A que necessidade social corresponde a divisão do trabalho?
Émile Durkheim, partindo dessa interrogativa, discute a importância, para a sociedade, da separação de tarefas. Todavia, isso perpassa por um questionamento: tal feito é moral ou imoral?
Imoral seria aquilo que supervaloriza o individualismo e que não possui caráter nobre, valores. Nesse aspecto, de acordo com o autor, encontram-se a civilização industrial, o desenvolvimento artístico e das ciências. No que tange à primeira, acredita ser útil e possuir “a sua razão de ser”. Como exemplo, há substituição de barcos à vela por transatlânticos, oficinas por manufaturas, porém, “essas necessidades não são morais” (cf. DURKHEIM, p.65). Da mesma forma, a arte “é um luxo (...) que talvez é bom possuir, mas que não se pode ser obrigado a adquirir” (DURKHEIM, p.66). Anexando-se a essa linha há a ciência, também à margem da moral.
Esta (moral), por sua vez, engloba aspirações e valores elevados, “é o mínimo indispensável, o pão quotidiano sem o qual as sociedades não podem viver” (Idem). Concatenando-se a esse sentido, revela-se a divisão do trabalho: ultrapassando papel de manter a civilização sob a ótica puramente econômica, baseada na produtividade e no interesse, ela gera efeitos morais, como a solidariedade.
O fato de haver diferenças entre indivíduos e os papéis por eles desempenhados promove uma aproximação (caráter solidário) entre eles e sua consequente complementaridade. Disso, advêm o equilíbrio, o sustentáculo e organização sociais.
No início, todavia, a ínfima diferença anatômica e de funções entre homens e mulheres impedia a existência de vínculos fortes e duradouros. Com o tempo, as características distintas apresentaram-se e, assim, a ligação entre os seres aumentou: surgiu a sociedade conjugal. Tal comunidade possuía divisão sexual do trabalho, e unia-se (ainda de forma tênue) pelas crenças e costumes (solidariedade mecânica). A partir dos tempos modernos, por sua vez, a complexidade expandiu-se, coexistindo aspectos filosóficos, religiosos e científicos, passando a unir-se pelos diversos trabalhos, organicamente (solidariedade orgânica).
Hoje, constatamos a necessidade da outra pessoa para nos completar. Exemplificando, de modo simples e aleatório: um professor, para consertar seu veículo, depende de um mecânico. Esse, para obter as peças, precisa do trabalho do engenheiro, que, por conseguinte, para um tratamento odontológico, depende de um dentista. Esse, assim, para se atualizar, necessita da pesquisa e do ensino de professores (e assim por diante). Ou ainda, numa organização de eventos, as diferentes comissões formadas (ex. marketing, contatos, logística), cada qual desempenhando seu papel, interligam-se com o fim de obter sucesso na realização dos mesmos.
Sem dúvida, essa divisão do trabalho, defendida por Durkheim, permite uma idéia de solidariedade, integração entre nós. O problema, porém, reside na frieza de interesse de nossos relacionamentos, deixando o vínculo de ir além do curto período de troca de serviços (nem todos realmente se solidarizam). Além desse dado, a obrigação de estar exercendo uma função que não lhe agrada é desfavorável. Tais são brechas para uma patologia social.
Diante do exposto, assim como vários são os órgãos que contribuem para o funcionamento de um corpo, seria ideal que inúmeros trabalhos permitissem a solidariedade; todavia, infelizmente, muitas vezes essa homeostase social não é concreta e completa.
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