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sábado, 5 de abril de 2025

Positivismo, Racismo e o Direito de Falar

 Grada Kilomba, em seu livro “Memórias da Plantação” faz uma detalhada descrição dos vários episódios de racismo que sofreu durante a produção de sua tese de doutorado, em Berlim, na Alemanha, no ano de 2008. Mais precisamente no capítulo intitulado “quem pode falar?” ela propõe a ideia de que uma mulher negra, de origem africana, introduz uma ruptura na ordem social estabelecida (um mundo predominantemente branco e masculino). Essa ruptura se manifesta nos episódios de racismo que vivenciou, como quando foi barrada na entrada da biblioteca da universidade por “não pertencer ali”, ou quando foi convidada por uma das diretoras da pós-graduação a realizar sua tese como uma “pesquisadora independente” (desvinculada da universidade).

 Esses episódios retratam como o pensamento positivista pode transpor a barreira da moralidade até em uma instituição cujo principal objetivo é formar pensadores críticos e promover a pluralidade de ideias.

 De maneira similar, esse mesmo pensamento ocorre ao redor do mundo, em todas as instâncias sociais, tanto formais quanto informais. Usaremos aqui um exemplo de uma petição que veio ao conhecimento do público há duas semanas.

 Um advogado, irado com a declaração de suspeição da juíza titular da vara, desferiu ataques ad hominem contra a juíza, em uma petição. Em alguns trechos da petição, o advogado escreve: “...ainda que em breve observação a Magistrada afrodescendente com resquícios de senzala e recalque ou memória celular dos açoites assim indefira pedido em Decisum infundado...” (fazendo referência à sua declaração de suspeição). Em outro momento, o advogado ataca ainda seu assessor: “...seu singular gabinete de peculiar imediato influenciador ou conselheiro de mesma estirpe adepto da diversidade, validamente ilustrar merecidamente difusa representatividade reivindicada Há Tempos pelos adeptos do ideal socialista, difundido e culminado posterior e atualmente nos Direitos Humanos, hoje relativizados e deteriorados por pessoas definidas desde da origem biolológica...”. E para não faltar exemplos, ironiza também a capacidade da juíza em proferir suas decisões: “...venho com a finalidade de evitar omissões fraudulentas tramadas em conluio com notório saber jurídico e seguidas de infundadas decisões prevaricadoras proferidas por bonecas admoestadas das filhas das Sinhás das casas de engenho e por infeliz sugestionado secretariado não discutidas...”.

 Esse tipo de comportamento revela as raízes capacitistas do judiciário brasileiro, tanto em temos étnicos quanto de gênero, e nos faz questionar o quão mais será preciso para que pessoas historicamente hostilizadas pelo preconceito institucional consigam, finalmente, um lugar de fala.

Yago Arbex Parro Costa – 1° ano de Direito - Noturno

A ordem no mundo contemporâneo

 No início dos anos 90, Caetano Veloso cantava: ´´ Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial´´. A música refletia a sensação de desajuste diante das mudanças geopolíticas da época, mas sua mensagem continua atual. Estamos vivendo em tempos de incerteza, onde a sensação de desordem e caos parece estar cada vez mais presente no cotidiano. Sob essa ótica, surge a reflexão: o mundo está fora da ordem ou a ordem está fora do mundo?

Se consideramos a primeira hipótese, podemos analisar as crises ambientais, os conflitos geopolíticos, as disparidades sociais e a ascensão de discursos extremistas como evidências de uma sociedade que perdeu sua estrutura organizada. Governos e grandes corporações continuam promovendo modelos econômicos pautados no consumo exacerbado, enquanto cientistas alertam para a urgente necessidade de modificações. À luz disso, podemos verificar que a ordem natural do mundo está sendo desestabilizada também pela própria humanidade e que a organização econômica vigente não faz mais sentido diante da realidade ambiental, pois prioriza o lucro e deixa de lado o bem-estar dos indivíduos.

 Por outro lado, se considerarmos que a ordem está fora do mundo, estamos dizendo que a ideia de ´´ordem´´ que temos não se encaixa mais no mundo contemporâneo. Um exemplo desse cenário é o conflito entre Israel e Palestina. Em teoria, organismos internacionais como a ONU foram criados para manter a ordem mundial. Entretanto, mesmo com anos de negociações diplomáticas, a guerra continua, mostrando que a chamada ´´ordem´´ não consegue conter o caos. Esse caso demostra como a estrutura internacional pode favorecer certos interesses, tornando a estabilidade um conceito relativo.

 Sendo assim, as duas visões são possíveis e talvez até complementares, sendo essencial perceber que há um descompasso entre a realidade e os mecanismos que deveriam garantir o equilíbrio. Portando, é preciso encontrar caminhos para conseguir a harmonia no mundo, com a necessidade de uma ordem que seja justa, flexível e eficiente para a maior parte da população.

Caroline Maria Duarte  -  1 ano Direito ( matutino )

Mundo, paz e ordem: diferentes perspectivas

     “Ordem”: o que significa essa palavra ? Alguns podem remeter a leis ou regras. Outros ao que seria certo, ao correto. Outros à estabilidade, à “paz”. Um mundo em ordem, portanto, estaria em paz, mas será que está valeria para todos ? Qual seria tal “mundo” nesse contexto?

      “O perigo de uma história única”, de Chimamanda Adichie, decorre sobre os pontos de vista relativos sob os quais analisa-se a história. Segundo ela, todo fato passado tem várias formas de ser analisado: uma guerra, por exemplo, será contada de um modo por quem ganhou, de outro por quem perdeu, de outro por quem foi mero telespectador e assim por diante. A questão é que, na realidade contemporânea, em especial nos países que já foram colônias europeias, os conhecimentos são transmitidos com base em narrativas eurocêntricas. Isso prejudica muito o ensino dos jovens e a educação da sociedade como um todo, que já cresce vendo o mundo sob a ótica do colonizador, mesmo sendo, na maioria verdade, descendente também de escravos, indígenas etc.

     Essa ótica, portanto, é branca, é machista, é xenofóbica, dentre tantos outros preconceitos enraizados nessa maneira única de ver e contar o mundo. Trata-se do homem branco colonizador ensinando aos colonizados, catequizando-os, doutrinando-os a pensarem como ele até hoje. Seguindo essa linha de raciocínio, quando nos referimos à “ordem” e ao “mundo”, é a ordem deles e ao mundo deles que estamos falando. Do mundo cristão, branco e privilegiado. Nesse sentido, quando se afirma que “o mundo está fora de ordem”, afirmação feita constantemente nos últimos anos, seria o mundo ideal branco e privilegiado se degradando. Os movimentos sociais ganharam espaço, minorias conquistaram direitos e enquanto isso muitos tentam reverter tal cenário, parar essa movimentação. O mais intrigante é que não são europeus defendendo tal conservadorismo, mas pessoas com mentes colonizadas defendendo seus colonizadores, de certo modo. Elas lutam pela paz deles, dos brancos, cristãos, homens, que foram quem chegaram aqui em 1500 e a menos que essa ideologia mude, essa situação seguirá a mesma.

     Portanto, como diz a música do Rappa “minha paz”: “é sobre a paz que eu não quero ter pra tentar ser feliz”. O mundo sem conflitos pode ser considerado ordenado e confortável para alguns, mas a luta e a desordem são necessárias para se alcançar a verdadeira paz, uma nova ordem mais usta e inclusiva em um mundo mais igualitário e estável.


Eloisa Prieto Furriel 1°ano direito matutino

O Positivismo e o Ensaio Sobre a Coesão Social

                               O positivismo e o ensaio sobre a coesão social

 Após a superação do Antigo Regime, a Europa viveu um momento de consolidação do capitalismo, da industrialização acelerada e da urbanização pulsante. Em meio à Belle Époque, o otimismo quanto aos avanços da ciência tomou conta da burguesia, a qual era dominante enquanto classe social. Nesse contexto, no qual tudo era relativamente recente, uma nova ciência foi exigida para explicar os problemas e as questões emergidas. Surge, então, a sociologia e a sua primeira corrente: o positivismo. Seu autor, Augusto Comte, influenciado pelo cientificismo da época, defendia uma física social caracterizada pela objetividade e pela exatidão, tal como os fenômenos naturais, para estudar e compreender a comunidade, buscando sempre um padrão para a realidade social.

  Tal tese se mostrou problemática ainda na época em que foi elaborada e difundida, visto que, como partia do pressuposto de que as sociedades deveriam atingir determinados estágios, os quais eram baseados em concepções europeias e estabelecidos de maneira semelhante a regras físicas precisas, para serem consideradas dignas do progresso; compreendia tudo o que se distanciava da Europa como atrasado e distante da evolução. Dessa forma, construiu um raciocínio no qual a história seria concebida linearmente, sendo que aquilo que se classificava como diferente dos padrões europeus era inferiorizado. Assim, a ideia de um darwinismo social foi solidificada e sequestrada para justificar o imperialismo das potências e aniquilar as diferenças socioculturais e, consequentemente, manter a uniformidade e a coesão entre os povos.

  Contudo, é preciso ressaltar que o positivismo não ficou preso ao século XIX, uma vez que, na contemporaneidade, se observa a ascensão de pensamentos que incitam a estandardização conservadora. A fim de se alcançar um modelo ideal de sociedade, segundo o qual se obedece a um padrão e a uma moral superiores, exclui-se, das mais diversas maneiras, todos que defendem ideais que vão ao sentido diametralmente oposto ao do sugerido pelo tradicionalismo. Prova de tal questão é o aumento considerável de discursos xenofóbicos e anti-imigração na Alemanha e na França, por exemplo. Diante de um cenário de crises e de instabilidades internas, os países aproveitaram-se de atentados cometidos por pessoas com histórico migratório, para formular narrativas extremistas que condenassem, em especial, pessoas do Oriente Médio e para endurecer as políticas de imigração. Tudo isso para garantir a coesão entre essas culturas e para afirmar a reorganização do que estaria desregulado.

  Conclui-se, pois, que o positivismo, outrora empregado para embasar o fardo do homem branco, na atualidade, é operado com outros fins, mas a base e o âmago de seu raciocínio – a ordem e o progresso - ainda permanecem. Independentemente da finalidade com a qual é empregado, um grupo sempre buscará a coesão para preservar a sua hegemonia.

 

Isadora Cardoso Peres -  1º Noturno

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Uma Ordem Fora da Realidade

 

Entra ano e sai ano, os seres humanos criam teorias sobre como e quando seria o fim do mundo. Sejam essas previsões de caráter religioso, conspiracionista ou baseadas em análises de eventos reais, é curioso perceber como se torna mais fácil imaginar o colapso total da humanidade do que o fim do sistema capitalista em que estamos inseridos há tempos.

Essas especulações costumam ganhar força diante de acontecimentos intensos e preocupantes que ocorrem em escala global. Entre eles, destacam-se os conflitos contínuos entre Israel e Palestina, decisões políticas controversas nos Estados Unidos sob a liderança de figuras como Donald Trump, e, mais recentemente, o crescimento acelerado da inteligência artificial, que tem gerado debates éticos e sociais profundos.

Um exemplo emblemático do último ponto citado ocorreu nas redes sociais recentemente, quando viralizou uma trend envolvendo o uso de IA para gerar imagens no estilo do Studio Ghibli — famoso estúdio japonês conhecido por suas animações autorais e artísticas. Apesar da aparência inofensiva da trend, ela acendeu um alerta sobre a apropriação robótica de artes feitas por humanos, o que incitou uma resposta de desapontamento por parte do cofundador Hayao Miyazaki. Muitos críticos apontaram que, ao replicar estéticas tão singulares sem nenhum envolvimento criativo real, a IA não apenas banaliza o trabalho artístico, como ameaça desvalorizar a produção cultural original. Isso evidencia um problema maior: o uso indiscriminado da inteligência artificial em áreas humanas e criativas sem considerar os impactos éticos, econômicos e sociais dessa substituição.

Tais acontecimentos — tanto políticos quanto tecnológicos — não apenas afetam a estabilidade mundial, como também revelam dúvidas sobre o estado da ordem. Afinal, o que entendemos hoje como “ordem” parece estar cada vez mais distante das necessidades humanas. Talvez o mundo não esteja desalinhado, como muitos pensam, mas sim aprisionado a uma ordem que perdeu sua capacidade de responder aos desafios atuais. Trata-se de uma estrutura que perpetua desigualdades, falha em promover justiça e se mostra desconectada da realidade vivida pela maioria.

A pergunta “um mundo fora da ordem ou uma ordem fora do mundo?” nos leva a repensar não o colapso da civilização, mas sim o colapso de um modelo de organização insistente, mesmo quando já não oferece respostas sustentáveis ou humanas para os problemas contemporâneos. É nesse ponto que o debate jurídico e sociológico se torna essencial, pois exige tanto a crítica quanto a construção de alternativas capazes de colocar a vida — e não o lucro — no centro das decisões.


Nicole Sthefany Calabrezi

1º ano - Direito - Matutino

O mundo fora de ordem e o seu fim: a mudança é necessária

 Atualmente vivemos um período de crises sociopolíticas, econômicas, climáticas e diplomáticas. Como, por exemplo, as decisões do governo Trump e suas repercussões negativas tanto em âmbito estadunidense como internacional, a alta inflação no mercado brasileiro, o aquecimento global - recentemente classificado em fase de ebulição -  a guerra contra a Palestina. Todas essas questões levantam ansiedade, angústia, receio e medo sobre o futuro da sociedade, pois acabamos por nos questionarmos se estamos próximo do fim. Outra questão que também aparece é em relação à ordem mundial, se o mundo está fora de uma ou a ordem fora dele.

Há pouco tempo, estive presente em uma mesa de debate promovida pelo movimento  Afronte! sobre o tema “Estamos no fim do mundo? Palestina, Trump, Ecossocialismo e Cotas Trans”. A partir desse debate, ponderou-se uma reflexão acerca das cotas trans e quão necessárias são, pois ao analisarmos a sociedade percebemos que são poucas as representatividades trans. Cito aqui a deputada federal Erika Hilton, o vereador de São Paulo Thammy Miranda e a cantora pop Liniker; essas pessoas públicas transformaram tanto o cenário social ao ocupar seus respectivos cargos quanto as vidas de outras pessoas trans mostrando que esses espaços também os pertencem. À luz disso, entende-se como o espaço escolar pode ser e é hostil para crianças e adolescentes trans; ou seja, cotas trans são necessárias para que reduza a exclusão dessa população nas universidades e no mercado de trabalho e, também, mude a ordem do mundo.

Em segundo plano, descrevo essa ordem vigente como sendo classista, racista, misógina, homofóbica, ou seja, privilegiando apenas a elite branca. Ademais, percebe-se uma crise generalizada nessa ordem, que muitos denominam como o fim do mundo, porém podemos interpretar como o fim do sistema capitalista atual. Contudo, isso só é possível atrás de uma esperança ativa, mobilização social para concluir ações concretas e organização política - embasada no ecossocialismo, proposto por André Gorz - filósofo austro-francês - a superação do capitalismo, a produção sustentável, democracia participativa, justiça social e ambiental.

Portanto, entende-se que o medo, a ansiedade, angústia e receio são causados pelo questionamento sobre o mundo fora de ordem e sobre seu fim. Além disso, é necessário tornar as cotas trans em uma realidade concreta em todas as universidades do país, assim, avançando com a mudança da ordem mundial. Desse modo, é imprescindível que ocorra uma mobilização social e política a fim de mudar o cenário de fim do mundo para que seja o fim da ordem vigente.


Maria Júlia Miranda Loureiro - 1° ano Direito (matutino)

A desconstrução do pensamento positivista por Grada Kilomba

           O positivismo está contido nas mais diferenciadas faces da sociedade e do sistema politico brasileiro como um todo. Entendo que, como física social, a busca pela ordem e o progresso, hoje, marca o preconceito e a aversão pela liberdade de expressão. Não tão somente isso, mas também constrói um ideário de rejeição à novas opiniões e pensamentos, conservando um ideal imutável frente a sociedade.

Seguindo essa linha, tais ideias positivistas são refletidas por Grada Kilomba. Esta questiona a ordem e a superioridade que é imposta pelos brancos sobre os negros, até nos dias de hoje. O lugar social também é um questionamento da socióloga, em que os brancos sempre estiveram nos lugares bem vistos e idealizados, até em contos e histórias.

Assim, pode-se dizer que o preconceito e o racismo, de algum modo, constróem-se sob o viés positivista.


Brenda Diniz, 1 Ano Matutino.


Há uma ordem igual para todos?

            O mundo não está fora de ordem. Ocorre que alguns filósofos e sociólogos na antiguidade acreditavam ter uma ordem concreta a ser seguida. Todavia, fica um questionamento. Se existe ordem, ela deve ser unanime ou pode ser relativa em alguns aspectos?

Para Comte, a sociedade deveria ir em direção ao progresso e a ordem. Contudo, entende-se que para isso todos deveriam adimplir com seus deveres e cumprirem as regras, pois o contrário seria o caos e a desordem.

Entretanto, hodiernamente esse conceito é, na minha visão, relativo em alguns aspectos, como no da cultura e no direito a liberdade de expressão. Desse modo, pensemos no Brasil. A legalização da Cannabis e do Aborto seria, de algum modo, a efetivação da desordem e do caos, assim como a adoção de cotas Trans na Unicamp; mas para outros seria o oposto, levaria ao progresso e a manutenção da ordem vigente.

Logo, resta evidente que há uma ordem no mundo, mas será que ela é estática, igual para todos? Ou ela é, de alguma maneira, dinâmica e relativa?

 

Brenda Diniz, 1 ano Matutino. 

O AVESSO DO CAPITAL

A palavra “utopia”, que, em latim, significa “não lugar”, lugar inexistente, é usada para se referir a um cenário quimérico, a um futuro idealizado o qual se encontra deveras distante da realidade na qual é ansiado. Tal conceito é vulgarmente usado para se referir aos sistemas econômicos alternativos que vão de encontro ao vigente, o capitalista, cujo cerne consiste na expropriação do humano pelo humano. Contudo, seja pela falta de “imaginação sociológica”, preconizada por Mills, seja pela influência da ideologia, parte da “infraestrutura”, definida por Marx, poucos se permitem imaginar a seguinte proposição: Como seria um mundo cuja finalidade é a defesa do bem-estar coletivo?

Imagine um mundo voltado não para a busca incessante pela riqueza econômica, mas para a máxima evolução do conforto e do intelecto humanos. Nesse cenário “idealizado”, o trabalho seria uma vertente da arte, pois sua prática objetivaria o exercício das potencialidades criativas de cada um, não apenas o lucro. A produção, por sua vez, de forma autossustentável e com o uso universalizado da tecnologia, seria apenas dos recursos necessários a uma vida digna e ao progresso desta, exigindo menos horas de labor. Assim, sucumbida a necessidade de produzir capital a todo instante, os sujeitos poderiam usufruir do próprio tempo de vida. Desse modo, além do tempo necessário à manutenção da própria moradia e saúde, garantindo a sobrevivência mínima, seria possível desfrutar do lazer, do esporte e até do ócio, cuja importância é salientada pelo filósofo Byung-Chul Han. Ainda, as relações interpessoais se dariam com maior frequência, estreitando os laços afetivos familiares e fraternos, porquanto, além do tempo, dispor-se-ia de mais energia para investir em atividades comunitárias, as quais resultam na socialização. Já no âmbito educacional, o letramento crítico no ensino básico seria ampliado, enquanto no superior, a formação e a pesquisa se ocupariam com a resolução de questões a fim de aprimorar a vida social e a experiência humana no planeta. Esse último, por fim, expurgada a lógica exploratória de seus recursos, seria preservado por nossa raça, cuja perpetuação resultaria da harmonia com o meio ambiente.     


É coerente concluir que vislumbrar dias melhores não é apenas justo, mas também possível. Exemplo concreto disso é a tradição originária, do Brasil e do mundo, a qual, insubordinada à arrolação do tempo e ao estilo de vida capitalistas, sobreviveu ao genocídio a à pressão civilizatória, vivendo em conjunto e em harmonia com a natureza.


Texto extra (Palestra do Afronte): Um mundo fora da ordem ou uma ordem fora do mundo? 


Laura Xavier de Oliveira - 1º ano - Direito (matutino)


Fim do mundo ou novo começo?

Aumento das disputas comerciais entre China e Estados Unidos após a eleição de Trump; quebra de cessar-fogo de Israel contra Palestina e a expansão de conflitos para outros territórios do Oriente Médio; no Brasil, aprovação de cotas para estudantes trans aprovada pela Universidade Estadual de Campinas; primeira produção audiovisual brasileira a ganhar um Oscar. Oscilando entre avanços e retrocessos, incertezas e esperanças, o questionamento que nos vem é certeiro: Estamos no fim do mundo? A resposta não é concreta, tampouco objetiva, afinal, todos estes dados, refletem os altos e baixos de um cenário geopolítico instável e incerto. 

O mundo atual se apresenta como um palco onde a desordem não apenas ocorre, mas é sistematicamente alimentada por estruturas que priorizam o poder e o lucro em detrimento da dignidade humana. Não se trata apenas da ausência de ordem; é uma ordem distorcida, manipulada e fragmentada, expressa nos conflitos geopolíticos, nas crises sociais e nas desigualdades que permeiam nossa realidade.

A perpetuação dessa desordem é, em grande parte, resultado de um sistema global que se mantém de desigualdades e divisões. As disputas comerciais entre potências como China e Estados Unidos não são apenas econômicas, mas também simbólicas, representando uma luta por hegemonia em um mundo multipolar. Enquanto isso, conflitos como o de Israel e Palestina transcendem fronteiras, espalhando instabilidade e sofrimento humano. Esses eventos não são isolados; eles são interconectados, formando uma teia de interesses que frequentemente coloca a ordem como um instrumento de controle, e não de justiça.

No entanto, há sinais de resistência e transformação que desafiam essa lógica de desordem institucionalizada. A aprovação de cotas para estudantes trans na Unicamp é um marco que aponta para a possibilidade de uma ordem mais inclusiva e equitativa. Embora pontuais, esses avanços demonstram que a ordem não precisa ser sinônimo de opressão, mas pode ser um caminho para a emancipação. Compreender essa lógica significa transcender o caos imposto diariamente. Ter esperança em um mundo que parece promover conflitos é, por si só, um ato de resistência. E mesmo diante da incerteza do amanhã e do (inevitável) fim do mundo, o fato de Ainda estarmos aqui é motivo para continuar acreditando que, sim, a vida presta.

Pedro Augusto da Costa Leme - 1º ano Direito - Matutino

Texto com base na palestra promovida pelo movimento estudantil Afronte! a qual foi designada: Estamos no fim do mundo? Trump, Palestina, Ecossocialismo e Cotas trans

Ordem e Regresso

Havia uma cidade distante, que aparentava quase um estado de utopia, essa era Ordemlândia, e nela tudo funcionava sempre com precisão e ordem. Suas ruas impecáveis, cidadãos disciplinados, edifícios perfeitamente simétricos, e em todos os bairros da cidade haviam sensores para garantir que as ruas estivessem sempre limpas, que os ruídos não ultrapassassem os decibéis permitidos e que cada pessoa se comportasse conforme o esperado, conforme a ordem. Além disso continham um governo que se orgulhava de seguir aquilo que acreditavam ser as "leis naturais da sociedade", e este levava a ferro e fogo o maior e mais incontestável lema da cidade estampado em cada esquina: "Ordem gera Progresso". Para todos a ordem que ali proliferava era positiva e ajudava no crescimento da cidade, e quem a cumpria ao pé da letra se tornava positivista, e subia até os mais altos cargos, para continuar espalhando o ideal. 


Hendrich, um pequeno sociólogo que buscava entender os fenômenos sociais de Ordemlândia, sempre achou a forma como o contexto fluía muito estranho. Quando era criança a cidade era totalmente diferente, ele se lembrava de um cenário mais caótico, mas também mais vivo, e agora, cada aspecto da vida era cuidadosamente gerenciado. No trabalho, ele investigava os "grupos desaparecidos", pessoas que, sem aviso, deixavam de existir nos registros da cidade. Muitos relatos falavam de trabalhadores informais, artistas não registrados, moradores de rua... Mas as autoridades sempre negavam: "Não existem desaparecidos, apenas aqueles que não se adaptaram ao progresso."


Hendrich decidiu assim investigar esse mistério. Percorrendo becos esquecidos e vasculhando registros apagados, encontrou algo perturbador: a cidade não apenas excluía pessoas, mas as tornava invisíveis. Os Sistemas automatizados bloqueavam acessos, tornavam seus documentos inválidos e eliminavam qualquer traço digital de sua existência, dessa forma aos olhos da Nova ordem, eles nunca haviam existido.


Chocado com isso, Hendrich decidiu ir além, buscando aqueles que haviam sumido completamente, e vasculhando e investigando pela cidade, achou num subterrâneo escondido entre construções antigas, uma comunidade inteira vivendo às sombras do progresso, exilados da sociedade. Havia músicos, artesãos, cuidadores, intelectuais... Pessoas que a cidade considerava "improdutivas" para o modelo científico de eficiência. Ali, sem vigilância e sem ordem imposta, a vida florescia de maneira autônoma e cheia de diversidade, sem regras que regessem cada passo e cada individualidade daqueles que naquele lugar viviam.


Ao retornar para a superfície, Hendrich percebeu que sua própria identidade também começava a desaparecer dos sistemas. Ele estava sendo apagado por questionar demais e querer fugir das amarras do progresso, mas antes que perdesse sua voz, escreveu e espalhou sua pesquisa clandestinamente. E assim, pequenos manifestos começaram a surgir, rabiscados nos muros imaculados da cidade:


"E se o progresso for apenas a ordem de quem pode ficar?"


A frase se espalhou, primeiro em sussurros, depois em protestos, e o sistema reagiu com mais ordem, oque dessa vez não foi o suficiente pois as ideias já estavam vivas, e ideias, diferente de pessoas, não podem ser apagadas.

A cidade continuava bela e organizada, mas agora, nas entrelinhas sabiam que algo diferente crescia, o progresso nunca mais seria visto da mesma forma, a diversidade estava aparecendo, e as vozes se levantando, e naquele chão perfeitamente liso e asfaltado, brotaram rachaduras por onde escapava a liberdade. 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Uma ordem Psicológica: A desigualdade nos transtornos mentais.

 

Tema: Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?

“Morreu na contramão atrapalhando o tráfego ”. O trecho da música Construção do ilustre cantor Chico Buarque, traz uma reflexão crítica sobre a desvalorização da vida. Muito embora tenha sido escrita em 1971, a obra permanece relevante no contexto atual, ao relacionarmos a ordem que estamos inseridos com os aspectos psicossociais presentes na contemporaneidade.

Inicialmente, ao citar o termo ordem deve-se entender a subjetividade presente nessa concepção. Enquanto para muitos ordem é sinônimo de estabilidade e segurança, para outros a ordem que domina é um sistema que oprime através das desigualdades socioeconômicas. Com intuito de evidenciar tamanha relatividade da ordem pode-se citar, por exemplo, dados de pesquisa do Ibope, feito sob encomenda pela Associação Brasileira de Familiares, Amigos Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA), constatou que 25% das pessoas das classes D e C apresentam vulnerabilidade a ter depressão, contra 15% das classes A e B. Esses dados desmentem o estereotipo que “Depressão é coisa de rico”, deixando explícito que a ordem psicológica das pessoas em vulnerabilidade econômica é somente da sobrevivência e não do lazer e segurança, pois conforme citado anteriormente, o cenário de incerteza predomina nas classes sociais inferiores.

Ademais, é mister salientar a invisibilidade das doenças psíquicas mediante o Estado brasileiro, essa afirmação torna-se evidente ao utilizar fatos concretos: Segundo uma matéria do G1, o programa farmácia popular não inclui antidepressivos na lista de remédios gratuitos - dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)-. Ao notar esse cenário de desprezo por parte do Estado, é imperiosa a intervenção do poder legislativo a fim de positivar leis que dê a importância devida à saúde mental dos trabalhadores brasileiros, contudo, não bastando somente positivar leis e dar ênfase para executa-las ativamente no corpo social.

Somente assim, será possível colocar em prática uma nova ordem, uma ordem que preze pela vida dos aproximadamente 500 mil brasileiros afastados de seus empregos por conta de transtornos mentais, uma ordem em que não haja classes, que o Brasil seja governado pensando nas dificuldades individuais de cada um, enquanto esses ideais não forem executados, a ordem mental dos vulneráveis estará ausente.

Demetrius Silva Barbosa, 1 ano Direito Matutino.

03/04/2025.












Sociedade nas rédeas

Era por volta do meio-dia, minha esposa cuidava da horta enquanto eu decidi consertar alguns buracos na cerca da fazenda. Foi quando vi entrar pelo arco que ornava a entrada um homem imponente, apesar da baixa estatura e magreza, se comportava como rei, trajando preto do chapéu às botas, caminhava ao lado de um cavalo, também negro. O corcel era bonito, mas andava cabisbaixo e aparentava estar muito magro.

O homem se aproximou de mim e com tom de soberba e desprezo pediu que eu cuidasse do cavalo por alguns dias, ele retornaria e era fundamental que o cavalo estivesse melhor para poderem voltar às viagens e assim darem continuidade aos negócios. A oferta era generosa e eu não podia recusar, aceitei a proposta e acolhi o alazão com a única regra imposta de não lhe tirar o cabresto de modo algum.

    Passei dias tentando alimentá-lo, chamei conhecidos meus que entendiam melhor sobre doenças, mas nada parecia adiantar, foi no dia anterior ao retorno do homem que decidi retirar a correia que prendia o cavalo, foi em um pulo que ele se levantou e correu no pasto da fazenda, nunca vi um bicho tão feliz, era linda a sua liberdade.

    No dia seguinte, já visivelmente melhor, alimentei e dei banho no animal, foi quando minha esposa alertou que o homem retornava, corri então para laçar o animal novamente e assim entregá-lo ao dono, mas fiz questão de deixar as rédeas mais soltas. O homem quando viu o estado em que se encontrava o animal abriu um sorriso de ponta a ponta e me entregou um maço gordo de dinheiro, meu último olhar para o cavalo foi carregado de tristeza e identificação, esquisito como eu por algum motivo me identifiquei com ele.


    O senhor subiu nos estribos e cutucou com os calcanhares para que o animal se pusesse a andar para fora da fazenda. Novamente de cabeça baixa, passou a trotar lentamente, mas foi num descuido do homem de soltar as rédeas, que o cavalo relinchou, empinou e saiu correndo, rompendo o cabresto e as rédeas que o seguravam. O rapaz desequilibrou e caiu no chão sujando completamente de pó e terra as roupas chiques e caras, foi embora a pé xingando Deus e o mundo.

    A história me causou reflexões interessantes: Será que na vida, nós não estamos na mesma situação que o cavalo? Quem impõe esse “cabresto” em nós visa o que? Um progresso? Uma ordem? A quem interessa e qual seu objetivo nisso tudo isso? A felicidade individual muitas vezes é considerada uma ameaça ao "bem-estar geral". Quando tentamos analisar e controlar pessoas e animais do mesmo modo que analisamos e controlamos experimentos científicos, nos esquecemos do que realmente nos diferencia de um mero objeto de estudo científico: Liberdade e transformação. Interessante né? Talvez esse devesse ser o lema estampado em nossa bandeira...

O MUNDO ESTÁ FORA DE ORDEM ? OU A ORDEM ESTÁ FORA DO MUNDO ? Uma nova perspectiva, a ORDEM continua.

 O mundo está fora de ordem ? Ou a ordem está fora do mundo  ? Para responder tais perguntas podemos ir na etimologia da palavra ''ORDEM'', que de modo sucinto, poder ser definida como, um conjunto de elementos que se repete. A partir disso, podemos levar tal significado para a história da humanidade, e apoiado nisso, podemos começar a entender, e tentar responder as perguntas feitas no início

Primeiramente, é necessário dar uma panorama histórico de toda a humanidade. Nesse sentindo, vamos entender o seguinte, praticamente em toda a história das sociedades, essas por algum motivo passaram por crises, seja políticas, sociais, econômicas, identitárias e climáticas, podendo ocorrer apenas uma ou todas ao mesmo tempo. Com isso, podemos afirmar que, quando uma sociedade passa por esses impasses mais graves, essa toma decisões não habituais, na tentativa de mudança como, revoluções, guerras, extremismo político entre outros. Agora vamos para a comprovação disso, no final do século XVIII à França passava por momentos conturbados, tanto quanto climáticos, que acarretou em uma grande fome, quanto políticos, no qual a monarquia francesa não dava a assistência necessária ao seu povo, a partir de todos esses problemas a população tomou uma decisão não habitual do seu tempo, á de fazer uma revolução, na tentativa de melhorar a situação vigente. Outro grande exemplo, são os regimes totalitários, principalmente o nazismo, visto que pós primeira guerra a Alemanha passava por um grande problema econômico, o qual intensificou pós a crise de 1929, novamente, na tentativa de escapar dessa realidade a população apela para o extremismo político, no caso o Partido Nazista, o qual prometia a mudança e instituía um culpado por tudo isso, que seriam os judeus. Portanto, prova-se o ponto explicado, nesse sentido, sempre que há turbulências na sociedade, essas são motivacionais para que o povo tome decisões não habituais.

Agora, vamos levar essa discussão para o mundo atual. É perceptível, que diversas das sociedades passam por momentos turbulentos, principalmente políticos, lembrando, que isso acarreta em decisões tomadas pelo povo que não são habituais. Martelo nesse ponto, porque ao entendermos ele, tudo fará mais sentido ao final do texto. Os Estados Unidos, devido a uma crescente imigração, sofreu uma crise identitária, na qual a população não queria mais a chegada de imigrantes, com o argumento que esses destruiriam sua cultura norte americana, tomando assim decisões extremas políticas que no caso foi a eleição de Donald Trump, um presidente americano que flerta com o fascismo, algo que os Estados Unidos abominou durante anos, mas como já dito, tal decisão é tomada pelo povo com o intuito de tentar melhorar a crise que esse sofre. Outros exemplos muitos parecidos são na Europa, como França e Itália, que também sofrem com esse crise identitária e pra tentar resolver tal problema tomam medidas extremas, na França não se concretiza, mas por pouco o candidato de extrema direita não se elegeu, já na Itália tal falto se concretiza, trazendo ao poder  Giorgia Meloni, do partida de extrema direita do país, o qual flerta com o fascismo de Mussolini. Temos outro exemplo, a guerra Palestina-Israel, a qual tomou grandes proporções no ano de 2023, devido a uma crise também identitária, na qual já dura a séculos contra o povo palestino, Israel toma medidas extremas, no caso a de apoiar novamente uma guerra, com intuito de acabar com a Palestina e tomar seus territórios. Sendo assim, comprova-se ainda mais a tese, de que, quando uma sociedade passa por uma crise, essa toma decisões não habituais, e muitas vezes extremas

Portanto, voltemos as perguntas feitas. Quando se olha oque foi exposto no texto, percebe-se que na história algumas coisas se repetem e de forma muito semelhante, e da maneira que definimos a palavra ''ORDEM'' como : ''um conjunto de elementos que se repete'', podemos dizer que não há resposta para as duas perguntas, visto que, oque está acontecendo nos dias atuais, já aconteceu no passado, ou seja o mundo está apenas seguindo a ordem natural das coisas. De modo objetivo, seria que a o mundo continua em ordem,  e que de certa forma as duas perguntas não tem sentido até o momento desse texto, visto que tudo continua como sempre foi.


Felipe Ferreira Gomes 1 ano -Noturno



Nacionalismo e Ufanismo: extensão do pensamento colonial?

        A obra "O Que é uma Nação?" escrita por Ernest Renan oferece uma análise crucial sobre como a identidade nacional se forma, sugerindo que uma nação vai além de características biológicas ou étnicas, fundamentando-se em uma "vontade coletiva de coexistir" e na partilha de uma memória histórica comum junto a um acordo entre seus membros. Apesar de Renan defender uma concepção abrangente de nação, onde a inclusão não era rigidamente estabelecida por elementos raciais, suas ideias ainda transportam vestígios das influências coloniais.

        Contudo, a noção de uma "nação coesa" muitas vezes implica numa homogeneização da identidade, que tende a excluir ou marginalizar as diversidades internas, especialmente em contextos coloniais. Em nações que surgiram de processos de colonização, como o Brasil, a formação da identidade nacional frequentemente desconsiderou as dinâmicas sociais e raciais complexas, favorecendo uma unidade aparente que camuflava as desigualdades e os conflitos entre os diversos grupos. Assim, embora a contribuição de Renan seja inovadora ao desafiar o essencialismo racial, ela também reflete os conceitos colonialistas de uma nação ideal e "purificada", onde a diversidade frequentemente é reduzida em favor de uma narrativa nacional uniforme

        Acerca disso, termos constantemente estudados e vivenciados, trazem expressões como o nacionalismo e o ufanismo, sendo eles correlacionados, mas que apresentam suas diferenças, principalmente com relação a intensidade pela qual cada um permeia a sociedade. O Nacionalismo caracteriza-se como uma ideologia política que valoriza a identidade, cultura e história de um país, buscando promover sua soberania perante as outras nações. Além disso, pode transparecer de diversas forma em uma sociedade, partindo de um patriotismo moderado até as formas mais radicais. Em outras palavras, pode-se observar essa vertente em contextos como a propagação do movimento “America First” nos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump e o discurso adotado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”

         Por outro lado, o Ufanismo é uma forma extremamente exagerada ou idealizada do nacionalismo. Isso se distingue por um otimismo inflado a respeito das virtudes do país, ressaltando a crença de que a nação é mais distinta ou superior comparada a outras. O ufanismo frequentemente desconsidera ou subestima as dificuldades e deficiências do país, fornecendo uma perspectiva romantizada e muitas vezes ilusória sobre a condição da nação. A exemplificar, a Ditadura Militar Brasileira segue essa vertente, pois utilizou a propaganda para criar uma imagem de um Brasil forte, unido e progressista, frequentemente ignorando ou minimizando as desigualdades sociais, a repressão política e as violações de direitos humanos.

        Seguindo essa ideia, Auguste Comte, filósofo conhecido como “pai do Positivismo”, corrente está que se desprende do conhecimento teológico, elevando o conhecimento cientifico e a metafísica como única verdade, justamente por se basear em técnicas cientificas. Cabe ressaltar que a doutrina de Comte buscava a ordem social, por conta desse fato surgiu o lema positivista: “O amor por principio e a ordem por base; o progresso por fim”. Frase essa que causou grande efeito no Brasil durante o século XIX, sendo adotado na bandeira nacional. Em virtude da influencia de Comte, o lema exposto reflete, principalmente, após a Proclamação da Republica em 1889, onde os republicanos buscavam um Brasil moderno e progressista a partir da identidade nacional forte e autossuficiente.

        Para complementar o entendimento das influencias nacionalistas e ufanistas como prorrogação das raízes coloniais, fatos históricos entram em evidencia ao redor do mundo. Por exemplo, os Kamikazes japoneses, o Brasil Império e a propaganda nazista. No Japão, no período da Segunda Guerra Mundial, o sentimento nacionalista tornou-se evidente por meio do sacrifício extremo dos Kamikazes, que eram vistos como heróis de uma nação sagrada, refletindo um fervor que exaltava a morte pela pátria e a superioridade japonesa. No Brasil durante o Império, esse fervor nacional foi impulsionado pela noção de uma nação idealizada, especialmente dentro de um cenário agrário e monárquico, que tentava encobrir as injustiças sociais e a opressão da escravidão ao promover uma imagem de unidade e grandeza nacional.

        Similarmente, a propaganda nazista na Alemanha utilizava o nacionalismo exagerado para glorificar a "raça ariana" e gerar um clima de intensa devoção patriótica, apresentando a nação alemã como radicalmente superior. Esses casos podem ser interpretados como desdobramentos do pensamento colonial, uma vez que, em todos esses cenários, houve uma tentativa de moldar uma identidade nacional fundamentada na noção de uma nação dominante e invencível. Frequentemente, essa formação identitária ocorria à custa de excluir ou marginalizar realidades sociais e históricas, como as desigualdades raciais, étnicas e de classe.

        Um outro aspecto é o apresentado por Grada Kilomba em sua obra “Memória da Plantação: episódios de racismo cotidiano” que traz uma análise profunda sobre o legado da escravidão e como suas consequências ainda ecoam na atualidade, especialmente por meio do racismo estrutural. Kilomba enfatiza como a lembrança histórica da escravidão continua a influenciar as interações sociais e raciais, sustentando uma hierarquia racial que ainda marginaliza as pessoas negras. O conceito de escravidão moderna está intimamente ligado a essa situação, pois, embora a escravidão tenha sido encerrada, práticas de exclusão social, discriminação e exploração econômica permanecem afetando as populações negras, particularmente em relação à desigualdade no acesso à educação, ao emprego e à justiça. A obra de Kilomba, portanto, não apenas reexamina o passado, mas também revela como o racismo estrutural se manifesta de maneiras discretas e persistentes na sociedade atual, mantendo viva a opressão e a exclusão, mesmo no contexto pós-abolição.

Por fim, o nacionalismo e o ufanismo, ao buscarem reforçar a identidade nacional, frequentemente se manifestam como desdobramentos do pensamento colonial que ainda afeta a formação de nações pós-coloniais. Assim, ambos os conceitos evidenciam como o legado colonial ainda impacta as narrativas nacionais, muitas vezes de maneira distorcida, ao invés de fomentar um diálogo crítico e reflexivo sobre as desigualdades históricas.

Maria Eduarda Siqueira Alves dos Santos - 1° ano - Direito - Matutino 

O Caos Invisível: Negacionismo e a Desordem que Ameaçam Nosso Futuro

   O conceito de "fim do mundo" tem sido explorado de diversas formas ao longo da história. De uma perspectiva apocalíptica, é fácil se deixar levar pela sensação de que a humanidade está caminhando para um colapso irreversível, especialmente quando olhamos para as crises globais que enfrentamos hoje: o agravamento da mudança climática, as falhas no controle de pandemias, a ascensão de movimentos negacionistas e a erosão das instituições democráticas. Mas, ao refletirmos sobre o tema, surge uma pergunta crucial: estamos de fato no fim do mundo, ou é o mundo que está simplesmente fora de ordem? Essa questão nos leva a repensar o papel das forças humanas que, mais do que causar o fim, são responsáveis por desorganizar as estruturas que sustentam a convivência pacífica e a estabilidade global.

O negacionismo climático é um dos principais agentes de destruição da ordem no mundo atual. A ciência é clara: o planeta está aquecendo, os ecossistemas estão sendo devastados e os desastres naturais, como furacões, incêndios e secas, estão se tornando mais frequentes. No entanto, figuras políticas e ideológicas, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, durante seu mandato, e outros líderes ao redor do mundo, negaram os fatos e o consenso científico sobre a mudança climática. Isso não apenas impede que medidas eficazes sejam tomadas, mas também cria um ambiente de desinformação, onde as soluções para problemas ambientais urgentes são adiadas ou ignoradas. O negacionismo climático, portanto, pode ser visto como um reflexo de um mundo fora de ordem — não porque a natureza esteja prestes a "terminar", mas porque a ordem política e social, ao se distanciar da verdade científica, se torna incapaz de resolver uma crise iminente. O mundo não está acabado, mas está desorganizado pela recusa em lidar com as evidências e as necessidades globais.

Outro exemplo de um mundo fora de ordem é a crise sanitária global que a pandemia de COVID-19 revelou. O coronavírus causou uma pandemia mundial que expôs a fragilidade das nossas instituições e a polarização social em torno de medidas de saúde pública. A resposta global à crise foi marcada por desinformação, resistência a medidas como o uso de máscaras e vacinação, e a disseminação de teorias da conspiração. A negação da gravidade da pandemia, alimentada por líderes políticos como o ex-presidente Jair Bolsonaro, não apenas prolongou a crise, mas também aprofundou divisões dentro das sociedades. Nesse contexto, a ideia de que o mundo está "acabando" surge de uma falha nas estruturas de governança e de confiança pública. Quando o conhecimento científico é descartado e as políticas públicas são enfraquecidas por disputas ideológicas, não é o mundo em si que entra em colapso, mas a ordem das instituições que deveriam garantir a proteção e o bem-estar da população. O fim do mundo não é físico, mas institucional, um reflexo da incapacidade de organizar respostas eficazes diante de crises globais.

Além dos desafios ambientais e de saúde, o negacionismo também se manifesta em uma rejeição da história e dos avanços sociais conquistados ao longo dos séculos. O revisionismo histórico, que busca apagar ou distorcer eventos como o Holocausto ou a escravidão, é uma expressão clara de como o mundo está fora de ordem. Esses movimentos não buscam apenas apagar o passado, mas também enfraquecer os direitos conquistados por minorias e grupos historicamente oprimidos. A ideia de que estamos em um "fim do mundo" se fortalece quando as conquistas sociais — como os direitos civis, os direitos das mulheres, e os direitos LGBTQIA+ — são desafiadas por forças políticas que desejam reverter esses avanços.

Nesse cenário, a ordem que deveria existir em torno dos direitos humanos e da justiça social está sendo destruída, criando um ambiente de insegurança e medo. A negação do progresso social, alimentada por discursos extremistas e polarizadores, coloca em risco as bases das sociedades democráticas, levando a uma sensação de que a civilização está à beira de um retrocesso irreversível. Mais uma vez, o mundo não está chegando ao fim, mas a ordem social e política está sendo desmantelada por aqueles que buscam minar os princípios de igualdade e dignidade humana.

Ademais, o negacionismo político e a desinformação estão desafiando as bases das democracias em vários países. No caso dos Estados Unidos, a recusa de Donald Trump e de seus apoiadores em aceitar os resultados das eleições de 2020 resultou em um ataque ao Capitólio, um episódio que expôs a fragilidade do sistema democrático americano. Em outros países, como o Brasil, movimentos políticos negacionistas questionam a legitimidade do sistema eleitoral e buscam enfraquecer as instituições que sustentam a democracia. Esses ataques às democracias não são, na verdade, um sinal de que o "mundo está acabando", mas de que a ordem política está sendo corroída. A rejeição ao Estado de direito, ao processo eleitoral e à independência dos tribunais indica uma desordem dentro das próprias estruturas governamentais, minando a confiança nas instituições e criando um clima de polarização e violência.

Diante de todos esses fatores — negacionismo climático, falhas nas respostas a crises sanitárias, distorção da história e da política — a questão central não é se estamos no fim do mundo, mas se a ordem está sendo desfeita de dentro para fora. O mundo continua a existir, mas a ordem que deveria garantir a paz, a justiça e a sustentabilidade está sendo desmontada por forças que se recusam a aceitar a realidade. O negacionismo, seja ambiental, sanitário, político ou histórico, é um sintoma dessa desordem, e não o fator que causa o fim do mundo em si.

A grande questão é: como responder a esse caos crescente? Será que podemos restaurar a ordem nas nossas instituições e políticas públicas, ou continuaremos a trilhar um caminho de destruição, negando as evidências e alimentando um ciclo de crises irreversíveis? O mundo não está acabando, mas a ordem, essa sim, está fora de controle. E cabe a nós decidir se conseguiremos restaurá-la antes que os danos se tornem irreparáveis.


Laura Gomes Valente - 1º ano Direito Matutino

O uso transgressivo do batom contra o positivismo nazista

O positivismo, vertente filosófica que surgiu do cientificismo europeu, desempenhou um importante papel no desenvolvimento do nazismo, influenciando seus ideais nacionalistas e autoritários. De tal maneira, as virtudes femininas exaltadas nas propagandas conservadoras eram aquelas relacionadas à maternidade, simplicidade, submissão e utilidade. Mulheres precisavam ser úteis. Para essa vertente política, técnica era o maior bem de uma nação, junto à praticidade.

O partido nacional socialista exigia que mulheres evitassem a maquiagem, porque a vaidade não devia ser uma característica da mãe exemplar: a camponesa trabalhadora que sacrifica sua identidade pessoal em prol da família e nação. Sendo assim, o batom, especialmente o vermelho, que evocava sensualidade e independência, era visto como uma transgressão dos valores impostos.

Subsequente, mulheres de países que se opunham aos regimes do eixo, ao notarem tal doutrina nazista, iniciam um movimento simbólico e transgressivo – o uso do batom vermelho. A maquiagem rompe com os valores positivistas patriarcais, e é um protesto sutil contra o controle de corpos femininos, contra o autoritarismo e concentração de poder.

Pessoas que gestam não devem ter seus corpos escravizados pelo bem da suposta ordem e progresso. O positivismo deseja que o útero seja subordinado do governo, mesmo que isso signifique opressão e sacrifício. Por isso, mulheres continuam a usar maquiagem como forma de arte em uma sociedade que muitas vezes a repudia.

- Letícia Mayumi Sato Prado.

(obs: não consigo analisar a quantidade de linhas pois uso o blogger em sua versão mobile)

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?

             Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?

     Se alguém fosse instado a descrever e definir a noção de ordem, a imaginação, de imediato, evocaria um cenário de equilíbrio e harmonia, no qual o poder se exerce de maneira equânime e legítima, assegurando o pleno funcionamento do tecido social. A palavra "ordem", tão amplamente discutida e, em certa medida, enaltecida em todo o mundo, encontra-se, inclusive, escrita na bandeira nacional do Brasil, enfatizando seu caráter de base para a estrutura e os princípios da nação. Contudo, ao se proceder a uma análise crítica da veracidade do ideal de "ordem e progresso" no contexto da federação e da conjuntura global, seria possível, de fato, afirmar que essa ordem se concretiza na realidade contemporânea? A configuração hodierna da ordem integra, de maneira efetiva, a sociedade, ou se revela um conceito meramente utópico, distanciado da realidade concreta do mundo?

     Ao observar os inegáveis avanços que se verificam cotidianamente no domínio da tecnologia, nos progressos da medicina e nas curas alternativas, no desenvolvimento de vacinas e nas iniciativas que promovem a inclusão de minorias nos espaços acadêmicos, laborais e na esfera social mais ampla, pode-se inferir que a ordem encontra-se estabelecida e consolidada no presente contexto. Sob essa perspectiva conclui-se que o exercício do poder manifesta-se de forma eficiente e, em grande medida, eficaz.

     Entretanto, ao analisar as mazelas sociais, os inúmeros conflitos bélicos — como o persistente embate entre Palestina e Israel —, os elevados índices de analfabetismo, a insegurança alimentar e o alarmante número de indivíduos em situação de vulnerabilidade extrema, a conclusão poderia ser completamente oposta: a esse ponto, a própria existência de ordem se tornaria questionável. Como sustentar a noção de ordem quando, diariamente, milhares de pessoas são assassinadas em razão de sua cor de pele, de sua identidade de gênero, de sua filiação religiosa ou, até mesmo, pelo simples fato de serem mulheres? É assustador constatar que preconceitos, supostamente extinguidos do corpo social, persistem de maneira incessante e, por vezes, recrudescem.

     Diante dessa realidade, a indagação que inaugura o presente excerto revela-se uma incógnita cuja resposta se molda conforme as lentes pelas quais se observa o mundo. A depender do prisma adotado, as respostas podem se revelar totalmente antagônicas. Sem que se considere a influência das convicções individuais, do meio sociocultural em que o sujeito está inserido e de suas crenças pessoais, a questão levantada dificilmente encontraria uma resposta definitiva.




Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo? - Texto Palestra "Estamos no fim do mundo?"

O “Humanitismo”, filosofia desenvolvida por Machado de Assis no livro "Quincas Borba", possui como máxima: “Ao vencedor, as batatas. Ao perdedor, o ódio ou a compaixão”. Tal princípio, além de exemplificar a obra, é uma dura crítica do autor à organização social que se perpetua até hoje: a instauração de uma competição constante entre os indivíduos, na qual os perdedores são excluídos e subjugados e os vencedores, como forma de realçar sua vitória, ganham prêmios como forma de se vangloriarem. É possível observar que tal premissa perfura o âmbito ficcional e se aplica também a realidade, uma vez que possuímos um mundo completamente desigual, vivendo uma disputa acirrada a todo tempo, permeado de desigualdade e caos. Todas essas características são advindas do sistema socioeconômico vigente: o capitalismo.

Com a sua consolidação no século XVIII, a partir Revolução Industrial, esse modo de gerir o mundo causou diversos problemas, calcificando a desigualdade social, os desastres naturais, as péssimas condições de trabalho, crises políticas e territoriais. Contudo, na contemporaneidade tais problemas se agravaram e, como uma forma de não mostrar as fragilidades desse sistema regido pelo capital, os indivíduos compram a ideia vendida de que o mundo está acabando e não há nada a ser feito.

Na política internacional, observamos a ascensão frequente da extrema direita em diversas potências mundiais. Nos Estados Unidos, o atual presidente Donald Trump ameaça constantemente os estudantes e as universidade, instaurando o desespero ao emitir a ordens de deportação de estudantes estrangeiros que não concordem com sua ideologia, como foi o caso de uma estudante turca, a qual foi abordada por homens mascarados e levada presa por ter defendido a Palestina em uma manifestação. Além disso, o presidente emitiu a proibição de quase 200 palavras, censurou trabalhos acadêmicos e fechou o Departamento de Educação com a justificativa de corte de gastos. Tais atos criam um ambiente angustiante não só nacional, mas mundial, e de muitas incertezas para que os indivíduos, que já sentem-se desesperançosos, acreditem que, de fato, o fim do mundo está próximo.

Ademais, segundo um estudo realizado na Alemanha e publicado na revista "Nature Climate Change", há a comprovação que o aumento de 1,6° do planeta pode ser um sinal de um mundo permanentemente mais quente e com a presença de diversos desastres climáticos, como enchentes, aumento da seca, tempestades mais fortes e frequentes, furacões, tornados dentre outras adversidades climáticas. Contudo, os cientistas afirmam que “se a humanidade agir rápido e reduzir drasticamente suas emissões, é possível manter o aquecimento de fato em 1,5°C ou pelo menos limitá-lo a 2°C”. Logo, nem tudo está perdido e o mundo pode "não acabar" se as medidas corretas forem tomadas.

Fato é que o capitalismo, como um modelo de gerir a economia e a sociedade, fracassou e devemos urgentemente lutar contra a falácia que o mundo está acabando, já que essa é a maneira mais fácil de alienar uma população desigual e sucumbida à pobreza extrema. Sendo assim, é nosso dever dar o passo inicial para o fim da competição e da espetacularização dos indivíduos – tanto dos vencedores que levaram as batatas, quanto dos perdedores que receberam o ódio – porque, no final, todos nós estamos juntos usando da esperança, da política, da sociologia e da educação pública como armas para promover o fim de um mundo baseado na competição e o surgimento de um mundo melhor.

"Para mim, é impossível existir sem sonho. A vida na sua totalidade me ensinou como grande lição que é impossível assumi-la sem risco" - Paulo Freire


Geovana Martins de Mori - 1° Ano - Direito Matutino