperativo, segunda pessoa. Ele não se inclui, apenas ordena. Para Durkheim, todos estão inseridos neste corpo social. É um trabalho em conjunto, onde cada elemento se dispõem a pelejar pelo progresso. Faço agora uma proposta: Vamos?
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