Analisando,
a partir de uma perspectiva aprofundada e contemporânea, a célebre expressão
imperativa “Proletários de todos os países, uni-vos”, resumidora das propostas
sociais apresentadas por Marx e Engels em seu “Manifesto Comunista”, percebe-se
que a mesma não se trata somente de um apelo para que as massas trabalhadoras se
engajem em busca da promoção de uma sociedade mais justa, mas parte da
percepção de que essa mobilização perpassa um elemento fundamental e caro à
realidade hodierna: a conscientização da população quanto a sua condição de
dominada, em meio ao controle da vida social pelas classes dominantes. Tal
dominação, na visão marxista, se expressa através da imposição, pelas classes
sociais no centro do poder, de modelos de conduta e ideais que se generalizam
na sociedade e induzem a uma falsa percepção de autonomia do indivíduo na
escolha de seus próprios valores e representações. Desse modo, para a análise
dessa conjuntura de controle social, se faz pertinente ponderar os elementos
que constituem as suas raízes socioeconômicas e o modo como ela se manifesta na
realidade contemporânea.
É válido demonstrar, inicialmente, como a dominação
das massas se relaciona diretamente às relações de produção na sociedade. Nesse
sentido, Marx estabelece como fundamento básico e central para a percepção dos
elementos que caracterizam um corpo social, as condições materiais de sua
existência, no sentido de que o modo como os indivíduos se relacionam
economicamente, de modo a suprir as suas necessidades materiais, é determinante
para definição de sua conduta e de seus valores. Sob essa perspectiva, tal
concepção materialista pode ser usada para compreender como se estabelecem as
relações de poder na sociedade atual, uma vez que o capitalismo, como principal
modelo econômico vigente, estrutura o corpo social a partir de uma lógica
socioeconômica intensamente desigual, determinando os grupos sociais que
ocuparão as posições centrais de prestígio na sociedade, os quais imporão os
seus interesses sobre os demais. Por sua vez, as instituições estatais, como
representações do poder das elites, atuam de modo a institucionalizar tais
interesse, contribuindo não só para a generalização das visões de mundo da
burguesia, ao que Marx denomina “ideologia”, como também para a manutenção
dessa conjuntura de dominação e exploração.
Ademais,
convém evidenciar como no contexto atual se manifesta tal estrutura de
dominação. Nessa perspectiva, tomando por base as relações laborais hodiernas,
o mercado se impõe cada vez mais como uma força imperativa que molda o modo
como o trabalho se estabelece e, logo, acaba influenciando em todos os aspectos
da vida social. Essa influência do mercado no âmbito das esferas coletivas e
particulares fica clara no livro “A Corrosão do Caráter”, do sociólogo Richard
Sennett, no qual o autor discorre, através da análise de casos concretos, a
maneira como o caráter dinâmico e fugaz do capitalismo contemporâneo resulta
não só em uma completa inseguridade social, devido à rapidez como as demandas
do mercado se estabelecem e influenciam na garantia do emprego, como também
fomenta a liquidez das relações sociais, a partir do apagamento do sentimento
coletivo, em prol da produtividade econômica individual. Os atuais níveis de
desemprego, pessoas em trabalhos informais, pobreza e casos de ansiedade e
depressão são exemplos que evidenciam essa dominância do mercado sobre as
relações socioeconômicas.
Em suma,
as atuais estruturas de controle e determinação se estabelecem a partir da
influência das relações de produção sobre a conjuntura social e produzem
reflexos ainda no contexto contemporâneo. Observa-se, logo, como os sentidos que
se inserem na expressão de Marx e Engels inicialmente citada se constituem importantes
preceitos atemporais, visto que se associam diretamente a essa realidade,
atentando para a necessidade contínua de emancipação das massas populares em
meio à hegemonia das classes dominantes.
Eduardo Garcia da Silva
RA: 231220324
1º Ano – Direito Noturno
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